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Neve misteriosamente profunda cobre a lua de gelo Encélado, mas como ela chegou lá?

Traduzido por Julio Batista
Original de Mike McRae para o ScienceAlert

O país das maravilhas invernal que orbita Saturno, Encélado, pode estar no meio de um período de relativa seca, de acordo com novas medidas sobre a espessura de seus montes de neve por uma equipe de pesquisadores de todos os EUA.

Cálculos baseados nos tamanhos de uma série de depressões chamadas cadeias tectônicas sugerem que os depósitos de partículas de gelo que caem dos gêiseres polares podem ter até 700 metros de profundidade em alguns lugares, algo que as erupções atuais não podem explicar.

As descobertas podem significar que a lua congelada teve momentos muito mais ativos em seu passado, de acordo com um novo estudo liderado pela física Emily Martin, do Museu Nacional do Ar e do Espaço.

Apesar de ter apenas 500 quilômetros de diâmetro, Encélado é a joia brilhante na coroa congelada de Saturno. A lua não só está coberta por uma camada de gelo altamente reflexiva, como também abriga um oceano profundo e líquido de água salgada, implorando para ser explorado em busca de sinais de vida.

Graças a um cabo de guerra regular entre Saturno e a lua mais distante Dione, a camada congelada de Encélado é regularmente massageada por forças de maré, a ponto de rachaduras se formarem nas regiões mais finas da crosta pelo polo sul da lua.

A água líquida pressurizada abre caminho para essas rachaduras, onde se expande e vaporiza, explodindo em uma nevasca supersônica de partículas congeladas no vácuo.

Uma parte desses aerossóis oceânicos congelados cai em órbita ao redor de Saturno, contribuindo para seus gloriosos anéis. Partículas mais pesadas caem de volta na superfície da lua, acumulando-se no que os cientistas planetários classificam como uma forma de regolito.

Em 2017, pesquisadores americanos publicaram imagens de alta resolução da missão Cassini detalhando o que eles argumentaram serem formações geológicas chamadas cadeias de buracos de subsidência que pontilham a superfície de Encélado.

Em outros corpos planetários, incluindo a Terra, essas estruturas semelhantes a crateras podem se formar quando o material da superfície afunda repentinamente em um vazio, como tubos de lava ou sistemas de cavernas cársticas.

A morfologia das cadeias de buracos de subsidências em todo o Sistema Solar. Tradução da imagem: Terra (Earth), Marte (Mars), Vênus (Venus), os asteroides Eros, Ida e Gaspra, o planeta anão Vesta e a lua Fobos (Phobos). (Créditos: Martin et al., Icarus, 2017)

Descartando uma fonte de impactos e uma série de outras atividades geológicas, os cientistas planetários concluíram que os buracos circulares e elípticos – alguns com até um quilômetro de diâmetro – foram formados como fraturas na crosta sob montes movediços de regolito estendidos e alargados.

Convenientemente, a largura e a profundidade dos próprios buracos podem dizer aos pesquisadores algo sobre as propriedades e a formação do regolito que se desintegra neles, incluindo uma aproximação de sua espessura.

Aplicadas às crateras de Encélado, as fórmulas revelaram espessuras médias de neve de cerca de 250 metros, com algumas profundidades chegando a cerca de 700 metros.

Levando em consideração a taxa na qual as plumas de água gelada do oceano poderiam produzir uma quantidade apropriada de neve, uma maneira de Encélado depositar neve suficiente nos últimos bilhões de anos da existência potencial da lua seria se os montes fossem tão macios e poroso possível.

Embora não esteja completamente fora de questão, é mais provável que a neve contenha uma mistura de densidades e porosidades, levando os pesquisadores a sugerir que a taxa de queda de neve deve ter sido ocasionalmente muito maior no passado.

Isso significa que os gêiseres podem ter rugido positivamente em um ponto, ou houve outras plumas expelindo vapor de água congelada na história de Encélado. Se não ambos.

Saber o quão espesso e macio é o pó de neve da lua em locais críticos seria vital para o pouso de sondas em sua superfície no futuro.

Enquanto isso, entender melhor como a atividade criovulcânica evoluiu em Encélado nos dá novas perspectivas sobre um dos corpos mais fascinantes do Sistema Solar.

Esta pesquisa foi publicada na Icarus.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.