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Quase deixamos passar despercebida a maior erupção de vulcão subaquático já detectada

Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert

Ela estava voltando para casa de um feriado em Samoa quando o viu pela janela do avião: uma “massa grande e peculiar” flutuando no oceano, a centenas de quilômetros da costa norte da Nova Zelândia.

A passageira neozelandesa enviou por e-mail fotos da estranha mancha oceânica para cientistas, que perceberam o que era – uma plataforma de rocha flutuante lançada de um vulcão subaquático, produzida na maior erupção desse tipo já registrada.

“Sabíamos que era uma erupção em grande escala, aproximadamente equivalente à maior erupção que vimos em terra no século 20”, disse a vulcanologista Rebecca Carey, da Universidade da Tasmânia, que coliderou a primeira investigação de perto da histórica erupção de 2012 e, juntamente com colegas, finalmente publicou os resultados em um estudo de 2018.

O incidente, produzido por um vulcão subaquático chamado Monte Submarino Havre, inicialmente passou despercebido pelos cientistas, mas a plataforma de rocha flutuante que gerou foi mais difícil de perder.

Topografia de alta resolução do fundo do mar da caldeira do Havre. Créditos: Rebecca Carey / Adam Soule.

Em 2012, a plataforma – composta de pedra-pomes, um tipo de rocha vulcânica muito leve e cheia de ar – cobriu cerca de 400 quilômetros quadrados do sudoeste do Oceano Pacífico, mas meses depois os satélites registraram a dispersão sobre um área duas vezes maior que a própria Nova Zelândia.

Sob a superfície, a escala da dispersão rochosa surpreendeu os cientistas quando inspecionaram o local em 2015, em profundidades de até 1.220 metros.

“Quando olhamos os mapas detalhados do AUV [veículo autônomo subaquático, na sigla em inglês], vimos todas essas saliências no fundo do mar e pensei que o sonar do veículo estava com defeito”, disse o vulcanologista Adam Soule, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (WHOI, na sigla em inglês). “Acontece que cada protuberância era um bloco gigante de pedra-pomes, alguns deles do tamanho de uma van. Eu nunca tinha visto nada parecido no fundo do mar”.

A investigação – conduzida com o AUV Sentry e o veículo operado remotamente (ROV, na sigla em inglês) Jason – revela que a erupção do Monte Submarino Havre foi mais complexa do que qualquer um jamais conheceu.

A caldeira, que se estende por quase 4,5 quilômetros, jorrou lava de cerca de 14 aberturas em uma “ruptura maciça da estrutura vulcânica”, produzindo não apenas pedra-pomes, mas cinzas, domos de lava e fluxos de lava do fundo do mar.

Pode ter acontecido (felizmente) sob um oceano de água, mas para uma noção de escala, pense em algo cerca de 1,5 vezes maior do que a erupção do Monte Santa Helena em 1980 – ou 10 vezes o tamanho da erupção do Eyjafjallajökull de 2010 na Islândia.

Os pesquisadores afirmam que, do material que entrou em erupção, três quartos ou mais flutuaram para a superfície e se dispersaram – toneladas dele chegando à costa a um oceano de distância.

O resto foi espalhado pelo fundo do mar próximo, trazendo devastação para as comunidades biológicas que o chamavam de casa e só agora estão se recuperando.

“O registro desta erupção no próprio vulcão Havre está longe de ser um retrato altamente fiel”, disse Carey. “Ele preserva um pequeno componente do que foi realmente produzido, o que é importante para a forma como interpretamos as antigas sucessões vulcânicas submarinas que agora são elevadas e são altamente prospectivas para metais e minerais”.

Com as amostras coletadas pelos veículos submersíveis produzindo o que os cientistas dizem que pode equivaler a uma década de pesquisa, é uma oportunidade enorme e rara de estudar o que acontece quando um vulcão entra em erupção no fundo do mar – um fenômeno que na verdade é responsável por mais de 70 por cento do todo vulcanismo na Terra, mesmo que seja um pouco mais difícil de detectar.

“As erupções subaquáticas são fundamentalmente diferentes daquelas em terra”, observou um integrante da equipe, o geofísico Michael Manga, da Universidade da Califórnia de Berkeley. “Não há algo equivalente em terra”.

Os resultados foram relatados na Science Advances.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.