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Nova análise não encontra sinais de vida em Vênus após alegações controversas

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Uma análise nova e completa da química das nuvens em Vênus não revelou nenhuma das bioassinaturas indicativas de vida metabolizadora de enxofre no ar.

Por enquanto, isso significa que a questão da vida detectável nas nuvens de Vênus está praticamente respondida. Até obtermos novas informações, é provável que continue assim. A química complexa da atmosfera superior venusiana simplesmente não pode ser explicada pela presença da vida como a conhecemos.

Depois que uma equipe de cientistas anunciou controversamente que havia encontrado gás fosfina nas nuvens de Vênus em 2020, a especulação sobre a vida nas nuvens de Vênus em altitudes temperadas virou a bola da vez.

Mas a ideia não é nova; de fato, o biofísico Harold Morowitz e o astrônomo Carl Sagan propuseram a ideia há mais de 50 anos, em 1967.

Mais recentemente, os cientistas propuseram que a química do planeta poderia conter pistas – e que a vida nas nuvens de Vênus pode ter desenvolvido metabolismo à base de enxofre, semelhante ao que vimos em microorganismos aqui na Terra. A assinatura de um composto de enxofre, o dióxido de enxofre (SO2), é muito peculiar em Vênus: abundante em altitudes mais baixas, mas muito baixo em altitudes mais elevadas.

“Passamos os últimos dois anos tentando explicar a estranha química do enxofre que vemos nas nuvens de Vênus”, disse o astrônomo e químico Paul Rimmer, da Universidade de Cambridge.

“A vida está muito imbuída em química complexa, então estamos estudando se há uma maneira de tornar a vida uma explicação potencial para o que vemos.”

Por mais que seja imbuída em química complexa, a vida como a conhecemos não é muito boa em esconder sua existência, a menos que seja no subsolo ou em uma caverna ou algo assim.

Os processos biológicos extraem elementos de seu ambiente e expelem diferentes elementos para ele. A respiração é um bom exemplo: nós humanos inspiramos oxigênio e expiramos dióxido de carbono. (As árvores absorvem dióxido de carbono e expelem oxigênio – é um bom sistema.)

A química de Vênus é muito diferente da química da Terra, com uma atmosfera extremamente rica em enxofre – atinge concentrações 100.000 vezes maiores do que as da atmosfera terrestre, ligadas a compostos como dióxido de enxofre, ácido sulfúrico e sulfeto de carbonila.

Assim, no novo estudo, uma equipe de pesquisadores liderada pelo astrônomo Sean Jordan, da Universidade de Cambridge, começou a investigar as reações químicas que devemos esperar, dadas as fontes de energia disponíveis na atmosfera de Vênus.

“Nós analisamos o ‘alimento’ à base de enxofre disponível na atmosfera venusiana – não é algo que você ou eu gostaríamos de comer, mas é a principal fonte de energia disponível”, disse Jordan.

“Se esse alimento está sendo consumido pela vida, devemos ver evidências disso através da perda e ganho de produtos químicos específicos na atmosfera”.

A estranha assinatura de dióxido de enxofre era de particular interesse. Aqui na Terra, o composto é produzido vulcanicamente, e é possível que também seja produzido dessa maneira em Vênus.

No entanto, se organismos com metabolismo baseado em enxofre estivessem vivendo na atmosfera superior de Vênus, eles poderiam ser responsáveis ​​pela peculiar falta de dióxido de enxofre nessas altitudes.

Os cientistas já propuseram metabolismos baseados em enxofre que poderiam teoricamente utilizar as espécies químicas disponíveis na atmosfera de Vênus.

Usando isso como base, Jordan e seus colegas procuraram modelar as reações químicas que ocorreriam se essas formas de vida estivessem presentes, para ver se elas produzem a composição observada da atmosfera venusiana.

Eles descobriram que a vida metabolizadora de enxofre poderia produzir o esgotamento observado de dióxido de enxofre; mas a saída dos processos metabólicos de uma biomassa do tamanho necessário produziria outros compostos em abundância que, em resumo, simplesmente não existem.

“Se a vida fosse responsável pelos níveis de SO2 que vemos em Vênus, também quebraria tudo o que sabemos sobre a química atmosférica de Vênus”, disse Jordan.

“Queríamos que a vida fosse uma explicação potencial, mas quando executamos os modelos, não é uma solução viável. Mas se a vida não é responsável pelo que vemos em Vênus, ainda é um problema a ser resolvido – há muitos química estranha para acompanhar e desvendar.”

Ainda não sabemos como ou por que o dióxido de enxofre é sugado da atmosfera superior de Vênus, então essa continua sendo uma questão em aberto. Também é possível que exista uma biosfera com um metabolismo desconhecido, que não saberemos até que uma sonda vá até lá para verificar. Então isso é emocionante.

Enquanto isso, disse a equipe, sua pesquisa oferece uma estrutura que pode ajudar a simular o efeito de uma biosfera aérea em mundos alienígenas e, assim, procurar vida nas atmosferas de exoplanetas. Dado que as atmosferas de exoplanetas são o melhor lugar para sondar sinais de vida, isso é realmente muito bacana.

“Mesmo que ‘nosso’ Vênus esteja morto, é possível que planetas semelhantes a Vênus em outros sistemas possam hospedar vida”, disse Rimmer.

“Podemos pegar o que aprendemos aqui e aplicar a sistemas exoplanetários – este é apenas o começo.”

A pesquisa foi publicada na Nature Communications.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.