Traduzido por Julio Batista
Original de Clare Watson para o ScienceAlert
O asteroide que atingiu a Terra há 66 milhões de anos transformou a vida neste planeta aquoso, dizimando os dinossauros e inaugurando uma nova era na biologia.
O asteroide também criou um tsunami monstruoso milhares de vezes maior do que qualquer onda já testemunhada na existência da humanidade, de acordo com uma nova pesquisa.
O asteroide de Chicxulub, como é agora conhecido, veio dos confins do Sistema Solar, colidindo com o mar raso perto da Península de Iucatã, no atual México.
O ‘respingo’ do impacto por si só foi poderoso o suficiente para deixar uma marca na face do planeta. Em 2021, os pesquisadores descobriram que suas ondas haviam esculpido ‘mega ondulações’ na crosta terrestre abaixo do que hoje é o centro da Louisiana, EUA.
Agora, um novo estudo, liderado pela paleoceanógrafa Molly Range, da Universidade de Michigan, EUA, sugere que o asteroide de Chicxulub gerou um tsunami tão enérgico que varreu o fundo do mar e erodiu sedimentos a meio mundo de distância. Ele também supera todos os tsunamis registrados na história, em energia e tamanho.
A equipe modelou os primeiros 10 minutos após o impacto e os subsequentes efeitos de ondulação nos oceanos do mundo naquela que é a primeira simulação global do tsunami gerado pelo asteroide de Chicxulub.
Simulações de refinamento apresentadas pela primeira vez em uma conferência de ciências da terra em 2018, a modelagem mostrou que o asteroide gerou ondas até 30.000 vezes mais energéticas do que o tsunami do Oceano Índico que atingiu a Indonésia em 2004, um dos maiores tsunamis já registrados.
A explosão inicial do impacto de Chicxulub deslocou tanta água que gerou uma onda de aproximadamente 1,5 km de altura. Todo esse espaço não permaneceu vazio por muito tempo, com o oceano jorrando de volta para preencher a cratera aberta, apenas para ricochetear em sua borda e criar ainda mais ondas.
A partir daí, as ondas do tsunami com mais de 10 metros de altura viajaram pelo oceano profundo a 1 metro por segundo para atingir as costas ao redor do mundo.
“Este tsunami foi forte o suficiente para perturbar e corroer sedimentos em bacias oceânicas do outro lado do globo, deixando uma lacuna nos registros sedimentares ou uma confusão entre sedimentos mais antigos”, disse Range.
As ondas maiores e mais rápidas foram geradas perto do ponto de impacto nas águas abertas do Golfo do México, subindo mais de 100 metros de altura e movendo-se a mais de 100 metros por segundo.
Terremotos e deslizamentos de terra submarinos nesta região também podem ter contribuído para a formação de tsunamis, acrescentaram os pesquisadores.
Você pensaria que um evento tão calamitoso deixaria cicatrizes por toda a Terra, mas os cientistas só podem trabalhar com o que conseguem encontrar.
Agora, sabendo como o tsunami se espalhou pelo mundo, os cientistas podem obter detalhes de sedimentos em locais distantes da cratera de Chicxulub, na Península de Iucatã, para detectar mais vestígios do tsunami.
Isso é importante à luz das montanhas de pesquisa necessárias para ajudar a esclarecer a teoria da extinção por impacto que descreve como a biodiversidade dos dinossauros diminuiu.
O estudo já fornece uma nova perspectiva sobre uma parte cataclísmica da história da Terra.
Para gerar os números assustadores de energia, altura e alcance do tsunami, os pesquisadores usaram dados de batimetria estimando onde o fundo do mar estava há cerca de 66 milhões de anos. Embora a resolução grosseira dos modelos não pudesse capturar as linhas costeiras dos continentes antigos, havia poucas dúvidas sobre o quão impressionante as ondas teriam sido.
“Dependendo da geometria da costa e do avanço das ondas, a maioria das regiões costeiras seria inundada e erodida até certo ponto”, supõem os pesquisadores.
“Qualquer tsunami historicamente documentado empalidece em comparação com tal impacto global.”
Eles também mostraram que em muitos locais no caminho do tsunami, os limites geológicos que os cientistas agora usam para definir o evento de extinção dos dinossauros foram perturbados pelas ondas fortes.
As amostras do núcleo tinham lacunas, quedas e truncamentos nas seções rochosas – que, em alguns casos, os geólogos confundiram com a atividade tectônica local que ocorreu em uma data posterior.
A maior perturbação geológica foi encontrada no Atlântico Norte e no Pacífico Sul, onde as ondas do tsunami se moveram a mais de 20 centímetros por segundo.
“A confirmação mais reveladora do significado global do tsunami de impacto são as seções altamente perturbadas e incompletas nas costas orientais das ilhas do Norte e do Sul da Nova Zelândia”, escreveram Range e seus colegas.
“Esses locais estão diretamente no caminho da propagação do tsunami, a mais de 12.000 quilômetros de distância do local do impacto.”
Em sua próxima fase de trabalho, os pesquisadores planejam observar como o asteroide de Chicxulub pode ter causado uma sequência de tsunamis em todo o mundo, impulsionados por enormes ondas de choque atmosféricas.
Após a erupção vulcânica de Tonga no início deste ano, os cientistas perceberam o quão poderosas essas ondas de pressão de ar poderiam ser, gerando ondas de até um metro de altura em algumas partes do Oceano Pacífico.
O estudo foi publicado na AGU Advances.