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O aumento das águas subterrâneas ameaça espalhar poluentes tóxicos nas costas dos EUA

O local da Halaco Engineering Company, em Oxnard, Califórnia, é um dos centenas de locais do Superfund nas costas dos Estados Unidos, onde o aumento das águas subterrâneas pode espalhar a poluição para as comunidades próximas – Foto: Reprodução / Steve Osman / Los Angeles Times via Getty Images

Traduzido por Carlos Germano
Original de Nikk Ogasa para a Science News

Fluxos ocultos de água estão prestes a liberar contaminação tóxica nas comunidades costeiras dos EUA.

O aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas não forçarão apenas o recuo das linhas costeiras – nas áreas interiores, ele elevará as águas subterrâneas para solos mais rasos. O aumento da água pode aparecer em centenas de locais do Superfund dos EUA – locais poluídos e identificados pela Agência de Proteção Ambiental para limpeza – alertam os pesquisadores em um estudo publicado no ESS Open Archive.

Esses locais – e milhares de outras áreas poluídas – podem liberar metais pesados, elementos radioativos, pesticidas e produtos químicos industriais associados a problemas de saúde humana. Comunidades de baixa renda seriam afetadas de forma desproporcional.

“O número de locais do Superfund onde esses contaminantes perigosos podem ser liberados é surpreendente”, diz o geólogo costeiro Patrick Barnard do US Geological Survey, em Santa Cruz, Califórnia, que não esteve envolvido no estudo. Muitas das áreas poluídas foram administradas sem levar em consideração o aumento do lençol freático, diz ele. “Precisamos pensar no que o futuro reserva para esses locais.”

A ligação entre as alterações climáticas, o mar e as águas subterrâneas pode não ser óbvia, mas é íntima. Na praia, a água do mar pode infiltrar-se no solo e deslocar-se para o interior, permeando as camadas de terra sob as comunidades costeiras.

Enquanto isso, a chuva e o escoamento também podem escorrer de cima. No solo, essa água doce geralmente fica sobre a água salgada mais densa do mar. E quando o nível do mar sobe devido à mudança climática, ele empurra toda essa água subterrânea através da terra.

À medida que o topo das águas subterrâneas – o lençol freático – se aproxima da superfície, pode danificar a infraestrutura humana. Também pode espalhar substâncias perigosas no solo, expondo pessoas e ecossistemas próximos.

A geóloga Kristina Hill encontrou motivação para o estudo enquanto investigava as condições das águas subterrâneas em um antigo local do Superfund, na área da baía de São Francisco. Lá, as águas subterrâneas estavam em contato com os poluentes do solo. “Comecei a me perguntar, qual é a escala desse problema?” diz Hill, da Universidade da Califórnia, Berkeley.

Ela e seus colegas identificaram quais dos cerca de 1.300 locais do Superfund dos EUA estão em áreas costeiras baixas – não mais do que 10 metros acima do nível médio do mar – onde o aumento do lençol freático poderia se infiltrar.

Eles descobriram que se a superfície do mar subisse um metro – uma possibilidade até 2100 – as águas subterrâneas poderiam subir para solos contaminados em 326 locais. Nova Jersey e Flórida, respectivamente, continham os locais do Superfund com maior risco – 54 e 51, nesta ordem.

Nem todo local poluído nos Estados Unidos é um Superfund, mas isso não os torna menos perigosos, diz Hill. Sua equipe avaliou esse impacto potencial com um estudo de caso apenas na Bay Area. Eles sinalizaram 12 locais do Superfund e quase 5.300 áreas contaminadas. Pode haver milhares de outros locais ao longo de nossas costas, diz Hill.

Os pesquisadores analisaram os dados do Censo dos EUA para investigar quem poderia enfrentar o maior risco de exposição. Pessoas de comunidades socialmente vulneráveis ​​– aquelas cujas circunstâncias limitam sua capacidade de evitar sofrimento ou perda diante de um desastre – correm um risco desproporcional, afirmaram.

“As descobertas não são surpreendentes”, diz a hidrogeóloga Holly Michael, da Universidade de Delaware, em Newark. Este estudo dá o primeiro passo para abordar o perigo, apontando onde poderia surgir, diz ela. Mais pesquisas serão necessárias para avaliar minuciosamente o risco de cada local e determinar os próximos passos, seja tratar solos contaminados ou removê-los completamente.

Segundo Hill, à medida que o oceano invade, ajudar as pessoas a se mudarem para outros locais não será o suficiente, a menos que também limpemos nossa bagunça. “Caso contrário, haverá uma área tóxica que deixaremos para trás e que se espalhará.”

Carlos Germano

Carlos Germano

carlosgermanorf@gmail.com