Com pressões atmosféricas esmagadoras e temperaturas descontroladas, é impossível sobreviver na superfície de Vênus. Mas se você pudesse ficar no planeta por alguns minutos, você veria algum relâmpago? Um novo estudo conclui: provavelmente não.
A pesquisa, realizada por uma equipe da Universidade do Colorado em Boulder, da Universidade de West Virginia, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e da Universidade da Califórnia, em Berkeley, reanalisou sinais emanados do segundo planeta mais próximo do Sol.
Em 1978, quando o Pioneer Venus da NASA entrou em órbita ao redor de Vênus, detectou o que é conhecido como ondas de assobio. Na Terra, estas ondulações eletromagnéticas são normalmente criadas por relâmpagos, levando os investigadores a assumir que as ondas também eram sinais de atividade elétrica em Vênus.
O novo estudo sugere que as versões venusianas podem não ser o que pareciam inicialmente.
“Tem havido debate sobre relâmpagos em Vênus há quase 40 anos”, diz a física magnetosférica e autora principal Harriet George, da Universidade do Colorado em Boulder. “Esperamos que, com os nossos dados recentemente disponíveis, possamos ajudar a conciliar esse debate”.
As ondas de assobio são ondas eletromagnéticas de frequência muito baixa (VLF), assim chamadas devido à forma como “assobiam” quando ouvidas pelos operadores de rádio. Eles são criados pela colisão de elétrons na atmosfera – normalmente acionados por raios.
Este último estudo utilizou dados recolhidos em 2021 por outra nave espacial da NASA, a Parker Solar Probe, a caminho do Sol. Mais uma vez, ondas de assobios foram detectadas, mas algo estava errado: as ondas estavam indo na direção errada.
Em vez de serem lançadas para o espaço, como acontece com as tempestades elétricas, essas ondas sibilantes desciam em direção à superfície do planeta. Isso sugere que os raios não são a principal causa desses sinais elétricos.
“Eles estavam retrocedendo em relação ao que todos imaginavam nos últimos 40 anos”, diz o físico de plasma espacial David Malaspina, da Universidade do Colorado em Boulder.
Isso não quer dizer que não existam relâmpagos em Vénus, mas é pouco provável que existam muitos deles – e as abundantes ondas de assobio que estão a ser captadas pelas naves espaciais que passam parecem ser criadas por outros fenômenos.
O que esses outros processos podem ser não é abordado em profundidade neste estudo, mas os investigadores suspeitam que a reconexão magnética pode desempenhar um papel, onde as linhas do campo magnético em torno de Vênus se torcem, quebram e depois se juntam novamente.
Estudos anteriores argumentaram a favor e contra a existência de relâmpagos venusianos, e o caso ainda não está encerrado. São necessários dados mais detalhados para ter certeza, e a Parker Solar Probe ainda tem outra passagem a fazer, o que dá aos pesquisadores outra oportunidade de observar mais de perto o clima em Vênus.
“É muito raro que novos instrumentos científicos cheguem a Vénus”, diz Malaspina. “Não temos muitas chances de fazer esse tipo de pesquisa interessante.”
Traduzido por Mateus Lynniker de ScienceAlert