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O Megalodonte provavelmente crescia tanto por comer seus irmãos ainda no útero

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

O Megalodonte, a maior espécie de tubarão que já existiu na história da Terra, provavelmente tinha um método um tanto repulsivo para obter uma vantagem inicial na vida.

De acordo com uma nova pesquisa, os filhotes do tubarão Megalodonte (Otodus megalodon) são maiores do que a maioria dos humanos quando nascem. Isso sugere que incubaram no útero e nasceram por meio da gestação – e, como os tubarões modernos que dão à luz a filhotes por meio da gestação, cresceram comendo seus irmãos no útero antes de nascerem.

“Os resultados deste trabalho lançam uma nova luz sobre a história de vida do Megalodonte, não apenas como o Megalodonte cresceu, mas também como seus embriões se desenvolveram, como deram à luz e por quanto tempo poderiam ter vivido”, disse o paleontologista Martin Becker, da Universidade William Paterson (EUA).

Temos muitas evidências de Megalodonte no registro fóssil. Os monstros gigantes viveram de 23 milhões a cerca de 3,6 milhões de anos atrás, dominando o oceano.

E, como os tubarões perdem e crescem dentes continuamente por toda a vida – tendo até 40.000 dentes ao longo da vida – os paleontologistas encontraram muitos dentes de Megalodonte em antigos sítios paleontológicos de fósseis para estudar.

Mas isso é basicamente tudo o que eles encontraram. Esqueletos de tubarão são cartilagem, não osso, então quase tudo que sabemos sobre o Megalodonte foi do estudo de seus dentes gigantes. Por exemplo, com base no tamanho de seus dentes, sabemos que Megalodonte cresceu até cerca de 15 metros de comprimento, com uma mandíbula aberta de até 3,4 metros de altura.

No entanto, embora os dentes constituam a maior parte do registro fóssil de Megalodonte, algumas vértebras também foram recuperadas. E foi a partir de várias dessas vértebras, preservadas no Instituto Real de Ciências Naturais da Bélgica, que os cientistas puderam aprender mais sobre a infância desses animais misteriosos.

À medida que os tubarões crescem, também crescem suas vértebras; essas vértebras crescem em camadas depositadas no que se pensa ser uma base anual, como os anéis das árvores. Assim, a equipe selecionou 15 vértebras consideradas do mesmo tubarão e as submeteu a uma microtomografia computadorizada de raios-X.

A análise anterior dessas vértebras sugeriu que o indivíduo tinha cerca de 9 metros de comprimento quando morreu. A equipe acrescentou a esse conhecimento contando os anéis de crescimento, determinando que o Megalodonte também tinha cerca de 46 anos quando morreu.

Em seguida, eles examinaram mais de perto a maior vértebra, procurando as mudanças de ângulo reveladoras nos anéis de crescimento que ocorrem no nascimento. A partir disso, eles puderam determinar o tamanho da vértebra quando o tubarão nasceu – e, a partir dessa informação, medir o tamanho do tubarão recém-nascido.

Tradução: Anéis vertebrais formados anualmente [= “idade” do taburão] (Annually formed vertebral growth bands [= ‘age’ of shark]); nascimento (birth); death (morte); Espécime IRSNB P 9893 (Specimen IRSNB P 9893). Créditos: Universidade DePaul / Kenshu Shimada.

Eles descobriram que o filho era enorme – cerca de 2 metros de comprimento ao nascer. Esta é possivelmente uma evidência do maior filhote de tubarão que já existiu – mas, o que é mais importante, também sugere que os filhotes de megalodonte nasceram por meio de gestação.

Embora a maioria dos tubarões modernos ponha ovos, alguns dão à luz após um período gestacional. São os Lamniformes, uma ordem que inclui os tubarões-mako (gênero Isurus), os tubarões-raposa (família Alopiidae) e o famoso tubarão-branco (Carcharodon carcharias).

E isso também nos dá algumas pistas sobre a gestação e o nascimento dos tubarões Megalodonte – porque às vezes os lamniformes fetais devoram seus irmãos no útero antes deles nasceram, um comportamento canibal intrauterino.

Filhotes de tubarão que ainda não nasceram foram vistos nadando entre os dois úteros de suas mães para realizar esse canibalismo. Eles então voltam sua atenção voraz para os óvulos não fertilizados de suas mães em uma prática conhecida como oofagia.

Alguns até dão um passo adiante; os filhotes do tubarão-touro (Carcharias taurus) também comem uns aos outros após o nascimento.

Isso, é claro, resulta em menos crias vivas, mas acredita-se que os tubarões que sobrevivem têm uma vantagem maior de sobrevivência, uma vez que nascem maiores e mais fortes do que se fossem apresentados ao mundo e não participassem de uma ceia canibal antes do nascimento.

Saber disso sobre o Megalodonte pode ajudar a contextualizar seu lugar na árvore genealógica do tubarão; mas também ajuda a entender melhor como o tubarão se encaixa em seu mundo aquático selvagem. Por exemplo, saber como eles nascem pode lançar alguma luz sobre a forma como Megalodonte usava viveiros e como competia com outros tubarões pré-históricos.

“Como um dos maiores carnívoros que já existiram na Terra”, disse o paleobiólogo Kenshu Shimada, pesquisador da Universidade DePaul (EUA). “Decifrar esses parâmetros de crescimento do O. megalodon é fundamental para compreender o papel que os grandes carnívoros desempenham no contexto da evolução dos ecossistemas marinhos”.

A pesquisa foi publicada na Historical Biology.