Por Tori Rodriguez
Publicado na Scientific American
Parece lógico que, para uma pessoa em depressão, os feriados sejam especialmente difíceis – estresse acima do normal, solidão e lembranças tristes da perda de entes queridos -, então não é surpresa que haja uma crença popular de que, durante a véspera de Natal, aconteça um aumento na taxa de suicídios. No entanto, os dados contam uma história diferente. Estudos recentes de diversos países mostram que as taxas em dezembro e no próprio Natal tendem a ser as mais baixas do ano, mas, em outros feriados, como o de celebração de Ano Novo, parece haver um pico.
Num desses estudos, durante um período de 15 anos, as taxas de suicídio na Inglaterra caíram bruscamente no Natal e subiram, também bruscamente, no primeiro dia de Ano Novo. Os pesquisadores relataram um pico geral na primavera, e as maiores taxas diárias foram observadas às segundas-feiras.
Os achados relatam que, em 2015, de acordo com o European Journal of Public Health, houve uma diminuição de 25% no nível de suicídios durante a véspera de Natal na Áustria. As taxas lá eram particularmente baixas no Christmas Eve (celebração do dia anterior ao Natal, comemorado em alguns países do Ocidente) e permaneceram baixas até o dia primeiro de janeiro, quando a maioria dos suicídios superou o de qualquer dia do ano anterior. Os autores também observaram um aumento das taxas em segundas e terças-feiras, assim como durante a semana após a Páscoa.
Existem exceções a essa tendência. Foram observadas taxas sutilmente elevadas no México e na Austrália, tanto no Natal quanto no Ano Novo (assim como no Dia das Mães e no Dia da Independência Mexicana). Mas, no entanto, a maioria das nações seguem o padrão: em véspera de Natal, as taxas de suicídio ficam abaixo do normal.
De acordo com o psicólogo clínico Martin Plöderl, existe uma típica conexão social para muitas pessoas durante o Natal, e seu estabelecimento se dá como um fator que acaba por prevenir o suicídio. Também, as internações em hospitais psiquiátricos diminuem durante esse período.
Então por que há o pico no Ano Novo? Pesquisadores sugerem que seja algo como o “efeito da promessa quebrada”. “Muitos de nós estamos familiarizados com o sentimento que se dá após as datas comemorativas: ‘É isso? Eu esperava me divertir mais, mas amanhã terei de voltar à minha rotina normal!'”, diz Plöderl. “Para pessoas deprimidas, a promessa quebrada do Natal e o ano em branco logo a frente podem aumentar a desesperança e assim levar ao risco de haver suicídio”. Durante o Ano Novo, o grande consumo de álcool também pode desempenhar um papel na intensificação dos sintomas depressivos e “algumas pessoas podem postergar seus planos suicidas para que seus familiares e amigos possam aproveitar o Natal”, explica ele.
Embora os resultados não possam falar por qualquer risco suicida de algum indivíduo em particular, eles têm importantes implicações para a política e saúde públicas. Os U.S. Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, em tradução), em seu website, alertam que a propagação do mito dos suicídios em véspera de Natal pode afetar os esforços de prevenção e conscientização. Adicionalmente, quanto a essa má percepção, Plöderl afirma: “pode ser traduzido em uma menor otimização no planejamento de alta [do apoio psiquiátrico]”. Pode ser bom que alguns pacientes depressivos estejam em suas casas para a comemoração dos feriados, mas, com a chegada do Ano Novo, “seria melhor oferecer maior suporte”.
Colaboração de Matheus.