Ainda que o senso comum muitas vezes diga o contrário, o estado de adicção está muito longe de ser uma “fraqueza” ou apenas uma escolha do indivíduo. Esse processo envolve complexos aspectos socioambientais e neuropsicológicos, os quais se inter-relacionam para formar uma situação propícia para o desenvolvimento de um vício.
Em primeiro lugar, como se poderia definir o que é um vício? Nós, seres humanos, temos uma série de necessidades que podemos chamar de homeostáticas – necessárias para o equilíbrio das funções do nosso organismo, e que, quando supridas, nos dão sensação de prazer, pois é algo que nos trará benefícios. Poderíamos listar, por exemplo, a vontade de comer, de beber água, de dormir, de fazer sexo. No entanto, nem todos os nossos desejos vêm desse tipo de situação, seja “pecando” pelo excesso – comer em excesso, fazer sexo em excesso, etc. -, seja pela insalubridade intrínseca do ato – utilizar compostos que causem mal ao corpo, como álcool, fumo, entre outros. O vício, então, poderia ser definido como a procura repetitiva e descontrolada por atividades ou substâncias em frequência e quantidade que se torne prejudicial à pessoa, tanto no quesito saúde quanto nos aspectos familiar e social.
O principal mecanismo neurológico pelo qual um vício é formado é superalimentando as vias de prazer no nosso cérebro. O composto de maior importância responsável por essa sensação no nosso sistema nervoso é um neurotransmissor chamado de dopamina, acompanhado de outras monoaminas, como a serotonina e a norepinefrina. Existe uma via dopaminérgica em específico, chamada via mesocorticolímbica, que leva dopamina nas sinapses da área tegumentar ventral no mesencéfalo até uma região do sistema límbico chamada núcleo accumbens, conhecida como o centro do prazer e da recompensa. Muitas drogas de abuso agem inibindo a recaptação desses neurotransmissores nas sinapses, fazendo com que eles se acumulem e fiquem mais tempo agindo e causando efeito no local. Muitas outras, ainda, aumentam a viabilidade da transmissão dessas substâncias nessas regiões.
Já no campo da psicologia, mas especificamente dentro do behaviorismo, existe uma teoria frequentemente utilizada para se estudar comportamentos relacionados à adicção. Muitas dessas atitudes estão relacionadas à geração de reforços – não confundir com punição -, tanto positivos quanto negativos. Nos dois casos, espera-se que a frequência de um comportamento seja aumentada, mas no primeiro, com a adição de um estímulo prazeroso, e no segundo, com a retirada de um estímulo aversivo. O reforço negativo pode ser aplicado, por exemplo, em casos de síndrome de abstinência, em que o adicto retoma o comportamento ou o uso da substância de adicção para que cessem os efeitos negativos da retirada. Também, é um fator importante logo no início de muitos casos de vício, quando o indivíduo toma determinada atitude para retirar do ambiente, mesmo que temporariamente, um estímulo considerado aversivo, como dor física, decepção familiar ou amorosa, dentre outros. Da mesma forma, o reforço positivo poderia gerar a continuidade dessas situações de adicção.