Por Seth Shostak
Publicado no The Huffington Post
Na corrida de cavalos para provar que a biologia não é apenas uma aberração terrestre, há um corcel que muitas pessoas ignoram: amostras do ar de planetas distantes para ver se elas contêm os gases de escape da vida, ou, no jargão dos astrobiólogos, bioassinaturas.
Todo mundo conhece os outros cavalos: encontrar biologia no Sistema Solar lançando foguetes a Marte ou a algumas das luas de Júpiter ou Saturno, e a expansão de nossas experiências no SETI para espionar os sinais de rádio ou de laser de seres inteligentes em mundos distantes.
O primeiro tem a vantagem de que, se micróbios surgiram em outras partes do Sistema Solar, podemos ser capazes de trazê-los para cá, vivos ou mortos. Teríamos alienígenas na Terra, uma ideia que deixa os astrobiólogos elétricos.
O último cavalo – o SETI – se esforça para descobrir a variedade mais interessante de extraterrestres, ou seja, aqueles que são tecnicamente avançados. Mas a dificuldade do SETI é que precisamos estar apontando nossos telescópios na direção de sinais no momento em que eles atingirem nosso planeta, nem antes nem depois. Há um problema de sincronicidade.
O terceiro cavalo é um candidato não prejudicado pela inconveniência de sincronicidade. Considere o seguinte: a atmosfera da Terra tem aproximadamente 21% de oxigênio, uma consequência de bilhões de anos de atividade fotossintética. O oxigênio é um gás de escape de vegetação. Você pode culpar as plantas pela ferrugem do seu velho carro.
O interessante sobre isso é que a assinatura de oxigênio no ar da Terra está presente há cerca de dois bilhões de anos. Por todo esse tempo, o oxigênio tem transmitido a sua existência no espaço. Pode ser facilmente detectado por qualquer extraterrestre avançado com bom conhecimento de astronomia, mesmo a partir de grandes distâncias. Não há nenhum problema de sincronicidade pois este sinal dura por eras.
Esse é o tentador cavalo número três, e Daniel Angerhausen, pesquisador do Goddard Space Flight Center da NASA, está apostando nele. Ele está usando telescópios no solo, no ar e em órbita para procurar as assinaturas espectrais de sinais de biologia além do oxigênio, como o metano.
A maneira óbvia de fazer isso seria apontar um telescópio para um exoplaneta – um planeta em torno de outra estrela – e analisar a luz que ele reflete. Essa abordagem está morta por ser extremamente difícil, dado que pouquíssimos exoplanetas podem ser visualizados diretamente com os instrumentos atuais.
O esquema de Angerhausen é observar exoplanetas que passam regularmente na frente de seus sóis. Durante a órbita, eles causam um ligeiro escurecimento da luz das estrelas. Esta é, naturalmente, a técnica usada pelo telescópio Kepler da NASA para descobrir milhares de mundos (mesmos os que continuam invisíveis). O Kepler detecta mini-eclipses que ocorrem a muitas centenas de anos-luz de distância.
O truque de Angerhausen é subtrair o espectro – a propagação do arco-íris de luz – de uma estrela quando um planeta não está passando em sua frente, do espectro tirado quando o planeta estiver a atravessando. Pense nisso: na maioria das vezes o que o seu telescópio vê é uma combinação do brilho da estrela e da luz refletida do planeta. Mas quando o planeta está escondido atrás da estrela, você só vê o brilho da estrela. Tirar a diferença elimina a contribuição da estrela, e deixa somente o espectro da atmosfera do planeta.
Isto é mais fácil de descrever do que de fazer, e por todas as razões habituais. Estrelas são extremamente brilhantes e planetas tem um brilho fraco, então a medição é irritantemente difícil. Usar um telescópio espacial evita problemas introduzidos pela atmosfera agitada da Terra. Mas telescópios em órbita são geralmente pequenos e você está presos aos instrumentos que estão a bordo dele.
Então Angerhausen tentou outra possibilidade – o SOFIA, um telescópio com um espelho de 2,7 metros inteligentemente acoplado em um Boeing 747. Durante a noite quando ele fica em alta altitude, este instrumento supera 90% da atmosfera incômoda da Terra. E quando ele pousa, há oportunidade de mudar a instrumentação ou fazer outras melhorias.
Ainda assim, nenhuma alegria. Não há pistas sobre a biologia alienígena.
Então, vamos dizer como isso vai acontecer: os maiores telescópios não estão nem no espaço nem na estratosfera. Eles estão no topo das montanhas, e Angerhausen também os usou. Ele ainda não encontrou gases produzidos por biologia no ar de um planeta distante com esses gigantes vítreos, mas ele tem razões para permanecer otimista sobre as chances. Ele está contando com a melhoria implacável na tecnologia dos telescópios – uma tendência que seguramente vai continuar por décadas no futuro, a menos que você seja um fã de um iminente Armagedon.
Então, o que significaria se ele descobrisse, por exemplo, oxigênio e metano juntos na atmosfera de algum outro mundo? Claro, você tem que verificar com cuidado para garantir que os gases sejam verdadeiramente biogênicos. E mesmo assim, eles só poderiam dizer que há clorofila ou o seu homólogo alienígena daquele planeta: em outras palavras, os extraterrestres pode ser não mais do que ingredientes de salada.
Mas se outros mundos podem gerar alface ou talvez apenas algas, há pelo menos alguma chance de que eles também poderiam abrigar algo um pouco mais interessante. O cavalo número três pode ser o candidato menos conhecido da corrida, mas ele tem uma boa chance.