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O que é uma espécie? Especialista britânico em aves desenvolve fórmula matemática para resolver o problema

Publicado na EurekAlert!

Créditos: Fundacion ProAves / British Ornithologists Club.

A natureza é repleta de exemplos de populações identificáveis conhecidas de diferentes continentes, montanhas, ilhas ou planícies. Enquanto, tradicionalmente, muitas dessas foram tratadas como subespécies de espécies abrangentes, estudos recentes em biologia molecular tem mostrado que muitas dessas antigas “subespécies” estiveram na verdade isoladas por milhões de anos, tempo suficiente para terem evoluído como espécies separadas.

Sendo um assunto controverso na taxonomia – a ciência da classificação – a habilidade de diferencias espécies de subespécies ao longo de grupos faunais é crucial. Dado os recursos limitados para a conservação, autoridades relevantes tendem a se preocupar apenas com espécies em perigo de extinção, com seus esforços raramente se estendendo para subespécies.

Descobrir se populações co-habitantes pertencem à mesma espécie é uma simples questão de verificar se eles são capazes de intercruzamento ou de produzirem descendentes férteis. Porém, sempre que populações distintas estão geograficamente separadas, é comum que taxonomistas sofram para determinar se representam espécies diferentes ou meramente subespécies de uma espécie mais abrangente.

O especialista britânico em aves Thomas Donegan dedicou muito de sua vida ao estudo de pássaros na América do Sul, principalmente na Colômbia. Para confrontar este antigo problema de “o que é uma espécie”, ele aplicou uma variedade de testes estatísticos, baseado em dados derivados de espécimes de aves e gravações de sons, para medir as diferenças entre mais de 3000 pares de combinações de diferentes variáveis entre populações.

Tendo analisado o resultado desses testes, ele desenvolveu uma nova fórmula universal para determinar o que pode ser considerado uma espécie. O seu estudo foi publicado no periódico open-access ZooKeys.

Essencialmente, a equação funciona através da medição de diferenças de múltiplas variáveis entre duas populações não co-ocorrentes, e então justapondo-as com os mesmos resultados de duas populações que habitam juntas e evidentemente pertencem a uma mesma “boa” espécie. Se a diferença do par não co-ocorrente excede a do par de mesma espécie, então a primeira pode ser considerada uma espécie. Do contrário, são subespécies de uma mesma espécie.

A formula se apoia em práticas taxonômicas existentes e empresta aspectos ótimos de modelos matemáticos anteriormente propostos para a avaliação de espécies em grupos particulares, mas reunidos em uma única estrutura coerente e fórmula que pode ser aplicada a qualquer grupo taxonômico. Dito isso, o teste é apresentado como um padrão e não um teste definitivo, a ser utilizado para adquirir outros dados, como análises de dados moleculares.

Thomas espera que sua fórmula matemática para ranqueamento de espécies ajude a eliminar um pouco da subjetividade, vieses regionais e conflitos que atualmente permeiam o campo da taxonomia.

“Se essa nova abordagem for utilizada, ela deverá introduzir mais objetividade à ciência taxonômica e, finalmente, significar que recursos de preservação limitados sejam direcionados à populações ameaçadas que realmente sejam distintas e que mereçam mais a nossa preocupação”, disse o pesquisador.

O problema com o ranqueamento de populações que não coabitam juntas foi identificado primeiramente em 1904. Desde então, a maioria das abordagens para enfrentar esta questão foram subjetivas ou arbitrárias ou dependiam pesadamente da opinião de especialistas ou ímpetos históricos, invés de qualquer estrutura objetivamente defensível ou consistente.

Por exemplo, a gaivota-prateada europeia e americana eram agrupadas por alguns comitês taxonômicos como sendo a mesma espécie (Gaivota-prateada), ou divididas em duas espécies por outros comitês lidando com diferentes regiões, simplesmente porque os especialistas relevantes nesses comitês tinham visões diferentes da questão.

“Para faunas tropicais, há milhares de populações distintas atualmente tratadas como subespécies e que são geralmente ignoradas em atividades de conservação”, explicou Thomas. “E, ainda assim, algumas dessas talvez estejam em situações preocupantes. Essa nova estrutura e abordagem deve nos ajudar a identificar e priorizar essas situações”.

Lucas Rosa

Lucas Rosa

Lucas Rodolfo de Oliveira Rosa é graduado em Ciências Biomédicas pela UNESP e Mestrando em Biologia Funcional e Molecular pela UNICAMP. Entusiasta pela ciência desde criança, Lucas é colaborador do Universo Racionalista e Editor-Chefe em Mural Científico (www.muralcientifico.com), sua plataforma aberta de divulgação científica nacional e internacional. Lattes http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4854743Z0