Traduzido por Carlos Germano
Original de Emma Bryce para a Live Science
Uma visualização perturbadora: em um vídeo de 22 segundos compartilhado recentemente no Instagram, um cervo de cauda branca olha para a câmera enquanto come uma cobra morta como se fosse um fio de espaguete. A cena um tanto estranha, filmada por Trey Reinhardt, do Texas, provocou alarme nas mídias sociais sobre a alimentação do cervo.
Os cervos não foram criados para capturar animais ou consumir carne. Em vez disso, eles extraem nutrientes da celulose, o ingrediente fibroso que compõe as paredes das células vegetais.
No entanto, apesar de ser incomum, o comportamento carnívoro não é inédito. Na verdade, esta criatura faz parte de uma linha de veados que demonstraram gosto por sangue.
Antes desse vídeo, um cervo foi filmado mordiscando um peixe vivo, e, posteriormente, engolindo ele inteiro. Em outra filmagem, um cervo não pensa duas vezes antes de aceitar um pedaço de bife de um restaurante ao ar livre.
Além disso, câmeras de campo registraram imagens de veados aparentando mordiscar coelhos mortos e farejando pilhas de tripas deixadas para trás por caçadores.
Isso é mais do que apenas observações pontuais. Em 1988, na Escócia, pesquisadores documentaram cervos-vermelhos decapitando filhotes de aves marinhas e roendo suas pernas e asas.
Em um relato de 1976, que parece ser um mistério de assassinato, o veado-de-cauda-branca (Odocoileus virginianus) foi responsabilizado pela morte de vários cadáveres de aves bem mastigados que foram retirados de redes que pertenciam a pesquisadores que estudavam pássaros. Essa caça com rede de neblina foi registrada em um estudo publicado no American Midland Naturalist, em 2000.
Um estudo de 2017 descreveu um veado se alimentando de um cadáver humano em decomposição, em uma fazenda experimental de corpos (uma instalação de pesquisa onde os cientistas estudam como os corpos se decompõem). Cervos malhados indianos também foram observados mastigando os ossos de animais selvagens.
Por que os herbívoros comem carne?
Os cervos podem não ter as capacidades evolutivas para atacar, matar e dilacerar as presas – mas os animais caídos ou mortos representam um alvo fácil e uma rica fonte de minerais, proteínas e gorduras quando comparados com as plantas – os estômagos dos cervos têm que trabalhar duro para processá-las.
Os pesquisadores acham que esses desvios na alimentação podem coincidir com os momentos em que os cervos precisam de mais nutrientes. Um estudo publicado no ano passado sugeriu que eles podem comer carne quando precisam de um impulso no crescimento para desenvolver ou manter seus chifres. Ter um paladar mais inclusivo também pode ser um conforto para a incerteza de recursos e a mudança de habitat na natureza.
De qualquer forma, essa tendência vai além dos cervos. Um antílope africano chamado Duiker (Sylvicapra grimmia) é conhecido por comer lagartos – e até se alimenta de carniça se os abutres não chegarem lá primeiro.
Enquanto isso, os veados-vermelhos escoceses tinham um cúmplice para a decapitação de seus filhotes: ovelhas . Esses animais de fazenda foram descobertos não apenas decapitando, mas também arrancando suas pernas. E na África, o fenômeno das girafas mastigadoras de ossos é bastante conhecido.
Todos esses animais são o que chamaríamos de herbívoros. Mas a natureza nos lembra que lá fora, com a sobrevivência em jogo, nossas definições podem se tornar um pouco confusas.