Traduzido por Carlos Germano
Original de Sascha Pare para a Live Science
Um grupo de orcas quase afundou outro veleiro no Estreito de Gibraltar, seguindo a embarcação até o porto – marcando o primeiro caso registrado de baleias assassinas perseguindo um barco após destruir seu leme.
As orcas começaram a se comportar de maneira incomum e atacar barcos em 2020. Desde então, houve 744 encontros relatados, 505 dos quais envolvendo contato entre os animais e o navio, conforme o Atlantic Orca Working Group (GTOA). Uma em cada cinco interações impediu que os barcos navegassem e três terminaram em naufrágios.
A maioria dessas interações terminava com as orcas perdendo o interesse no barco após quebrar o leme. Mas durante o recente ataque na noite de 24 de maio, a orca continuou a perseguir o iate “Mustique” mesmo depois de danificar a embarcação. Não está claro se isso marca uma mudança no padrão de comportamentos agressivos aprendidos pelas orcas em relação aos veleiros.
“Eles não partiram depois que o leme foi removido”, disse April Boyes, um marinheiro experiente que estava a bordo do Mustique, ao Live Science em uma mensagem nas redes sociais.
A tripulação avistou as orcas pela primeira vez por volta das 21h30, horário local, enquanto navegavam pelo Estreito de Gibraltar. “Não demorou muito para elas começarem a bater em nosso leme. A força girava o leme violentamente e você podia sentir a vibração no convés”, escreveu Boyes em um post no blog.
Após quebrar o leme, as orcas pareceram perder o interesse e nadaram para longe. Mas 20 minutos depois, elas voltaram e começaram a circular o barco. “Depois de uma hora em que as orcas continuaram a bater no leme, ele estava completamente destruído e a água começou a entrar para dentro do barco”, escreveu Boyes.
A tripulação alertou a guarda costeira espanhola, que rebocou o barco até o porto de Barbate. Mas mesmo assim as orcas demoraram. “As orcas continuaram a seguir o barco até chegarmos à costa”, escreveu Boyes. Especialistas do GTOA, que acompanham os encontros incomuns entre orcas e barcos na costa ibérica, se recusaram a comentar se o novo comportamento de perseguir o barco danificado significava uma mudança na estratégia das orcas.
“Os navegadores não nos enviam relatórios das interações, por isso não podemos responder às cegas e sem informações sobre esses casos”, disse Alfredo López Fernandez, biólogo da Universidade de Aveiro, em Portugal, e representante do GTOA, ao Live Science por e-mail.
Funcionários espanhóis e pesquisadores do grupo de Conservação, Informação e Pesquisa sobre Cetáceos (CIRCE) planejam usar rastreadores de satélite para monitorar seis orcas que estiveram envolvidas em ataques. Uma orca já foi marcada, disseram representantes do governo em um comunicado.
“Graças ao GPS das orcas e aos modelos de previsão, temos algumas variáveis que nos permitem prever onde estes animais vão estar”, disse Renaud de Stephanis, presidente do CIRCE, à emissora espanhola RTVE. “100% dos ataques que ocorreram desde março até agora poderiam ter sido evitados se as pessoas estivessem informadas”.
Mas alguns especialistas acham que a medida pode sair pela culatra. “Muitos de nós temos reservas porque achamos que a marcação por satélite não vai servir para nada em relação às interações, senão para agravar a situação, porque é feito a tiro e as orcas certamente não vão achar graça”, disse López Fernandez para RTVE.
De Stephanis também sugeriu que os marinheiros poderiam deter as orcas colando pontas anti-pombos no leme. “Acreditamos que uma solução para reduzir o impacto, que é econômica e altamente eficaz, seria instalar pontas anti-pombo cortadas em 3 cm [1,2 polegadas] na parte de trás do leme”, escreveu ele em um post no Facebook em 2 de junho. “O sistema deve ser fácil de instalar (usando velcro ou cola subaquática) e fácil de remover.”
Por enquanto, os marinheiros devem “estar preparados se navegarem nessas áreas, evitar navegar à noite e se aproximar da costa, tanto quanto possível”, disse López Fernandez à Live Science.