Nos animais, e muitas vezes também nos humanos, o desempenho é significativamente prejudicado quando o valor da recompensa pelo trabalho é reduzido. Pesquisadores argentinos e húngaros estudaram o que acontece quando os cães de família são forçados a trocar um lanche de recompensa de fígado cozido por comida seca. Os resultados mostram que os cães não são tão sensíveis a essa substituição como outras espécies de mamíferos.
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É fácil imaginar os sentimentos de um funcionário que, sem culpa própria, tem seu salário reduzido por dificuldades da empresa ou de um filho cujo professor lhe dá um C em vez de A pelo mesmo desempenho. O resultado é frustração, desilusão, falta de motivação e baixo desempenho. Isso também pode acontecer com animais que lutam para conseguir um lanche valioso e saboroso e, inesperadamente, recebem lixo de baixa caloria e sem sabor.
Essa resposta comportamental negativa é cientificamente conhecida como “contraste negativo sucessivo”. A investigação sobre este fenômeno destaca a importância das expectativas e o impacto emocional das mudanças nas recompensas.
É importante não só para os treinadores de animais, mas também para as pessoas compreenderem como as expectativas influenciam as emoções e, através delas, o desempenho. Mas embora seja possível explicar aos humanos por que razão são menos recompensados pelo mesmo desempenho, não é possível fazê-lo com os animais, pelo que é necessário prestar especial atenção à mudança gradual das expectativas e não abruptamente.
“Aplicamos dois testes comportamentais em cães de família para investigar como uma redução repentina no valor de uma recompensa altera o desempenho. Usámos fígado bovino cozido como recompensa de alto valor e ração seca para cães como recompensa de baixo valor”, explica Mariana Bentosela, chefe do Grupo de Investigación del Comportamiento en Cánidos na Argentina.
No primeiro teste comportamental, o cão era recompensado se seguisse o gesto de apontar do experimentador para escolher um determinado prato e não outro. No segundo teste, as recompensas tiveram que ser extraídas de um brinquedo “inteligente” para cães disponível no mercado, removendo pequenas tampas. Assim, a principal diferença entre os dois testes era que um era uma situação social, e a recompensa poderia ser obtida com a ajuda do experimentador, enquanto no outro teste os cães trabalhavam de forma independente.
Os pesquisadores dividiram os cães participantes em dois grupos. No grupo de controle, os cães receberam a mesma ração seca o tempo todo. No grupo experimental, eles receberam primeiro fígado e depois ração seca para cachorro. Então, ao final do teste, eles receberam fígado novamente para ver se já tinham comido o suficiente e, portanto, pararam de funcionar.
Os resultados, publicados no Journal of Veterinary Behavior, mostraram que no teste de apontar, os cães do grupo experimental foram mais lentos e mais relutantes em ir para as tigelas quando os pedaços de fígado foram trocados por ração. No grupo controle, não houve tal alteração.
Porém, no teste do ‘brinquedo para cachorro’, o comportamento dos grupos experimental e controle não diferiu, sugerindo que os cães não foram incomodados pela mudança no valor da recompensa.
“Parece que os cães reagem negativamente à deterioração da qualidade da recompensa em certas situações, mas não noutras. Pode haver razões metodológicas para isso, por exemplo, a diferença entre fígado cozido e comida seca não é tão grande para os cães como imaginamos. Também é possível que os cães de família se acostumem com as mudanças frequentes no valor da recompensa, especialmente quando recebem pequenas mordidas entre as refeições”, disse Enikő Kubinyi, chefe do MTA-ELTE Lendület Companion Animals Research Group na Hungria.
O estudo confirmou que, em comparação com outros animais, os cães são únicos, pois a qualidade das guloseimas utilizadas para motivação normalmente não tem um forte impacto no seu desempenho.
Mais informações: M. V Dzik et al, What if the reward is not as yummy? Study of the effects of Successive Negative Contrast in domestic dogs in two different tasks, Journal of Veterinary Behavior (2023). DOI: 10.1016/j.jveb.2023.12.009