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Os estágios da decomposição e a sua importância na Forense

A tafonomia

Sempre que os peritos forenses (CSI) encontram um corpo, seja em caso de homicídio ou suicídio, é importante que o tempo de decomposição seja avaliado. Com isso é possível fazer a estimativa do intervalo de morte, ou seja, a quanto tempo se passou entre a morte do indivíduo até o corpo ser encontrado. A ciência que estuda e descreve os processos envolvidos na decomposição de cadáveres é chamada de Tafonomia, originada do grego taphos (enterro ou sepultura) e nomos (leis), traduzindo literalmente pode ser interpretado como as leis do enterro. Os maiores especialistas em tafonomia, geralmente não são os CSI, mas sim arqueólogos, paleontólogos e antropologistas.

Quando se investiga um corpo, as mais diversas “evidências físicas” precisam ser categorizadas em três intervalos: Antemortem, Perimortem e Postmortem.

Antemortem – refere-se ao intervalo de fatos que aconteceram antes da morte da vítima, muitas vezes não sendo relacionada com o caso, pois pode se tratar de experiências de vida. São característicos pela cicatrização da pele ou dos ossos, pois tiveram tempo de se regenerar.

Perimortem – refere-se a ao intervalo e a fatos que aconteceram durante a morte ou próxima a ela. Diferente das injurias antemortem, aqui não existiu um tempo de cicatrização.

Postmortem – Não existe uma barreira exata que determinar quando terminar o intervalo perimortem e quando começa o postmortem, sendo um desafio muito grande para os especialistas. Mas os processos de decomposição podem indicar as transições.

É preciso ter em mente que estes períodos são artificiais e utilizados por convenção para categorizar evidências e injurias. A tafonomia tem prioridade estudar e descrever os processos que ocorrem no intervalo postmortem (IPM ou PMI do inglês Postmortem interval), sendo os do perimortem estudados por patologistas forenses.

A decomposição do corpo possui diversas variáveis, sendo as principais a temperatura e o acesso de insetos no cadáver. Por isso, o IPM pode várias nas mais diferentes localidades, principalmente quando se trata de regiões temperadas e polares, onde pode ter as taxas de decomposição próximas a zero, onde o corpo é congelado. Portanto, é importante validar a estimação do IMP nos mais diversos lugares do mundo.

Os estágios da decomposição

Apesar de não ser um estudo recente, a tafonomia ainda não possui um padrão universal para os estágios de decomposição. Porém iremos abordar o padrão um dos mais utilizado por pesquisadores e por CSI, descrito por Payne (1965) e dividiu em seis etapas utilizando porcos em uma temperatura média de 26,1◦C do solo.

Fresco (dia 0) – estágio inicial, basicamente nenhuma característica forte da decomposição é visível. Aqui é exatamente onde encontra a dificuldade de dividir o intervalo perimortem com o postmortem. O cheiro ainda é o presente no animal (ou pessoa) quando vivo. Depois de um tempo (minutos ou horas, varia de acordo com a localidade), as primeiras moscas da família Calliphoridae (Muito utilizada na Entomologia Forense).

Inchado (dia 1) – o nome é a dado pela principal característica do estágio, o inchamento do corpo devido a concentração de gases liberado pela ação de bactérias ligadas à decomposição.  O cheiro forte de putrefação começa a estar presente, assim como outros grupos de moscas, formigas e também alguns besouros necrófagos.

Decomposição ativa (dia 3) – as larvas de insetos começam a penetrar em orifícios, pele e outros tecidos, assim os gases e fluidos corpóreos são liberados em grande quantidade no ambiente, atraindo ainda mais outros animais e acelerando o processo de decomposição.

Decomposição avançada (dia 5) – Nessa fase, boa parte das vísceras foram devoradas pelos insetos e outros organismos presentes. Os ossos são expostos pouco a pouco, o corpo perde volume e o forte cheiro começa a diminuir, assim como a diversidade de insetos.

Seco (dia 7) – Somente pele, cartilagem e osso são encontrados. Outros artrópodes aproveitam a diminuição da competição para obter recursos, como centopeias, caracóis, milipedes, entre outros.

Restos mortais – É difícil determinar quando inicia a última fase, porém é bem provável que dentro de duas semanas a carcaça já esteja nessa categoria. O cheiro é bem fraco, porém bastante impregnado no solo e em pedras próximas. Toda a carne e pele já não se encontram presentes, somente ossos e cabelo e os animais presentes são do ambiente, e não ligados ao processo de decomposição.

Outro desafio para os CSI é que nem sempre a taxa de decomposição pode ocorrer de forma não-homogênea no cadáver, sendo importante avaliar com cuidado e utilizando as diferentes técnicas para diminuir a imprecisão da estimativa. Cada características nos diferentes estágios são fundamentais para o conhecimento detalhado do processo de decomposição, entendendo como é o funcionamento e por consequência oferecendo diversas informações sobre a morte do indivíduo. Qualquer outra variação pequena, pode alterar este processo químico, como roupas, ambiente, mudança de local do corpo, biodiversidade local e principalmente o acesso aos insetos. Quando os insetos não conseguem acessar o corpo, acontece o processo de mumificação. Um exemplo foi o caso do alemão Manfred Fritz Bajorat, que faleceu dentro do barco, como seria impossível dos insetos chegarem ao seu corpo, pois o barco estava a deriva, ele mumificou.

Os porcos são bastante utilizados para estudos de IPM, devido a sua semelhança de decomposição com os humanos. Alguns artigos demonstram que isso pode variar de animais, onde em alguns aspectos ovelhas são mais semelhantes. Apesar de corpos humanos serem difíceis de conseguir, existem alguns institutos como o centro de antropologia forense da universidade de Tennesse nos EUA, possui uma “fazenda de corpos” (do inglês “body farm”). Esses institutos vivem com a doação de corpos de pessoas que preenche um formulário quando vivas ou com a doação da família após o falecimento do parente, contribuindo com a forense, aumentando as informações sobre a decomposição em diferentes fatores e aperfeiçoando as técnicas de estimar o IPM.

Referências

Daniel Moura

Daniel Moura

Bioinformata no VarStation/ Hospital Israelita Albert Einstein. Mestre pelo Programa International Master of Science in Agro- and Environmental Nematology na Universidade de Ghent, Bélgica. Graduado em Bacharelado de Ciências Biológicas / Ciências Ambientais da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil e pela Universidade Eötvös Loránd, Húngria. Atua na área de Zoologia, Ecologia, Fisiologia Comparada, Biologia Forense e Biologia computacional. Contato: dmouraslv@gmail.com