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Os insetos desempenham uma função (nojenta) na decomposição, transformando corpos em ossos

Por Paul Manning
Publicado no The Conversation

Quando chega o dia das bruxas, costumamos ver esqueletos, crânios e ossos decorando varandas e vitrines.

Embora esqueletos sejam universalmente considerados símbolos de morte, o processo de transformar um animal recém-falecido em um esqueleto ósseo depende do aparecimento da vida que inicia o processo de decomposição. Grande parte desse processo transformador é realizado por insetos rastejantes, famintos e contorcionistas.

Ao longo de décadas de observação e experimentação cuidadosas, os entomologistas descreveram um modelo de decomposição em cinco estágios. Esse modelo explica como os insetos, em estreita colaboração com os microrganismos, transformam um corpo recém-falecido em uma pilha de ossos enquanto reciclam carbono, nitrogênio, fósforo e vários outros nutrientes para que outros seres vivos possam crescer e prosperar.

Começa com um cadáver

O primeiro estágio de decomposição (denominado “estágio fresco”) ocorre entre o momento da morte e os primeiros sinais de inchaço. Nesse período, não há sinais externos de mudança física, mas as bactérias que já vivem no corpo começam a digerir seus tecidos.

Os insetos começam a chegar minutos a horas após a morte do animal. A maioria dos insetos que colonizam o corpo durante esse período inicial são moscas das famílias Calliphoridae (varejeira), Muscidae (mosca-doméstica) e Sarcophagidae (moscas saprófagas).

Essas primeiras moscas procuram um local privilegiado para depositar seus ovos. Isso geralmente é limitado às cavidades naturais do animal (por exemplo, narinas ou boca), ou dentro de qualquer lesão externa (por exemplo, abrasões). Os níveis de umidade e tecidos moles dentro dessas áreas constituem um habitat de berçário ideal para o desenvolvimento de jovens vermes.

Inchaço, vermes e metano

O inchaço vem a seguir. Nesse segundo estágio de decomposição, a falta de oxigênio no corpo começa a favorecer os micróbios anaeróbios. Essas bactérias prosperam na ausência de oxigênio no corpo.

À medida que as bactérias começam a expelir gases como sulfeto de hidrogênio e metano, o abdômen começa a inchar. A carcaça começa a escurecer e a cheirar mal. Como as carcaças são uma fonte incomum e de vida curta de nutrientes, vários insetos podem detectar e viajar para uma carcaça a quilômetros de distância.

Durante o estágio de inchaço, os ovos das moscas eclodem e grandes quantidades de larvas começam a se alimentar da carne. Nesse ponto, os besouros entram no frenesi alimentar. Alguns besouros, como os silfídeos, alimentam-se da carne da carcaça rica em nutrientes.

Besouros predadores, como os da família Staphylinidae e os histerídeos, chegam para se alimentar dos vermes.

Vermes tomam conta do processo

O terceiro estágio é conhecido como “decomposição ativa”. Essa fase começa quando a carcaça começa a esvaziar lentamente, um processo semelhante a um pneu furado por um prego. Os insetos larvais roem pequenos orifícios nas cavidades do corpo, permitindo que os gases escapem.

Os tecidos começam a se liquefazer, dando à carcaça uma aparência úmida, seguida pela liberação de um odor pútrido. Ao final do estágio de decomposição ativa, os vermes concentram sua alimentação na cavidade torácica do animal. Logo, os besouros dominam, com um grande número de besouros da família Staphylinidae e histerídeos chegando para devorar os vermes.

Uma vez que a maior parte da carne foi consumida, a carcaça entra no estágio de decomposição avançada. O odor pútrido da carcaça começa a diminuir e a maioria dos vermes deixa a carcaça para formar pupas no solo abaixo.

Em seguida, os besouros dermestídeos adultos chegam à carcaça e começam a pôr ovos. Os besouros dermestídeos – pequenos besouros redondos cobertos por pequenas escamas – são necrófagos que se alimentam de uma variedade de materiais secos: pelos, penas, plantas mortas e até tapetes!

Se eles não são familiares para você, talvez você não tenha olhado de perto o suficiente – uma pesquisa de 2016 com artrópodes caseiros detectou besouros dermestídeos em 100 por cento dos lares.

Besouros dermestídeos terminam o trabalho

O estágio final de decomposição é conhecido como decomposição seca. Pouquíssimas moscas adultas são atraídas pela carcaça nessa fase. Durante a decomposição seca, a carcaça é reduzida a ossos, cartilagem, pele seca e cabelo. Nesse estágio, há pouco odor.

Os besouros dermestídeos larvais continuam a limpar o esqueleto, deixando para trás vestígios muito semelhantes a um esqueleto desmontado. Os besouros dermestídeos são tão eficazes na limpeza de ossos que são usados ​​regularmente por museus na preparação de esqueletos para coleção e exibição.

As pequenas coisas que governam o mundo

Embora testemunhar essas cenas bestiais não seja para aqueles com estômagos fracos, a decomposição de restos de animais é um processo fundamental que faz o ciclo dos nutrientes nos ecossistemas.

Nutrientes como carbono (a base de toda a vida na Terra), fósforo e nitrogênio, de que todos os seres vivos precisam para crescer, são limitados nos ecossistemas. Eles devem ser constantemente reutilizados e reciclados para garantir a continuidade da vida.

Após a decomposição, o solo sob o cadáver conterá uma alta concentração de nutrientes em relação ao ecossistema circundante.

No entanto, nem todos os nutrientes liberados no meio ambiente ficam no solo e nas plantas. Nutrientes e energia contidos no animal morto (seja um camundongo, guaxinim ou corvo) são reaproveitados e reutilizados por insetos vivos que respiram.

Quando esses insetos se alimentam de uma carcaça, eles se dispersam em um ambiente mais amplo, onde continuam a ser membros produtivos dos ecossistemas.

Esses mesmos insetos ajudam a polinizar nossas plantações (incluindo abóboras), encher a barriga de animais comedores de insetos (como morcegos) e são cruciais para a decomposição de outros organismos mortos (como ratos, cogumelos e cobras).

Se acontecer de você se deparar com ossos de animais nessta temporada de Halloween ou em qualquer outra época do ano – pare um momento para considerar o evento dramático que tornou essa descoberta possível.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.