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Os misteriosos cães cantores da Nova Guiné são encontrados novamente na natureza

Por Michael Price
Publicado na Science

choro de lamento assustador e assombroso dos cães cantores da Nova Guiné já ressoou pelas exuberantes montanhas e vales da ilha. Hoje, com a população selvagem considerada extinta há décadas, as canções desses caninos misteriosos – primos próximos do dingo australiano – são ouvidas apenas por quem frequenta zoológicos. Mas um novo estudo sugere que cães selvagens que vivem perto de uma mina de ouro nas montanhas da Nova Guiné são na verdade os mesmos animais. Se confirmado, os cães selvagens podem ajudar a salvar a espécie de cães cantores da Nova Guiné ao redor do mundo.

Não está claro exatamente quando os cães cantores da Nova Guiné ou seus antepassados ​​chegaram à grande ilha indonésia ao norte da Austrália. As primeiras evidências de dingos datam de cerca de 3.500 anos atrás, e muitos arqueólogos acham que os cães cantores marrom-claros, de pelo curto, que são quase do tamanho de um cão da raça border collie, apareceram na Nova Guiné na mesma época, possivelmente trazidos de barco.

Hoje, entre 200 e 300 cães cantores da Nova Guiné vivem em zoológicos e santuários em todo o mundo, mas não houve um avistamento confirmado na natureza desde a década de 1970, quando o desenvolvimento humano rapidamente se expandiu em seu habitat. Mesmo assim, os moradores locais afirmam há anos que ocasionalmente ouvem o lamento dos cães.

Aí que entra o cão selvagem das terras altas, um canino igualmente misterioso conhecido apenas por observações anedóticas e duas fotos tiradas em 1989 e 2012. Para aprender mais sobre esses caninos, o zoólogo James McIntyre liderou uma expedição de campo às terras altas da província de Papua na parte ocidental da ilha perto de um das maiores minas de ouro e de cobre do mundo, a Mina Grasberg. Nessa expedição, McIntyre e colegas, incluindo cientistas da Universidade de Papua, fotografaram e coletaram amostras fecais de 15 cães selvagens das montanhas – que se pareciam, agiam e uivavam de forma bem parecida com os cães cantores da Nova Guiné. Dois anos depois, os pesquisadores conseguiram capturar e coletar amostras de sangue de três dos animais.

Os cientistas sequenciaram os genomas dos três cães e compararam seu DNA nuclear com o de 16 cães cantores da Nova Guiné, 25 dingos e mais de 1000 cães de 161 outras raças. Os cães selvagens das terras altas e os cães cantores da Nova Guiné têm perfis genéticos quase idênticos, relataram dia 31 de agosto no Proceedings of the National Academy of Sciences. Ambos também estão intimamente relacionados aos dingos, e um pouco mais distantes a outros cães de origem oriental, como o chow chow, Akita e o shiba inu.

O genoma dos cães cantores da Nova Guiné degradou-se devido à endogamia, e o genoma dos cães selvagens das terras altas contém genes de cães de aldeia locais, mas são essencialmente o mesmo cão, explica a coautora do estudo Elaine Ostrander, geneticista do National Human Genome Research Institute dos Estados Unidos (em português: Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano).

Isso os tornaria “uma população fantástica para a biologia da conservação”, diz ela. Afligidos por anos pela endogamia, os pesquisadores temem que os cães cantores em cativeiro possam em breve ter problemas de reprodução. Se eles pudessem ser cruzados com esses cães das montanhas, isso poderia preservar a população e reintroduzir parte da diversidade genética que foi perdida ao longo dos anos em cativeiro. Também é possível, acrescenta ela, que um estudo mais aprofundado dos genomas dos cães possa revelar como – e por que – os cães mantêm um repertório vocal que é “diferente de tudo o que já ouvimos na natureza”.

Peter Dwyer, zoólogo da Universidade de Melbourne, Austrália, diz que o trabalho é um estudo “muito útil” para os esforços em andamento de desvendar as relações entre cães na Nova Guiné. Mas ele adverte que mais evidências serão necessárias para concluir que os cães cantores da Nova Guiné representam uma população única e arcaica de cães, distinta de outros cães da ilha. Em vez disso, Dwyer diz que seu próprio trabalho sugere que os cães cantores podem ser descendentes de cães de aldeia, alguns dos quais compartilham muitas das características dos cães selvagens das terras altas que vivem perto da Mina Grasberg.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.