Ex-líderes políticos e chefes de organizações internacionais pediram na quinta-feira moratórias nacionais sobre a implantação de tecnologias para retardar o aquecimento global, diminuindo o impacto do Sol.
A Comissão de Overshoot do Clima disse que a investigação e as experiências sobre a chamada modificação da radiação solar (SRM) devem avançar, mas apenas sob supervisão internacional e em jurisdições com fortes salvaguardas ambientais.
Atualmente, não existe uma governação global formal para o desenvolvimento ou implantação de tais tecnologias e há uma compreensão incompleta dos riscos que acarretam.
“Precisamos de uma moratória”, disse à AFP Laurence Tubiana, membro da comissão, chefe da Fundação Europeia para o Clima e arquiteto do Acordo de Paris.
“Conhecemos os riscos – esta não é uma solução mágica.”
O fracasso na redução das emissões de gases com efeito de estufa que impulsionam o aquecimento global levou a sugestões de que a geoengenharia solar – amplamente rejeitada há uma década como desnecessariamente arriscada – poderia ganhar tempo enquanto o mundo aumenta as reduções de emissões e a remoção de CO2.
Até agora, apenas 1,2 graus Celsius de aquecimento aumentaram a intensidade, a frequência e a duração de ondas de calor, secas e megatempestades mortais e destrutivas.
O tratado climático de Paris de 2015 exige limitar o aumento da temperatura da superfície da Terra a 1,5ºC acima dos níveis de meados do século XIX, para evitar impactos catastróficos.
A comissão deve o seu nome à forte probabilidade de o aquecimento ultrapassar essa meta, provavelmente dentro de uma década, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) da ONU.
Em 2018, o IPCC concluiu que as emissões de gases com efeito de estufa devem diminuir 43% até 2030, a fim de limitar o aquecimento global ao limiar de 1,5ºC.
“À medida que nos aproximamos do ponto médio desse prazo, as emissões não diminuíram, mas sim aumentaram”, disse no seu relatório o ex-chefe da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy, que presidiu a comissão.
“A necessidade de ação é clara e imediata.”
Choque de rescisão
A comissão – 13 antigos líderes e ministros do Paquistão, Canadá, Níger, Indonésia e Kiribati, nação insular do Pacífico, juntamente com acadêmicos de topo e dirigentes de fundações – foi formada para propor novas estratégias para mitigar os riscos de ultrapassar a meta do Acordo de Paris.
A redução das emissões de CO2, metano e outros gases que aquecem o planeta continua a ser a principal prioridade, afirmou.
Em linha com as conclusões e objectivos políticos do IPCC e da Agência Internacional de Energia (AIE), o seu relatório também apelou ao reforço de tecnologias para desviar o CO2 da indústria e da produção de energia, e para removê-lo diretamente da atmosfera.
Mas as conclusões mais esperadas da comissão foram sobre o SRM.
Os métodos de modificação da radiação solar incluem o brilho das nuvens marinhas, semeando-as com partículas de sal do oceano e a colocação de espelhos gigantes no espaço para refletir a luz do Sol da Terra.
Mas a técnica que se acredita ter o maior potencial é a injeção de aerossóis – especialmente partículas de enxofre – na estratosfera para refletir a luz solar de volta ao espaço.
A natureza por vezes faz o mesmo: a violenta erupção do Monte Pinatubo, nas Filipinas, em 1991 – que expeliu milhões de toneladas de poeira e detritos – baixou as temperaturas globais durante cerca de um ano, especialmente no Hemisfério Norte.
Mas há provas crescentes de que as vantagens do arrefecimento da superfície da Terra devem ser ponderadas em relação aos efeitos secundários indesejados.
O enfraquecimento artificial da força radiativa do Sol poderá perturbar as chuvas de monções no Sul da Ásia e na África Ocidental e poderá devastar as colheitas de sequeiro, das quais centenas de milhões de pessoas dependem para se alimentar, mostraram vários estudos.
Poderia também reverter o progresso na recuperação da camada de ozono que protege a vida na Terra da radiação ultravioleta mortal, de acordo com o relatório de Avaliação Científica da Destruição da Camada de Ozono no início deste ano.
Os cientistas também alertam que a superfície da Terra aqueceria rapidamente se a propagação de partículas bloqueadoras do Sol na atmosfera parasse repentinamente, o que é conhecido como “choque de terminação”.
Com poucas excepções – como o México, que proibiu experiências de geoengenharia solar – a maioria dos governos ainda não implementou regulamentos que regem a SRM.
Traduzido por Mateus Lynniker de ScienceAlert
