Por Patrick Galey
Publicado na ScienceAlert
As futuras pandemias acontecerão com mais frequência, matarão mais pessoas e causarão danos ainda piores à economia global do que a COVID-19, sem uma mudança fundamental na forma como os humanos tratam a natureza, disse o painel de biodiversidade das Nações Unidas na quinta-feira.
Advertindo que existem até 850.000 vírus que, como o novo coronavírus, hospedam-se em animais e podem infectar pessoas, o painel conhecido como IPBES (Painel Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos) disse que as pandemias representam uma “ameaça existencial” para a humanidade.
Os autores do relatório especial sobre biodiversidade e pandemias disseram que a destruição do habitat e o consumo incontrolável tornam as doenças transmitidas por animais muito mais prováveis de atingir as pessoas no futuro.
“Não há grande mistério sobre a causa da pandemia da COVID-19 – ou qualquer pandemia moderna”, disse Peter Daszak, presidente da Ecohealth Alliance e do workshop do IPBES que elaborou o relatório.
“As mesmas atividades humanas que impulsionam as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade também geram o risco de pandemia por meio de seus impactos em nossa agricultura”.
O painel disse que a COVID-19 foi a sexta pandemia desde o surto de influenza de 1918 – todas as quais foram “inteiramente impulsionadas por atividades humanas”.
Isso inclui a exploração insustentável do meio ambiente por meio do desmatamento, expansão agrícola, comércio de animais selvagens e consumo incontrolável – todos os fatores que colocam os humanos em contato cada vez mais próximo com animais selvagens e de pecuária e as doenças que eles carregam.
Setenta por cento das doenças emergentes – como Ebola, Zika e HIV/AIDS – são de origem zoonótica, o que significa que circulam em animais antes de chegarem aos humanos.
Cerca de cinco novas doenças surgem entre os humanos a cada ano, e qualquer uma delas tem potencial para se tornar uma pandemia, alertou o painel.
Uso da terra
O IPBES afirmou em sua avaliação periódica sobre a natureza global no ano passado que mais de três quartos das terras da Terra já foram gravemente degradadas pela atividade humana.
Um terço da superfície da terra e três quartos da água doce do planeta são usados atualmente pela agricultura, e o uso de recursos da humanidade disparou 80% em apenas três décadas, disse o relatório.
O IPBES conduziu um workshop virtual com 22 especialistas renomados para apresentar uma lista de opções que os governos poderiam adotar para reduzir o risco de pandemias recorrentes.
Ele reconheceu a dificuldade em contabilizar o custo econômico total da COVID-19.
Mas a avaliação apontou para custos estimados de até US$16 trilhões aos EUA em julho de 2020.
Os especialistas disseram que o custo de prevenir futuras pandemias provavelmente será 100 vezes mais barato do que de responder a elas, “fornecendo fortes incentivos econômicos para mudanças transformadoras”.
“Nossa abordagem efetivamente estagnou”, disse Daszak. “Ainda contamos com as tentativas de conter e controlar as doenças depois que elas surgem, por meio de vacinas e meios terapêuticos”.
‘Lembrete essencial’
O IPBES sugeriu uma resposta global coordenada à pandemia e que os países concordassem com metas para prevenir a perda de biodiversidade dentro de um acordo internacional semelhante ao acordo de Paris sobre mudanças climáticas.
Entre as opções para os formuladores de políticas reduzirem a probabilidade de uma nova pandemia parecida com a da COVID-19 estão os impostos ou taxas sobre o consumo de carne, produção de gado e outras formas de “atividades de alto risco de pandemia”.
A avaliação também sugeriu uma melhor regulamentação do comércio internacional de vida selvagem e o empoderamento das comunidades indígenas para melhor preservar os habitats selvagens.
Nick Ostle, pesquisador do Centro Ambiental de Lancaster CEH, da Universidade de Lancaster, disse que a avaliação do IPBES deveria servir como um “lembrete essencial” de como a humanidade depende da natureza.
“Nossa saúde, riqueza e bem-estar dependem da saúde, riqueza e bem-estar de nosso meio ambiente”, disse Ostle, que não esteve envolvido no processo de pesquisa.
“Os desafios dessa pandemia destacaram a importância de proteger e restaurar nossos sistemas ambientais de ‘suporte à vida’ globalmente importantes e compartilhados”.