Por Nicoletta Lanese
Publicado na Live Science
Uma perna de dinossauro imaculadamente preservada descoberta na Dakota do Norte, EUA, pode ser uma relíquia do dia em que um asteroide maciço atingiu a Terra, encerrando a era dos dinossauros não-aviários, afirmam cientistas. Dito isto, nem todos os especialistas estão convencidos de que o dinossauro realmente morreu naquele dia fatídico há 66 milhões de anos.
Uma equipe liderada por Robert DePalma, estudante de doutorado na Universidade de Manchester, descobriu a perna fossilizada, que ainda tem pele. Com base em onde a perna foi encontrada no depósito fóssil, a equipe sugeriu que o dinossauro morreu e foi soterrado durante o famoso impacto do asteroide, informou a BBC News. O espécime ainda não foi descrito em uma revista científica revisada por pares.
De acordo com Paul Barrett, pesquisador emérito do Museu de História Natural de Londres, a perna pertence a um Tescelossauro, um dinossauro herbívoro cujo nome significa “lagarto maravilhoso” em grego antigo. “É de um grupo que não tínhamos nenhum registro anterior de como era sua pele, e mostra de forma muito conclusiva que esses animais eram muito escamosos como lagartos”, disse Barrett à BBC News. “Eles não eram emplumados como seus contemporâneos carnívoros”.
Com base em seu exame do fóssil, Barrett disse que a perna do dinossauro provavelmente foi arrancada muito rapidamente, e o membro não apresenta sinais de doença ou de ter sido destroçado por carniceiros. Barrett examinou o fóssil em nome da BBC One, que em breve estreará um documentário sobre o sítio paleontológico da Dakota do Norte onde o espécime foi recuperado.
A BBC One também chamou Steve Brusatte, paleontólogo de vertebrados e biólogo evolutivo da Universidade de Edimburgo, na Escócia, como consultor externo do projeto. Brusatte disse à BBC News que ele é cético em relação à ideia de que o Tescelossauro morreu no dia exato em que o asteroide que matou os dinossauros veio caindo do céu e abriu um enorme buraco, conhecido como cratera de Chicxulub, na Península de Iucatã.
É possível que o Tescelossauro e outros animais descobertos no sítio paleontológico da Dakota do Norte tenham morrido dias ou anos antes, mas foram descobertos violentamente durante o impacto do asteroide e depois enterrados novamente junto com detritos do evento que mudou o planeta, disse Brusatte.
O sítio paleontológico da Dakota do Norte, conhecido como Tanis, atraiu ceticismo semelhante no passado, informou a revista Science em 2019.
Naquele ano, Robert DePalma, então estudante de pós-graduação em paleontologia na Universidade do Kansas (EUA), e seus colegas relataram encontrar no local peixes fossilizados cujas brânquias estavam crivadas de pequenas esferas de vidro chamadas esférulas. Esses peixes de água doce incluíam esturjões e regalecos e foram encontrados misturados em um depósito de 1,3 metro de espessura, cercado por restos dispersos de troncos de árvores e lama espessa salpicada de mais esférulas de vidro, segundo a Science.
Em seu estudo de 2019, a equipe determinou que essas esférulas de vidro tinham cerca de 65,8 milhões de anos e teorizou que elas se formaram a partir de rocha derretida que foi lançada ao céu durante o impacto de Chicxulub. Eles sugeriram que os animais fossilizados em Tanis foram inicialmente depositados lá por violentas ondas sísmicas que irradiaram do local do impacto, a cerca de 3.000 quilômetros de distância, informou a Science.
“Aqueles peixes com esférulas em suas guelras foram um cartão de visitas absoluto para o asteroide”, disse Brusatte à BBC News. “Mas para algumas das outras alegações – eu diria que eles têm muitas evidências circunstanciais que ainda não foram apresentadas ao júri”.
Além do peixe cheio de vidro, a equipe relatou encontrar os restos fossilizados de uma tartaruga e pequenos mamíferos; a pele de um Triceratops; um embrião de pterossauro preso dentro de um ovo; e um fragmento do que pode ser parte do próprio asteroide de impacto, de acordo com a BBC News.
“Para algumas dessas descobertas, porém, importa se elas morreram no dia ou anos antes?”, disse Brusate. “O ovo de pterossauro com um bebê pterossauro dentro é super-raro; não há nada parecido na América do Norte. Nem tudo tem que ser sobre o asteroide”.