Um método muito interessante para perceber com maior clareza os possíveis cenários futuros da COVID-19 e seus impactos é realizar simulações. Pesquisadores brasileiros desenvolveram um ambiente de simulação de contágio a partir de um modelo de sistemas complexos, conhecido como NetLogo. Nele, é possível corroborar com o que os especialistas e órgãos mundiais defendem como método mais eficaz contra a COVID-19, o isolamento social. Somente o isolamento social é capaz de dar uma resposta adequada às enormes consequências socioeconômicas da pandemia.
O simulador “Modelo de Dispersão do Coronavírus” foi desenvolvido pelos docentes da Universidade Federal do ABC, José Paulo Guedes Pinto, doutor em Economia, e Carlos da Silva dos Santos, doutor em Ciência da Computação, em conjunto com Patrícia Camargo Magalhães, pós-doutoranda na Universidade de Bristol, Reino Unido.
Através do simulador, é possível identificar que sem o isolamento social as áreas urbanas com maior densidade demográfica teriam quase 90% de sua população infectada no momento de pico. Por outro lado, o modelo apresenta um considerável “achatamento da curva” de contágio se o isolamento social for consistente e atingir 90% da população. O isolamento social é defendido pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como forma de evitar o colapso dos sistemas de saúde no Brasil e no mundo em decorrência do número muito elevado de casos graves da doença.
O simulador é simples e tem acesso livre. Qualquer pessoa pode ajustar as variáveis que deseja para realizar simulações. No Modelo de Dispersão do Coronavírus é possível manipular as variáveis do ambiente como o número de pessoas, a porcentagem dos confinados e o número de infectados inicialmente. Há ainda as variáveis referentes ao vírus como a chance de transmissão e recuperação, o período de transmissão e o tempo de imunidade. A partir dessas variáveis, é possível construir possíveis cenários futuros que nos permitem constatar a importância do isolamento social.
O modelo ainda aponta para um cenário preocupante: o surgimento de novos surtos da doença. Caso as medidas de distanciamento social não sejam efetivadas com responsabilidade e seu término seja feito de maneira apressada, novos surtos serão desencadeados com a reintrodução do vírus no ambiente. É por esse motivo que a saída do confinamento deve ser gradual e responsável. Além disso, com novos surtos à vista, será necessário que o isolamento social se repita periodicamente até que medicamentos e vacinas eficazes sejam desenvolvidas.