Publicado na Université Laval
Pesquisadores do centro de pesquisa da Universidade Laval editaram com sucesso o genoma de células humanas cultivadas in vitro para introduzir uma mutação que fornece proteção contra a doença de Alzheimer. Os detalhes deste avanço foram publicados recentemente no The Crispr Journal.
“Algumas mutações genéticas aumentam o risco do desenvolvimento da doença de Alzheimer, mas nenhuma mutação reduz o risco”, disse o coordenador da pesquisa Jacques-P. Tremblay. “Essa é uma mutação rara que foi identificada em 2012 na população da Islândia. A mutação não acarreta em nenhuma desvantagem biológica para aqueles que a portam e reduz o risco do desenvolvimento da doença de Alzheimer. Usando uma versão melhorada da ferramenta de edição genética CRISPR, nós fomos capazes de editar o genoma de células humanas e inserir essa mutação”.
Os cérebros das pessoas com Alzheimer possuem placas amilóides cujo nível de toxicidade acredita-se ser a causa da morte dos neurônios. Essas placas são formadas quando a proteína precursora de amilóide é clivada por uma enzima chamada beta-secretase. “A mutação encontrada na população da Islândia faz com que seja difícil a enzima clivar a proteína precursora de amilóide. Como resultado, a formação de placas amilóides é reduzida”, explicou o professor Tremblay.
Em teoria, introduzir uma mutação da população da Islândia no genoma de pessoas com risco de desenvolver Alzheimer poderia prevenir ou entardecer a progressão da doença. “Infelizmente, nós não podemos voltar no tempo e reparar o dano que causou a morte dos neurônios”, disse o pesquisador. “O tratamento, dessa forma, seria adequado para pessoas de famílias afetadas pela forma hereditária da doença, cujos problemas de memória se manifestam entre as idades de 35 à 40 anos. Se bem sucedido, também pode possuir o potencial para ser usado no tratamento de pessoas com a forma mais comum de Alzheimer, que ocorre depois dos 65 anos, nos primeiros sinais da doença”.
“O desafio agora é encontrar uma maneira de editar o genoma de milhões de células cerebrais”, disse o professor Tremblay. “Nós estamos à procura de diferentes possibilidades para alcançar edições mais complexas dentro dos neurônios, incluindo o uso de vírus não infecciosos. Agora que a prova de conceito foi estabelecida em células humanas cultivadas in vitro, nós podemos testar esta abordagem em camundongos que apresentam a doença de Alzheimer. Se as descobertas forem conclusivas, nós esperamos ser capazes de conduzir um estudo em pequena escala em pessoas com mutações que causam o aparecimento de Alzheimer entre as idades de 35 e 40 anos.