Por Russell Blackford
Publicado no New Philosopher
Nós frequentemente mudamos de ideia – geralmente sobre coisas triviais como os planos para o jantar de hoje à noite, mas às vezes sobre ideias de grande importância para nós. Por exemplo, uma pacifista pode descobrir que ela concorda com o envolvimento de seu país em uma guerra em particular e isso pode, por sua vez, levá-la a uma visão mais geral sobre as circunstâncias pelas quais ir para a guerra é justificado. Um soldado de carreira pode se tornar um pacifista, talvez após experimentar o terror e o sofrimento da guerra em primeira mão.
Por que mudamos de ideia sobre questões importantes? Podem haver várias razões. Frequentemente, nossas ideias parecem desenvolver-se naturalmente. À medida que amadurecemos, vemos mais do mundo e começamos a encontrar nosso lugar nele. Ao longo do tempo, um ponto de vista que se formou a partir de nossa base anterior de conhecimento e experiência de mundo pode parecer ingênuo. Em outros casos, uma mudança de ideia pode ser mais súbita, talvez. provocada por uma experiência emocionalmente carregada ou um novo item de informação vital. Para algumas pessoas, a mudança de ideia pode vir de se imaginar uma perspectiva diferente ao ler um romance vividamente elaborado ou assistir a um filme fascinante.
Quando mudamos de ideia sobre questões importantes, tendemos a acreditar que tivemos um progresso intelectual ou moral. Isto é, nós pensamos que nossas novas visões são mais próximas da verdade do que as antigas. Infelizmente, não se pode garantir isso. Uma preocupação é que as outras pessoas podem estar mudando de ideia em uma direção completamente oposta a nossa. De pacifista, talvez. você tenha passado a pensar que algumas guerras são moralmente justificadas; porém, você vê outra pessoa – alguém que parece inteligente, bem-informada e sensível às complexidades da vida – tornar-se uma pacifista que rejeita qualquer justificativa para a guerra. Vocês dois podem ter desenvolvido posições e argumentos mais sofisticados, o que é, indiscutivelmente, um tipo de progresso, mas é improvável que ambos estejam mais próximos da verdade.
Do ponto de vista de outra pessoa, o mero fato de que eu tinha uma posição diferente da atual é só uma fraca evidência de que a minha posição atual seja verdadeira, ou mesmo de que ela esteja mais próxima da verdade do que aquela na qual eu anteriormente acreditava. Se quero convencer-lhe a mudar de ideia na mesma direção que eu, é melhor que eu ofereça uma crítica racional de minhas crenças antigas e alguma justificação para as novas.
A menos que eu lhe conte muito mais sobre o processo, você pode imaginar se eu mudei de ideia por razões intelectualmente fracas. Talvez eu tenha mudado para crenças que eram mais reconfortantes do que as antigas em uma época de minha vida na qual eu estava afligido por fracasso e perda. Ou talvez eu tenha rejeitado uma posição defensável por raiva de algum de seus proponentes. Ou talvez eu tenha balançado por causa da posição de uma carismática celebridade.
Nada disso significa que você não pode mudar de ideia sobre questões de importância intelectual ou moral. Ao contrário, nós todos tendemos a nos agarrar a quaisquer visões que tínhamos de início, recebendo bem as evidências que as favorecem enquanto alegremente racionalizamos para longe as evidências em contrário. Esse é o bem conhecido viés de confirmação, um dos diversos vieses cognitivos e atalhos mentais potencialmente enganadores estudados por psicólogos. O viés é mais forte quando nossas visões iniciais são emocionalmente importantes para nós ou são parte da concepção que temos de nós mesmos. Nós deveríamos estar abertos a mudar de ideia, e precisamos enfrentar os efeitos do viés de confirmação, mas as maneiras mais efetivas de nos fazer mudar frequentemente apelam mais a nossas emoções do que a nossas faculdades de raciocínio.
Como ocorre com a maior parte das coisas sobre as quais vale a pena pensar a respeito, há algumas complicações. Mesmo más razões para se mudar de ideia podem não ser sempre completamente ruins! Se eu mudo de ideia para ser mais parecido com alguém que eu admiro, essa é uma razão intelectualmente fraca. O que acontece, contudo, se a surpresa de descobrir que alguém que eu admiro defende uma posição particular que eu rejeito – pacifismo, por exemplo – me fizer sentir mais aberto para explorar as reais evidências? Isto é, isso pode me ajudar a superar o meu viés de confirmação e tratar as evidências contrárias à minha posição com mais justiça. Parece bom, contanto que sejam as evidências e os argumentos que me influenciem.
Caso eu leia a história detalhada de alguém que passou das minhas ideias atuais para ideias que eu rejeito, isso, novamente, pode se opor ao meu viés de confirmação. Qualquer coisa que possa nos ajudar a abrir nossas mentes para evidências e argumentos contrários a nossas ideias atuais – e, talvez, em favor de ideias que nos tirem de nossa zona de conforto – é potencialmente útil. O progresso – tanto intelectual quanto moral – é possível, e há várias maneiras de desafiar os nossos vieses cognitivos e os dos outros. No entanto, pode haver uma linha fina entre algumas dessas táticas e a propaganda baseada em manipulação emocional.
Quer você esteja defendendo suas ideias atuais ou considerando novas ideias, um bom teste é tentar imaginar como as evidências e a lógica dos argumentos o afetariam se você fosse um observador racional que ainda não as aceita, mas que não é resistente a elas meramente por causa do viés de confirmação ou do desconforto emocional. Esta é uma versão do outsider test, do cético de religiões americano John W. Loftus. Se uma ideia passa neste teste, pode valer a pena seguir com ela ou adotá-la.
Na próxima vez que você tiver a oportunidade, por que não tentar por conta própria?