Pular para o conteúdo

Por que presumimos que os extraterrestres podem querer nos visitar?

Por Avi Loeb
Publicado na Scientific American

É presunçoso presumir que merecemos atenção especial de espécies avançadas da Via Láctea. Podemos ser um fenômeno tão desinteressante para eles quanto as formigas são para nós. Afinal, quando estamos andando pela calçada, raramente examinamos todas as formigas ao longo de nosso caminho.

Nosso Sol se formou no final da história de formação de estrelas do universo. A maioria das estrelas é bilhões de anos mais velha que a nossa. Muitas estrelas semelhantes ao Sol já consumiram seu combustível nuclear e se resfriaram a um remanescente compacto do tamanho da Terra conhecido como anã branca. Também aprendemos recentemente que metade de todas as estrelas semelhantes ao Sol hospeda um planeta do tamanho da Terra em sua zona habitável, permitindo a água líquida e a química da vida.

Visto que as probabilidades da vida foram distribuídas em bilhões de outros locais da Via Láctea sob condições semelhantes às da Terra, a vida como a conhecemos é provavelmente comum. Se for esse o caso, algumas espécies inteligentes podem estar bilhões de anos à nossa frente em seu desenvolvimento tecnológico. Ao pesar os riscos envolvidos nas interações com culturas menos desenvolvidas como a nossa, essas civilizações avançadas podem optar por evitar o contato. O silêncio implícito no paradoxo de Fermi (“Onde estão todos?”) pode significar que não somos os biscoitos mais dignos de atenção no pacote.

Para imaginar como essa vida se pareceria aos humanos, é razoável olhar no espelho. Essa abordagem se baseia na suposição normal de que cada um de nós compartilha uma ancestralidade genética comum com todas as pessoas. Mas esse pode não ser o caso da vida que se desenvolveu independentemente em outros planetas. Por exemplo, animais e vegetação no exoplaneta habitável mais próximo, Proxima Centauri b, podem ser chocantemente diferentes daqueles da Terra. Em particular, os animais podem possuir olhos de aparência estranha, otimizados para detectar a radiação infravermelha emitida pela Proxima Centauri, uma estrela anã com metade da temperatura da superfície do Sol.

Uma vez que Proxima b está 20 vezes mais perto de sua estrela do que a Terra está do Sol, presumimos que ela esteja acoplada por marés, mostrando a mesma face para sua estrela o tempo todo, assim como a Lua sempre mostra a mesma face para nós. As espécies que residem em seu lado diurno permanente podem ser completamente diferentes daquelas em seu lado noturno mais frio, exibindo padrões distintos de sono forçado. Qualquer vegetação na superfície do planeta se adaptaria à captação de luz infravermelha, apresentando uma “borda vermelha” em um comprimento de onda maior do que as plantas na Terra. Como resultado, a grama do quintal do nosso vizinho pode ser vermelha-escura e não verde como o nossa.

É ainda mais difícil prever como as tecnologias com bilhões de anos se pareceriam. Ao procurá-las, devemos sinalizar anomalias vistas por nossos telescópios e não varrer sinais inesperados para debaixo do tapete do conservadorismo. Se nossos instrumentos não forem sensíveis o suficiente ou nossas técnicas de pesquisa forem inadequadas, não descobriremos tecnossignaturas. O processamento de dados sem algoritmos de aprendizagem de máquina adequados pode ser semelhante ao lançamento de uma rede de pesca ineficaz que nunca captura peixes porque seus buracos são muito grandes.

Projetamos nossas pesquisas com base no que vemos no espelho. Depois que a comunicação por rádio e os lasers foram inventados, começamos a pesquisar sinais de rádio e laser do espaço sideral; as considerações de busca progrediram de maneira semelhante com a tecnologia das velas solares. À medida que imaginamos novas tecnologias, podemos finalmente encontrar aquela que nos permitiria detectar muitas outras espécies que a usam.

No entanto, devemos ter cuidado com observações anedóticas que não estão de acordo com os padrões das evidências científicas quantitativas. Isso inclui teorias da conspiração sem evidências que as sustentam, que aparecem com alguma regularidade, ou relatórios sobre objetos voadores não identificados (OVNIs), que não resistem a reprodutibilidade – o pré-requisito para serem contados como dados científicos confiáveis. Relatórios de OVNIs fornecem pistas que estão sempre no limite da detectabilidade. Como nossos dispositivos de registros melhoraram consideravelmente ao longo do tempo, seria de se esperar que uma foto borrada tirada por uma câmera antiga de 50 anos atrás se transformasse em uma imagem nítida nas câmeras avançadas de hoje, fornecendo evidências conclusivas além de qualquer dúvida razoável.

Mas as pistas levam sempre para coisas ordinárias, sugerindo que os OVNIs são provavelmente artefatos em nossos instrumentos ou fenômenos naturais. Para alcançar credibilidade científica, qualquer descoberta de um objeto incomum deve ser seguida pelo estudo do mesmo ou de outros objetos de seu tipo quantitativamente por meio de procedimentos científicos bem documentados. A evidência científica restringe nossa imaginação e traz a tona ideias mais rebuscadas.

O paradoxo de Fermi é pretensioso por assumir que nós, humanos, temos algum tipo de significado cósmico. A realidade pode ser que sejamos comuns e condenados a perecer, assim como os dinossauros, em consequência de alguma catástrofe. Por que nossos vizinhos galácticos se importariam com o quão verde nossa grama é? Dado que estrelas anãs como Proxima Centauri são muito mais abundantes que o Sol, a maioria dos planetas habitáveis ​​pode ser coberta com grama vermelha-escura, o que seria tão reconfortante para os olhos infravermelhos da maioria dos extraterrestres quanto a grama verde é para nós. Como resultado, as agências de turismo interestelar podem considerar Proxima b um destino mais atraente do que a Terra. Poderíamos nos perguntar, como Enrico Fermi se perguntou, por que nenhum exoturista apareceu para nos admirar. Melhor ainda, poderíamos entrar em contato com Proxima b e incentivar os moradores a nos visitar e compartilhar uma bebida à base de água.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.