Uma defesa ao médico Hahnemann, mas não à homeopatia

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Uma das missões do Universo Racionalista, como um portal que combate o obscurantismo, é criticar fortemente as chamadas pseudociências. Mas será que elas sempre puderam ser chamadas de pseudociências? Será que todas elas surgiram de crenças infundadas, asneiras ou em algum momento essas ideias pareciam fazer algum sentido? Os homens que desenvolveram as pseudociências eram mal intencionados ou apenas equivocados?

Durante a história da ciência surgiram diversas hipóteses que para suas respectivas épocas absurdas mas hoje sabemos que são verdadeiras. Por exemplo, antes de Galileu fazer seus experimentos sobre a queda dos corpos ninguém em sã consciência iria supor que o tempo de queda de dois corpos de massas diferentes a mesma altura seriam iguais. Isso parecia absurdo, mas felizmente alguém decidiu verificar e hoje sabemos que é verdade.

Mas também apareceram outras hipóteses que pareciam ser completamente plausíveis e que hoje sabemos que são completamente absurdas. Por exemplo, Leonardo da Vinci gastou anos de sua vida tentando desenvolver uma máquina que fosse capaz de gerar eternamente, máquina de moto perpétuo, pois em sua época era algo que parecia ser completamente plausível, não havíamos desenvolvido a termodinâmica ainda para saber que não é possível a existência de um sistema físico sem dissipações. Mais homens brilhantes gastaram seu tempo tentando coisas que hoje sabemos não fazer sentido algum. Newton tentou transformar chumbo em ouro através da alquimia e Kepler era astrólogo.

Note que na época essas que nessas épocas isso é considerado fazer ciência e de fato eram, esses homens estavam tentando produzir conhecimento científico e portanto eram cientistas. Mas e os caras de hoje que permanecem tentando criar máquinas de moto perpétuo e achar a pedra filosofal? Esses não são cientistas, mas sim pseudocientistas, pois insistem em seguir um caminho que já foi demonstrado não ser verdadeiro. Criam teorias extraordinárias, que em sua grande maioria não podem sequer ser falseadas e usam e abusam de argumentos de autoridade, sempre evocando cientistas brilhantes como os que citei anteriormente.

Observação: A partir deste ponto vou falar de Hahnemann, o criador da Homeopatia. Nem todas as informações que colocarei aqui são verdade, alias não posso afirmar isso sobre nenhuma delas. São apenas conjecturas baseadas no contexto histórico em que ele viveu.

Não vou falar aqui dos princípios básicos da homeopatia. Recomendo a leitura do artigo Uma introdução à Homeopatia, caso não conheça nada sobre o assunto.

Christian Friedrich Samuel Hahnemann, viveu entre 1755 e 1843. Na época a medicina e a farmacologia eram muito pouco desenvolvidas, sob nossa ótica atual não seriam nem consideradas ciências. Os métodos utilizados eram muito piores e muito mais absurdos do que a homeopatia e o mais comum era o de fazer sangrias. As sangrias consistiam em fazer cortes na pele dos enfermos e deixa-los sangrando até que o mal passasse, como se o mal fosse causado apenas por uma falha no sangue.

Após seus experimentos com sua nova técnica, a Homeopatia, Hahnemann chegou a conclusão que essa era uma forma eficaz de curar doenças. Ou seja, ele viu que uma grande parte dos pacientes que receberam tratamento com seus medicamentos se curou. Hoje sabemos que a homeopatia não funciona e o porque, por isso tendemos a inferir imediatamente que Hahnemann era um grande charlatão que forjou todos os resultados de seus experimentos. Mas se pararmos para pensar um pouco não é impossível que ele tenha realmente verificado que aqueles que recebiam a homeopatia era curados! Mas não por causa da homeopatia, mas sim porque não eram feitas sangrias neles! As sangrias na maioria das vezes matavam os enfermos antes da doença! Muitas doenças sequer eram capazes de matar, poderiam ser curadas apenas com repouso e higiene, ou seja, a ação do sistema imunológico (que sequer era conhecido).

Hahnemann pode ter apenas identificado uma correlação mas errado a causa, isso porque incluiu na sua análise apenas duas variáveis: Estado do paciente e Consumo de medicamento homeopático. Não incluiu tempo de repouso, condições de higiene etc. Seus pacientes não eram curados pela homeopatia, eles só não eram mortos pelas sangrias e o que os curavam eram seus próprios sistemas imunológicos.

Para explicar o funcionamento da homeopatia Hahnemann propôs que a água possui uma memória. Ai você pode dizer que ai ele extrapolou, que isso não faz sentido nenhum. Sim, mas na época fazia tanto sentido quando dizer que há características hereditárias em ervilhas. Não havia nada de errado em afirmar isso, ele achou que viu um efeito e atribuiu a ele um mecanismo desconhecido. Assim como Mendel e Darwin fizeram, a diferença é que os mecanismos necessários para corroborar suas teorias foram encontrados mas os de Hahnemann não. Além é claro de ter sido demonstrado que os efeitos de cura que ele observou não existem.

Hoje sabemos que a homeopatia não funciona, mas ainda há aqueles que insistem neste campo. Esses são pseudocientistas, insistem a eficácia do método, apelam para explicações esdrúxulas como a ação de forças sobrenaturais e descrições absurdas do suposto mecanismo de memória da água que envolvem geometria de moléculas e etc.

Minha conclusão é que bem provável que Hahnemann tenha sido um cientista que cometeu um grande equívoco devido as circunstâncias da época. Porém, seu equívoco, ao contrário de muitos outros, não foi descartado de vez e infelizmente deu origem a uma pseudociência.

O mito do ‘cérebro direito’ e ‘cérebro esquerdo’

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Crédito: Gil Aviyam.

Por Christian Jarrett
Publicado na Psychology Today

O mito do hemisfério esquerdo lógico e o hemisfério direito criativo tornou-se uma poderosa e útil metáfora para o entendimento do cérebro humano. Mas enquanto essa noção não é totalmente infundada, o psicólogo Christian Jarrett diz que devemos confrontá-la. Achar o que o modelo cérebro-esquerdo e cérebro-direito tem de correto – e como ela nos engana sobre o nosso próprio cérebro.

O mito dos hemisférios do cérebro provavelmente nunca vai morrer porque ele se tornou uma poderosa metáfora para diferentes formas de pensamento – um lado lógico, focado e analítico, contra um liberal e criativo. Pegue o exemplo do chefe britânico Rabbi Jonathan Sacks falando na Radio BBC 4: “O que faz a Europa acontecer e faz ela tão criativa,” ele explica, “é que o cristianismo era uma religião ligada ao lado direito do cérebro… traduzida para uma linguagem do lado esquerdo [Grego]. Então, por séculos você teve essa visão de que ciência e religião são essencialmente partes da mesma coisa.”

Bem como um apelo metafórico, a ideia sedutora do lado direito do cérebro e seu inexplorado potencial criativo também tem uma longa história de ser alvo de gurus de auto-ajuda vendendo pseudo-psicologia. Hoje, a mesma ideia é também explorada pelos criadores de jogos e aplicativos de auto-aperfeiçoamento. A última versão do aplicativo The Faces iMake-Right Brain Creativity para iPad, por exemplo, se vangloria de que “é uma extraordinária ferramenta para desenvolver as capacidades criativas do lado direito do cérebro”.

Há mais do que um grão de verdade para o mito dos hemisférios do cérebro. Embora eles sejam diferentes, os dois hemisférios do cérebro funcionam de formas diferentes. Por exemplo, já se tornou um conhecimento de senso comum que na maioria das pessoas o lado esquerdo é dominante para a linguagem. O lado direito, por outro lado, é mais ativo no processamento emocional e nas representações do estado mental dos outros. Entretanto, a distinção não é totalmente clara como o mito faz parecer. Por exemplo, o hemisfério direito está envolvido em processar alguns aspectos da linguagem, como a entonação e a ênfase.

Muito do que nós sabemos hoje sobre as diferenças entre os hemisférios veem dos notáveis estudos de divisão de cérebros que começaram nos anos sessenta. Essas pesquisas foram conduzidas com pacientes que tiveram o grosso feixe de fibras que ligam os hemisférios cortados como um último recurso para tratamento de epilepsia. Pesquisadores, incluindo os psicólogos Roger SperryMichael Gazzaniga, puderam estimular apenas um hemisfério por vez, e descobriram que as duas metades do cérebro agiram como entidades independentes, com diferentes estilos de processamento.

É também importante notar que o tipo de tarefa que envolve um hemisfério mais do que o outro nem sempre mapeia cuidadosamente os tipos de categorias que achamos útil falar nas nossas vidas cotidianas. Vamos pegar o exemplo da criatividade. Podemos achar ela um atalho útil para dividir tarefas entre aquelas que são criativas e aquelas que são repetitivas. Obviamente a realidade é bem mais complexa. Existem muitas maneiras de ser criativo.

Na verdade, alguns estudos mostraram que o hemisfério direito parece estar mais envolvido quando temos um lampejo de inspiração. Por exemplo, um estudo descobriu que a atividade cerebral era maior no hemisfério direito quando os participantes resolveram uma tarefa por inspiração ao invés de gradualmente. Outro mostrou que uma pequena exposição a quebra-cabeças é mais útil para o hemisfério direito do que o esquerdo, como se o direito estivesse mais próximo da resposta.

Mas inspiração é apenas um dos tipos de criatividade. Contar histórias é outro tipo. Uma das mais fascinantes revelações dos estudos de divisão de cérebros foi que o hemisfério esquerdo cria histórias para explicar o que o hemisfério direito tem que fazer, – o que Gazzaniga apelidou de “fenômeno intérprete”. Por exemplo, em um estudo uma paciente completou uma tarefa de correspondência de figuras usando a sua mão esquerda (controlado pelo hemisfério direito) para corresponder uma pá com uma tempestade de neve (mostrado apenas para o hemisfério direito). Foi perguntado ao paciente por que ele fez isso. Mas o seu hemisfério esquerdo (a fonte da fala) admitiu não saber de nada. Ao invés disso, ele confabulou, dizendo que chegou na pá para limpar o seu galinheiro (a imagem mostrada ao hemisfério esquerdo foi a de um pé de um pássaro).

Fazendo um resumo do estudo de divisão de cérebros em um artigo na Scientific American, Gazzaniga concluiu, baseado no fenômeno interprete e outros resultados, que o hemisfério esquerdo é “inventivo e interpretativo”, enquanto o direito é “verdadeiro e literal”. Isso parece em desacordo com o mito invocado por Rabbi Sacks e muitos outros pseudocientistas.

Suponho que o mito do cérebro esquerdo lógico e do cérebro direito criativo tem uma simplicidade sedutora. As pessoas podem perguntar: “que tipo de cérebro eu tenho?” e assim comprar um aplicativo para treinar a metade fraca. Eles podem categorizar linguagens e pessoas como tendo o cérebro direito predominante ou o esquerdo. É complicado combater essa crença dizendo que a verdade é bem mais complicada. Mas vale a pena tentar, porque seria uma vergonha se um mito simplista abafasse a história fascinante de como o nosso cérebro realmente funciona.

Referências

A Expansão do Universo não foi derrubada!

Crédito da Imagem: Defwalls.

Há um novo paper na International Journal of Modern Physics, que apresenta evidências de que o universo não está se expandindo. Sim, você ouviu isso direito. Se for verdade, com certeza, isso derrubaria décadas da teoria cosmológica. É o tipo de descoberta revolucionária que valeria um Prêmio Nobel. Vamos manter um pouco ceticismo antes mesmo da notícia circular nos principais veículos de informação, e não jogue seus velhos livros de astronomia fora, pelo menos ainda.

O paper centra-se num teste cosmológico conhecido como o teste Tolman. Foi proposto pela primeira vez em 1930 por Richard C. Tolman, e isso é feito comparando o brilho superficial das galáxias (brilho por área) aos seus redshifts (desvios para o vermelho). Se o universo fosse perfeitamente estático, então o brilho de uma galáxia distante deveria ser a mesma que a de uma galáxia próxima. Isto ocorre porque enquanto galáxias distantes aparecem ofuscantes, elas também parecem menores pelo mesmo valor, uma vez que o brilho e a área aparente em ambos seguem uma relação inversa do quadrado. Claro, sabemos que a maioria das galáxias têm redshifts, e isto serviria para escurecer uma galáxia ainda mais. Mas acontece que a quantidade de escurecimento extra é proporcional ao redshift. Assim, para um universo estático com redshift, o rácio de brilho superficial de redshift deve ser constante.

O teste de Tolman foi feito várias vezes antes, com milhares de galáxias, e os resultados concordam com os modelos de que o universo está em expansão. Então, o que tem de diferente neste paper? Ele não olha para um universo estático tradicional onde o redshift é devido ao movimento das galáxias em relação a nós, mas sim um universo estático alternativo onde a “era” luz passa por algum mecanismo desconhecido, de modo que ao longo do tempo apareça os redshifts. Desta forma, as galáxias distantes tem um redshift devido a sua tired light (envelhecida luz) ao invés do movimento relativo ou expansão cósmica. Por esse modelo, o brilho da superfície deve escurecer proporcional ao redshift.

Então, os autores comparam o brilho superficial, os redshifts de baixos redshifts e o alto redshift de galáxias espirais, e acham que os resultados estão de acordo com o seu modelo estático de tired light (o que eles chamam de modelo SEU). Eles, então, concluem que, embora o resultado não é por si só suficiente para derrubar o modelo do universo em expansão, mostra que mais pesquisas devem ser feitas do modelo SEU. Daí as manchetes “Universo não está se expandindo, dizem cientistas”.

Se você vai testar um modelo alternativo que exige a introdução de algum mecanismo desconhecido para redshift, você provavelmente deve comparar seus resultados com um modelo de universo em expansão para ver se o seu funciona melhor. Em particular, você provavelmente deve comparar seus dados com o modelo ΛCDM (a Energia Escura padrão/Matéria Escura/Universo em Expansão). Será que eles fizeram isso? Não. Em suas próprias palavras: “Neste trabalho, nós não comparamos os dados com o modelo ΛCDM. Nós só observamos que qualquer esforço para se ajustar esses dados para ΛCDM exige hipotetizar uma evolução do tamanho de galáxias com z”. Aparentemente, hipotetizar uma evolução do tamanho de galáxias é ruim, mas a introdução de um mecanismo desconhecido de tired light para preservar um universo estático está bom.

Há uma outra razão pela qual eles não compararam seus resultados com ΛCDM, e isso é porque iria coincidir igualmente bem com os dados. Tais comparações foram feitas antes, e eles oferecem suporte a ΛCDM. Na verdade, um estudo no início deste ano usou um teste cosmológico semelhante conhecido como o teste Alcock-Paczynski e compararam os resultados de uma série de modelos. O teste eliminou todos os dois modelos, ΛCDM e a estática tired light.

Claro, a tired light foi excluída por outra evidência observacional. Se vivêssemos em um universo estático de tired light, as galáxias distantes deveriam aparecer borradas (elas não aparecem), supernovas distantes não deveriam sofrer a dilatação do tempo pela expansão cósmica (elas sofrem) e não deveríamos ver a radiação cósmica de fundo (nós vemos).

Então, este paper mostra que o universo pode ser estático? Não. Eles não comparam os resultados com uma série de modelos de universo estático e em expansão para mostrar que o modelo estático funciona melhor. Eles assumiram um modelo estático de franja, projetado especificamente para combinar com o modelo de expansão padrão. Eles ainda afirmam isso em seu artigo: “Neste trabalho, reconsideramos o assunto adotando um universo euclidiano estático com uma relação linear de Hubble… resultando em uma relação entre o fluxo e a luminosidade que é virtualmente indistinguível daquele utilizado para os modelos ΛCDM.” Em outras palavras, eles escolheram o modelo de universo estático tired light, porque ele coincide com o modelo padrão de universo em expansão para o teste de Tolman.

Não é assim que a ciência funciona.


Artigo traduzido originalmente de Brian Koberlein. Selection Bias. 24 May 2014.


Referências Bibliográficas

Eric J. Lerner. UV surface brightness of galaxies from the local Universe to z ~ 5. International Journal of Modern Physics, Volume 23, Number 6. May 01, 2014.

M. López-Corredoira. Alcock-Paczyński Cosmological Test. The Astrophysical Journal, Volume 781 Number 2. Jan 14, 2014.

As mulheres são geneticamente protegidas do autismo, estudo sugere

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Crédito da Imagem: Julia Yellow.

São precisas muito mais mutações para que o autismo se instale nas mulheres do que nos homens, o que explica porque eles são quatro vezes mais propensos a ter a doença, de acordo com um estudo publicado em 26 de Fevereiro no American Journal of Human Genetics.

O estudo viu que as mulheres com autismo ou com atraso no desenvolvimento tendem a ter maiores perturbações nos seus genomas do que homens com os mesmos problemas. Mutações herdadas são, também, mais previsíveis de ser passadas de mães não afetadas do que de pais.

Juntos, os resultados sugerem que as mulheres são resistentes às mutações que contribuem para o autismo.

“Isto indica fortemente que elas são protegidas do autismo e do atraso no desenvolvimento e exigem uma maior carga mutacional ou mais sucessos mutacionais severos, com o fim de levá-los além do limite”, fala o pesquisador Evan Eichler, professor de Ciências do Genoma na University of Washington, em Seattle. “Homens, por outro lado, são bem menos robustos”

As evidências reforçam os estudos anteriores, mas não explicam o que confere a proteção do autismo nas mulheres. O fato de que o autismo é difícil de diagnosticar nelas talvez signifique que os estudos envolvam apenas as que são severamente afetadas e que podem ter, portanto, mais mutações, pesquisadores dizem.

“Os autores são os geneticistas, e a genética é fantástica” diz David Skuse, professor de Ciências Comportamentais e do Cérebro na University College London, e que não está envolvido no estudo. “Mas as questões sobre a apuração não são tratadas de forma adequada”

Carga Genética

O novo estudo parte do Simons Simplex Collection (SSC), um banco de dados de famílias que têm ao menos uma criança com autismo e pais e irmãos não afetados (Esse projeto é financiado pela Simons Foundation, organização-mãe da SFARI.org). Em um estudo de 2011, pesquisadores descobriram que as garotas com autismo no SSC tendiam a ter maiores duplicações ou deleções das regiões do genoma, chamadas de número de cópias variantes (CNVs), do que os garotos com o transtorno, embora que essa disparidade não tenha atingido significância estatística.

Pelo novo estudo, Eichler e seus colegas catalogaram o número de cópias variantes em 109 garotas e 653 garotos do SSC. Eles descobriram que as meninas eram duas vezes mais tendenciosas a realizar CNVs que os homens .

Quando os pesquisadores analisaram apenas os CNVs que representam genes de risco para transtornos de neurodesenvolvimento, eles descobriram que as garotas com autismo são três vezes mais tendenciosas que os homens para carregá-los.

Garotas com autismo também carregam mutações ligeiramente mais raras que mudam um único nucleotídeo do DNA em relação aos homens. Esta é a “mais horrível de todas as mutações”, diz Eichler, porque ela interfere nas funções das proteínas.

Os pesquisadores viram um efeito similar, mas pequeno, dos CNVs em um grande grupo de 9.206 homens e 6.379 mulheres submetidos a um teste genético, onde cerca de 75% de todos era tendencioso a ter um atraso no desenvolvimento, distúrbio intelectual ou autismo. As mulheres neste grupo têm 1,28 vezes mais aptidão que os homens para adquirir CNVs.

Muitas mutações ligadas ao autismo surgem espontaneamente e cerca de 80% delas estão ligadas à uma herança genética do pai. Porém, Eichler e seus colegas descobriram que as mulheres tem uma maior probabilidade de transmitir mutações genéticas através da hereditariedade, relacionadas ao autismo, do que os homens.

Dos 27 grandes transtornos CNVs que os pesquisadores identificaram no grupo do SSC, 70% foram herdados da mãe. As mães passaram, similarmente, cerca de 57% das 3.561 CNVs detectadas no outro grupo.

Eichler pretende estender o se trabalho para um estudo maior para avaliar se certas mutações são mais fáceis de ser herdadas do que outras. “Eu acho que é verdadeiramente crítico identificar esses componentes de hereditariedade”, ele diz. “Nós sabemos que eles estão lá, mas nós temos que focar na identificação de genes específicos”

Entretanto, não está claro se essa diferença de gêneros é o resultado da genética ou se reflete a diferença de diagnósticos ou a forma como as garotas manifestam os sintomas no transtorno. Mulheres com autismo tendem a compensar ativamente seus sintomas de forma que os homens não fazem, o que pode contribuir para a discrepância, diz Skuse.

Como resultado, as garotas envolvidas nos estudos talvez tendem a ser mais severamente afetadas e a carregar mutações múltiplas. “Há alguma sugestão de que as garotas de maior funcionamento estão na população em geral”, ela diz.

O estudo também não conclui porque as garotas com autismo transmitem mais mutações, ou como elas são protegidas do autismo.

“Nós precisamos nos perguntar qual a causa no desenvolvimento cerebral que faz com que as garotas fiquem mais protegidas – porque, em última instância, é o que nós queremos saber”, diz Aravinda Chakravarti, diretora do Centro de Doenças de Genoma na Johns Hopkins University School of Medicine, em Baltimore. “Nós precisamos recriar esse ambiente de desenvolvimento”

A mais óbvia explicação do “preconceito de gênero” do autismo é porque os homens têm apenas um cromossomo X e eles são hipersensíveis às mutações deste. Seguindo esta teoria, vários genes do autismo estão ligado àquele cromossomo. No entanto, a maioria das mutações que demonstram um preconceito de gênero no novo estudo não estão no cromossomo X, sugerindo, assim, que outros fatores possam estar envolvidos.


Artigo publicado na Scientific American e Simons Foundation Autism Research Initiative com o título Girls protected from autism. 10 de Março de 2014.


Referências Bibliográficas:

Jacquemont S.. A higher mutational burden in females supports a “female protective model” in neurodevelopmental disorders. American Journal of Human Genetics. Feb 27, 2014.

Levy D.. Rare de novo and transmitted copy-number variation in autistic spectrum disorders. Neuron. May 15, 2011.