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Quarenta anos depois, a Voyager ainda se aventura pelo espaço

Publicado na Phys
Traduzido por Caio Cavalcante

Nós estamos sozinhos? Quarenta anos atrás, cientistas procuravam responder essa pergunta lançando as espaçonaves Voyager, sondas gêmeas que viajariam mais longe que qualquer outro objeto humano da história.

Elas ainda estão viajando.

O disco dourado da Voyager, que contém informações sobre a vida na Terra e sua localização. Créditos: NASA.

Quando a Voyager 1 e 2 foram lançadas em 1977 no Cabo Canaveral, na Flórida, os cientistas pouco sabiam sobre os planetas mais distantes do nosso sistema solar, e dificilmente poderiam imaginar sobre o escopo da odisseia espacial que estava por vir. “Nenhum de nós sabia, quando lançamos 40 anos atrás, que alguma coisa ainda estaria funcionando, e continuando nessa jornada pioneira”, disse o cientista do projeto Voyager Ed Stone.

A missão principal da Voyager era explorar outros planetas, incluindo Júpiter, Urano e Netuno, mas ela também carrega a história da humanidade pelo espaço profundo. A bordo de cada Voyager está um disco de ouro — e um toca-discos — que foi construído para durar um bilhão de anos ou mais, e contém informações importantes sobre a humanidade e a vida no planeta Terra, caso algum alien os encontre. Os sons incluem o chamado de baleias jubarte, a canção de Chuck Berry “Johnny B. Goode”, a Quinta Sinfonia de Beethoven, um shakuhachi japonês (um tipo de flauta), uma canção de iniciação das meninas pigmeiras, e saudações em 55 línguas.

O falecido astrônomo americano Carl Sagan, um dos principais cientistas envolvidos no projeto, também pediu a seu filho, Nick, que agora tem 46 anos, para gravar sua voz no disco. “Olá, das crianças do planeta Terra”, diz o jovem americano.

Um total de 115 imagens foram gravadas de forma analógica, incluindo a Grande Muralha da China, telescópios, pores do sol, elefantes, Jane Goodall com chimpanzés, um aeroporto, um trem, uma mãe amamentando, golfinhos e imagens de órgãos reprodutores humanos.

O disco pode ser escutado gratuitamente abaixo, ou pela sua página no Soundcloud.

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Explorando outros mundos

A Voyager 2 foi lançada primeiro, em 20 de Agosto de 1977, seguida pela Voyager 1 em 5 de Setembro, numa trajetória mais rápida e curta, que eventualmente a colocou na liderança. O timing da missão tirou vantagem de um alinhamento planetário raro que ocorre apenas a cada 175 anos, além de impulsos de “assistências gravitacionais” de planetas que minimizaram o combustível necessário.

Mas as Voyagers enfrentaram muitos desafios desde o começo, de orçamentos apertados aos limites da tecnologia moderna nos anos 70. Um cientista do projeto lembrou ter envolvido os cabos das Voyagers em papel-alumínio — do mesmo tipo vendido para uso culinário — para proteger a espaçonave de fritar com a alta radiação. O então presidente Richard Nixon queria conter a missão a um sobrevoo de dois planetas e 5 anos de vida, mas os cientistas que construíram as Voyagers planejaram uma missão mais longa, só por garantia.

A dupla cósmica partiu para revelar características planetárias diferentes de tudo que já vimos, incluindo detalhes sobre a superfície de Júpiter, com sua tempestade do tamanho de duas Terras, conhecida como a Grande Mancha Vermelha. “Aquelas eram, naquele tempo, imagens melhores que qualquer telescópio terrestre poderia prover”, disse Alan Cummings, um pesquisador sênior na Caltech que trabalhou no começo do projeto em 1973. A missão Voyager também descobriu os primeiros vulcões ativos além da Terra em Io, lua de Júpiter, e sinais de oceanos submersos em Europa, também lua de Júpiter. Em uma das luas de Saturno, Titã, foi descoberta a atmosfera mais parecida com a terrestre em nosso sistema solar, enquanto em Tritão, lua de Netuno, foram revelados gêiseres que expelem gelo.

Foto de Netuno tirada pela Voyager 2, produzida em 2014 pelas últimas imagens planetárias completas tiradas pelos filtros de verde e laranja. Créditos: NASA.

‘Apreciem aquele ponto azul’

Livros de astronomia foram reescritos em grande escala, graças à Voyager, que passou por Júpiter, Saturno, Netuno e Urano e “revolucionou a ciência da astronomia planetária”, disse a NASA em uma recordação online da famosa missão. Quando a Voyager não tinha mais nenhum planeta para encontrar em sua trajetória, Carl Sagan pediu para que suas câmeras fossem voltadas para a Terra para uma foto final do planeta que a enviou.

À 6.4 bilhões de quilômetros, as fotos foram tiradas no dia dos namorados de 1990.

A Terra apareceu como um minúsculo pontinho de poeira em um raio de sol, menos de um pixel na vastidão do espaço.

“Eu acho que essa perspectiva realça nossa responsabilidade de preservar e apreciar esse ponto azul, o único lar que temos”, disse Sagan em uma conferência de imprensa na época.

A fotografia, conhecida como “Pálido Ponto Azul”, tirada a pedido de Carl Sagan, mostra a Terra (dentro do círculo azul), como apenas um pontinho de luz, praticamente indistinguível de qualquer outro planeta ou estrela. A fotografia tornou-se muito famosa, rendendo até mesmo um livro, escrito por Sagan, e é usada até hoje como fonte de inspiração e considerado por muitos uma das fotos mais importantes já tiradas na astronomia. Sagan indicou que nesse ponto, “cada ser humano que já existiu viveu a sua vida”. Créditos: NASA.

Onde elas estão agora?

A Voyager 1 viajou mais longe que qualquer outra espaçonave humana, e chegou ao espaço interestelar, a cerca de 21 bilhões de quilômetros da Terra, em Agosto de 2012. A Voyager 2 está nesse caminho também, e é a única espaçonave que voou por todos os 4 planetas distantes no nosso sistema solar. As espaçonaves movidas à plutônio vão continuar até finalmente usarem todo seu combustível, e então vão orbitar o centro da Via Láctea.

Cummings disse que as câmeras pararam de funcionar há muito tempo, mas cinco instrumentos ainda coletam dados. Cientistas ainda ouvem sobre as espaçonaves Voyager diariamente, e esperam ainda coletar dados por mais outra década.

“Elas ainda estão descobrindo coisas novas porque estão indo onde nada jamais esteve”, disse Stone.

Caio Cavalcante

Caio Cavalcante

Sou Caio Cavalcante, de Fortaleza, Ceará. Colaborador do Universo Racionalista, sou tradutor de artigos. Graduando em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Ceará - UFC, me especializo em programação, design gráfico e web design. Entusiasta da ciência e do ceticismo, busco novas maneiras de levar a divulgação científica a todas as pessoas.