Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
Eles foram os maiores animais que já andaram na Terra: saurópodes, um ramo de dinossauros de tamanho e estatura tão imensos que, às vezes, são chamados de “lagartos do trovão”.
Esses enormes brutamontes – incluindo o brontossauro, o braquiossauro e o diplodoco, entre outros – precisavam de quatro pernas grossas e poderosas para sustentar e transportar seus corpos enormes. Pelo menos a maior parte do tempo. Possivelmente.
Alguns rastros antigos e misteriosos descritos em um estudo de 2019 poderiam oferecer um novo suporte para uma visão polêmica na paleontologia: que esses gigantes desajeitados, às vezes, andavam sobre duas pernas, não quatro, desmentindo o que seu status quadrúpede (e física simples) parecia exigir.
Por mais estranho que possa parecer, essa hipótese remonta a várias décadas, quando o pesquisador de fósseis Roland T. Bird identificou algumas pegadas incomuns de dinossauros deixadas nas terras de um rancho no condado de Bandera, Texas.
O que tornava as pegadas incomuns era que as marcas eram apenas manus, referindo-se às impressões das pegadas feitas pelos membros dianteiros, não pelos traseiros (conhecidos como pes).
“Sem dúvida foram feitas por um saurópode, mas, como eu as interpreto, foram feitas por um indivíduo enquanto nadava”, escreveu Bird em uma carta em 1940. “Todas eram impressões são típicas das patas dianteiras, como se o animal mal tivessem usado as traseiras”.
Com o tempo, a interpretação de Bird desses rastros impressos caiu em desuso, à medida que a paleontologia moderna percebeu que os saurópodes eram principalmente animais terrestres, não aquáticos, como se pensava.
A visão alternativa para explicar rastros apenas de manus como este é que as patas dianteiras dos saurópodes (suportando mais o peso corporal dos animais) são as únicas que deixam marcas de rastros em certos tipos de superfícies do solo, já que os membros posteriores, suportando menos peso, deixam menos impressão no solo e sedimentos.
Embora essa possa ser agora a interpretação geralmente preferida de pegadas de saurópodes apenas de manus, o caso de dinossauros pisando em corpos de água rasos na altura dos ombros em seus membros dianteiros (com os membros traseiros não alcançando o solo) nunca foi definitivamente arquivado.
Uma série de rastros de saurópodes no Texas deu aos paleontólogos a chance de reconsiderar os méritos dos argumentos.
As marcas foram identificadas pela primeira vez em 2007 em uma pedreira de calcário chamada Coffee Hollow, que faz parte da Formação Glen Rose, um sítio geológico que preserva inúmeras pegadas de dinossauros que datam de aproximadamente 110 milhões de anos atrás (no período Cretáceo).
Três diferentes rastros de saurópodes paralelos e impressos foram investigados no local por equipes da Universidade Purdue de Fort Wayne e do Museu de Ciências Naturais de Houston, com várias dezenas de pegadas individuais sendo preservadas para estudo (antes que as camadas superficiais fossem removidas para fins comerciais)
Embora não saibamos ao certo que tipo de saurópodes deixou essas marcas apenas de manus, os pesquisadores destacaram a possibilidade de que poderia ser um tipo diferente de dinossauro daqueles responsáveis por outras pegadas apenas de manus vistas anteriormente na Formação Glen Rose.
Dado o tamanho das pegadas (até cerca de 70 centímetros de comprimento e largura), é provável que as pegadas tenham pertencido a tipos maiores de saurópodes, e as marcas parecem ser “rastros verdadeiros” deixados na superfície superior, como oposto aos rastros inferiores (impressões feitas em camadas inferiores de sedimentos).
Quanto a saber se as marcas apoiam a ideia de pressão diferencial da pata ou de “comportamento incomum” (deixada por dinossauros semi-nadando ou andando em águas rasas), os pesquisadores disseram que é impossível ter certeza, mas reconhecem o que talvez seja mais provável, dado o peso do que outras evidências fósseis tendem a sugerir.
“Uma pressão diferencial maior exercida sobre o substrato pelas patas dianteiras do que pelos patas traseiras provavelmente explica os rastros de Coffee Hollow, como outros rastros de saurópodes apenas de manus, mas a possibilidade de que eles indiquem uma locomoção incomum não pode ser descartada no momento”, escreveram os autores em seu estudo.
“Embora a hipótese de um comportamento incomum não envolvesse necessariamente ‘nadar’, vale a pena considerar a possibilidade de que RT Bird possa estar correto ao pensar que (pelo menos alguns?) rastros de saurópodes apenas de manus da Formação Glen Rose foram feitos por dinossauros que estavam andando em águas profundas o suficiente para seus membros fazerem essa ‘pisadinha’, puxando-se pelos pés dianteiros, enquanto as pernas traseiras flutuam acima do fundo”.
Em última análise, a equipe disse que futuras descobertas serão necessárias para resolver a questão – o que significa que o saurópode da pisadinha ainda tem uma chance de entrar na realidade.
Os resultados são relatados em Ichnos.