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Relíquia perdida pode revelar origem de Stonehenge

Por Michael Price
Publicado na Science

Quando Robert Phillips se aproximava de seu aniversário de 90 anos, o velho especialista em diamantes decidiu devolver uma peça inestimável da história ao Reino Unido: um cilindro de rocha de 91 centímetros de comprimento do coração de Stonehenge. Agora, os arqueólogos que trabalham com a chamada “rocha de Phillips” mostraram, de maneira conclusiva, que os maiores blocos de construção do monumento vieram de uma floresta a cerca de 25 quilômetros de distância, confirmando uma hipótese de longa data.

É “um trabalho de excelente qualidade”, diz Richard Bevins, geólogo e pesquisador de Stonehenge do Museu Nacional de Cardiff, País de Gales. Conhecer a origem das pedras poderá revelar futuros locais de escavação na região, lançando uma luz sobre os antigos construtores que elaboraram esses misteriosos monumentos.

A partir de 3.000 a.C., Stonehenge foi construído ao longo de centenas de anos como um local cerimonial por pessoas vindas de onde hoje é o País de Gales. O monumento inclui 52 pedras maciças de sílica de 25 toneladas, conhecidas como sarsens. Durante séculos, a maioria dos pesquisadores presumia que as pedras vieram de um vasto campo rochoso próximo, cerca de 25 a 30 quilômetros ao norte do local, em uma região chamada Marlborough Downs.

Outros apontaram que os construtores misteriosos do monumento não eram necessariamente organizados por conveniência. Afinal, as menores “bluestones” (uma rocha de construção de várias litologias) de Stonehenge – que estão no centro e foram estudadas muito mais intensivamente do que os sarsens – viajaram cerca de 150 quilômetros de vários locais ao redor do país de Gales.

Aí que entra a rocha de Phillips. Em 1958, Phillips fazia parte de uma equipe contratada para reerguer três grandes blocos que haviam tombado mais de 100 anos antes em Stonehenge. Quando os trabalhadores ergueram uma delas, a Pedra 58, perceberam que estava rachada. Então, eles fizeram um buraco nela e a prenderam com um parafuso de metal para reforçá-la. Phillips pegou esse cilindro de rocha tirado do buraco como uma lembrança; ficou pendurado em seu escritório no Reino Unido por anos antes de levá-lo para Flórida quando se aposentou.

Quando a rocha de Phillips reapareceu em 2018, David Nash, o arqueólogo e geógrafo da Universidade de Brighton, e seus colegas sabiam que finalmente tinham a peça que faltava para identificar a origem dos sarsens. Hoje, é proibido destruir pedaços intactos de Stonehenge, diz Nash, mas essa como já tinha sido removida, a rocha de Phillips lhes deu uma oportunidade única de análise.

Nash e o geólogo Jake Ciborowski, da Universidade de Brighton, usou um espectrômetro portátil de raios-X – que Nash diz “parecer um pouco com uma pistola de laser de um antigo filme de ficção científica” – para fazer uma análise de superfície não destrutiva das composições químicas de todos os 52 sarsens. Apesar de serem mais de 99% compostas de sílica, as pedras também continham traços de outros elementos, incluindo alumínio, carbono, ferro, potássio e magnésio. Essencialmente, 50 dos 52 sarsens – incluindo o “pai” da rocha de Phillips – tinham uma composição química praticamente idêntica, sugerindo que todas as pedras vieram de um único local.

A equipe de Nash pulverizou uma parte da rocha de Phillips e fez uma série de análises químicas, fornecendo uma resolução muito maior do que uma espectrometria de raios-X.

Quando os pesquisadores compararam a assinatura química detalhada da rocha com amostras colhidas em 20 campos de rochas do sul e leste da Inglaterra, apresentou quase 100% de compatibilidade com as rochas de uma floresta chamada West Woods. Localizada no sudeste de Marlborough Downs, é precisamente aí que a maioria dos especialistas há muito tempo supõe que os sarsens se originaram, relataram os pesquisadores no dia 29 de julho no Science Advances.

“Isso realmente preenche essa lacuna com muito mais convicção”, diz Richard Madgwick, arqueólogo da Universidade de Cardiff que estuda o Stonehenge. Ele completa que não se pode encerrar o caso, no entanto, acrescentando que a equipe precisará analisar muito mais de 20 locais antes de se convencer de que descartou todos os outros candidatos.

Robert Ixer, geólogo do Instituto de Arqueologia da University College London, concorda que mais locais devem ser analisados. Mas depois de décadas de pesquisa focada em “bluestones”, ele fica feliz em ver os sarsens recebendo a atenção que merece. “É hora dos sarsens, realmente”, diz ele. “Eles foram negligenciados por muito tempo”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.