Por Jeanette Kazmierczak
Publicado no Quanta Magazine
Como os cientistas reagem as grandes notícias de uma quebra de paradigma científica? Astrofísicos, após o grande anúncio das ondas gravitacionais, se reuniram por duas semanas em Santa Barbara, Califórnia.
Quando o Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory (LIGO) detectou seu primeiro turbilhão de ondas gravitacionais, em setembro do ano passado, o cientista da LIGO Daniel Holz percebeu quase imediatamente que essas pequenas ondulações no espaço-tempo iriam ter grandes ramificações no campo da astrofísica. Com a equipe do LIGO secretamente analisando seu sinal – gerado pela fusão distante de dois buracos negros – Holz e dois colegas de equipe também começaram a montar uma proposta de oficina a ser realizada o mais breve possível, após o anúncio da descoberta.
O LIGO anunciou a detecção de ondas gravitacionais em fevereiro e, apenas seis meses depois, três dezenas de especialistas fizeram o seu caminho para o Instituto Kavli de Física Teórica (IKFT), em Santa Barbara, para um workshop de “respostas rápidas” intitulado “Astrophysics From LIGO’s First Black Holes. [Astrofísica dos Primeiros Buracos Negros do LIGO]”. Os buracos negros que se fundiram, produzindo o primeiro sinal do LIGO, eram inesperadamente pesados, com implicações para a nossa compreensão sobre vida e morte de estrelas massivas. O workshop “deu-nos duas semanas intensas de intrigantes questões (e respostas) científica”, disse Holz, um professor assistente da Universidade de Chicago, em um email.
As Oficinas de resposta rápida do IKFT começaram a mais de uma década atrás, de acordo com o atual diretor Lars Bildsten. “A necessidade que começamos a ver é que, as vezes, grandes coisas acontecem e você não quer esperar dois anos para trazer tudo junto”, disse Bildsten. Considerando que o Instituto recebe, regularmente, programas de investigação de meses de duração, planejados com muita antecedência, o período de duas oficinas de respostas rápidas de três semanas de duração são aprovadas e agendadas no curto prazo de seis meses. Programas semelhantes são realizados no Centro Aspen para a Física e no Instituto Galileu Galilei de Física Teórica.
As propostas geralmente se seguem logo após uma grande descoberta ser anunciada – como as ondas gravitacionais ou o bóson de Higgs. Depois que os programas são aprovados, os cientistas têm de aplicar a participação.
“Agora, a realidade é que as pessoas ‘sabem’ quando há uma descoberta vindo aí”, disse Bildsten. “O que você precisa fazer é investigar: Se deve haver um resultado interessante, o IKFT estaria disposto a executar um programa de respostas rápidas?”
No caso da descoberta do LIGO, Holz e seus co-organizadores: Alessandra Buonanno e Duncan Brown tiveram a bola da vez, com o que Holz chamou de “preliminar, uma proposta suficientemente vaga” em janeiro, antes dos resultados de sua equipe serem publicados. Após o anúncio, ele reviu a proposta nesse sentido e acrescentou o astrônomo Eliot Quataert como co-organizador para obter uma perspectiva de fora da comunidade LIGO. A proposta do grupo foi aprovada pelo Comitê Consultivo do IKFT em março, e a oficina começou no dia 1 de agosto.
Encontrar tempo para um programa de duas semanas é difícil – embora isto tenha caido durante o verão acadêmico, o que ajudou. Disse Bildsten – mas juntar cientistas no mesmo espaço é crucial.
“Como astrofísicos, nós trabalhamos muito duro para chegar em ideias”, escreveu Brown, em um email. “Como resultado, é da natureza humana se apegar a essas ideias. As forças opostas desenvolvidas no IKFT desafiam suas ideias e os faz pensar criticamente sobre elas”.
As oficinas envolveram palestras e discussões, mas nunca mais de três em um dia, deixando muito tempo para conversas e pesquisa colaborativa.
“Os diálogos são espontâneos, as pessoas interrompiam durante as conversações – todas essas coisas, basicamente, não vão acontecer, a menos que as pessoas estejam juntas”, disse Bildsten. “Quando elas estão aqui, eles não estão preocupadas com a rotina de ensinar ou estar em um comitê. Elas estão realmente aqui para interagir com os seus colegas, por isso que é inestimável.”
De acordo com Brown, um dos muitos resultados importantes do workshop de astrofísica da LIGO era que os cientistas assinaram uma lista de instruções concretas sobre o que suas várias teorias previam para os dados futuros do LIGO, forçando os teóricos a “reduzir” o espaço de manobra “a seus modelos”. Holz acrescentou que “muitas das conversas transformaram-se em discussões de roda livre, que era exatamente o que estávamos esperando”.