Traduzido por Julio Batista
Original de Juliette Collen (AFP) para o ScienceAlert
Astrônomos alertaram na segunda-feira que a poluição luminosa criada pelo crescente número de satélites orbitando a Terra representa uma “ameaça global sem precedentes à natureza”.
O número de satélites em órbita baixa da Terra mais do que dobrou desde 2019, quando a empresa norte-americana SpaceX lançou a primeira “megaconstelação”, composta por milhares de satélites.
Uma armada de novas constelações de internet está planejada para ser lançada em breve, adicionando milhares de satélites à área já congestionada a menos de 2.000 quilômetros acima da Terra.
Cada novo satélite aumenta o risco de colidir com outro objeto orbitando a Terra, criando ainda mais detritos.
Isso pode criar uma reação em cadeia na qual colisões em cascata criam fragmentos cada vez menores de detritos, aumentando ainda mais a nuvem de “lixo espacial” refletindo a luz de volta à Terra.
Em uma série de papers publicados na revista Nature Astronomy, astrônomos alertaram que essa poluição luminosa crescente ameaça o futuro de suas profissões.
Em um paper, os pesquisadores disseram que, pela primeira vez, mediram o quanto um céu noturno mais brilhante afetaria financeira e cientificamente o trabalho de um grande observatório.
A modelagem sugeriu que, para o Observatório Vera Rubin, um telescópio gigante atualmente em construção no Chile, a parte mais escura do céu noturno se tornará 7,5% mais brilhante na próxima década.
Isso reduziria o número de estrelas que o observatório é capaz de ver em cerca de 7,5%, disse à AFP o coautor do estudo, John Barentine.
Isso acrescentaria quase um ano à pesquisa do observatório, custando cerca de US$ 21,8 milhões, disse Barentine, da Dark Sky Consulting, uma empresa sediada no estado estadunidense do Arizona.
Ele acrescentou que há outro custo de um céu mais brilhante que é impossível de calcular: os eventos celestes que a humanidade nunca poderá observar.
E o aumento da poluição luminosa pode ser ainda pior do que se pensava.
Outro estudo da Nature usou modelagem extensiva para sugerir que as medições atuais da poluição luminosa estão subestimando significativamente o fenômeno.
‘Pare este ataque’
O brilho do céu noturno não afetará apenas astrônomos profissionais e grandes observatórios, alertaram os pesquisadores.
Aparna Venkatesan, astrônomo da Universidade de São Francisco, EUA, disse que também ameaçava “nossa antiga relação com o céu noturno”.
“O espaço é nossa herança ancestral compartilhada – nos conectando por meio da ciência, narrativa, arte, histórias de origem e tradições culturais – e agora está em risco”, disse ela em um comentário da Nature .
Um grupo de astrônomos da Espanha, Portugal e Itália pediu aos cientistas que “parassem com esse ataque” na noite natural.
“A perda do aspecto natural de um céu noturno intocado para todo o mundo, mesmo no cume do K2 ou nas margens do Lago Titicaca ou na Ilha de Páscoa, é uma ameaça global sem precedentes à natureza e ao patrimônio cultural”, disseram astrônomos em um artigo de comentário da Nature.
“Se não parar, essa loucura ficará cada vez pior.”
Os astrônomos pediram uma limitação drástica das megaconstelações, acrescentando que “não devemos rejeitar a possibilidade de bani-las”.
Eles disseram que era “ingênuo esperar que a economia espacial em disparada se limite, se não for forçada a fazer isso”, dados os interesses econômicos em jogo.