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Teóricos da conspiração têm um problema cognitivo fundamental

Por Sarah Sloat
Publicado no Inverse

O mundo é um lugar assustador e imprevisível, e isso pode deixar seu cérebro louco. Como um órgão preditivo, o cérebro está mirando constantemente nos padrões que explicam o mundo e ajudam a prosperar nele. Essa habilidade ajuda os humanos na compreensão do mundo. Por exemplo, você provavelmente entende que ver algo vermelho pode significar perigo.

Mas como os cientistas relatam em um novo artigo publicado no European Journal of Social Psychology, às vezes as pessoas sentem o perigo, mesmo quando não há nenhum padrão para reconhece-lo – assim seus cérebros criam seus próprios. Esse fenômeno, chamado de percepção de padrão ilusório, é o que impulsiona as pessoas que acreditam em teorias da conspiração, como os negadores da mudança climática, das vacinas e dos organismos geneticamente modificados.

O estudo é oportuno. Pesquisas recentes sugerem que quase 50 por cento dos norte-americanos ordinários, não-patológicos, acreditam em pelo menos uma teoria da conspiração.

A percepção de padrão ilusório – o ato de procurar padrões que não existem – tem sido vinculado à crença em teorias da conspiração, mas essa suposição nunca tinha sido antes apoiada com evidências empíricas. Os cientistas britânicos e holandeses por trás do novo estudo foram os primeiros a mostrar que essa explicação é, de fato, correta.

Os pesquisadores chegaram a essa conclusão depois de realizar cinco estudos com 264 norte-americanos, onde buscaram encontrar a relação entre crenças irracionais e percepção de padrão ilusório. Estudos iniciais revelaram que a compulsão de encontrar padrões em uma situação observável está correlacionada com crenças irracionais: as pessoas que encontravam padrões em arremessos aleatórios de moeda e pinturas abstratas eram mais propensas a acreditar em conspirações e hipóteses de natureza sobrenatural.

O estudo mostrou como os povos podem ser suscetíveis às influências externas. Ao ler sobre crenças no paranormal ou conspirações, relatam os pesquisadores, aconteceu um “ligeiro aumento na percepção de padrões em arremessos de moeda, pinturas e vida”, e ao mencionar uma teoria da conspiração fez com que as pessoas ficassem mais propensas a acreditar em outra.

“Seguindo uma manipulada crença em uma teoria da conspiração, as pessoas observavam eventos no mundo como mais fortemente-casualmente conectados, o que, por sua vez, previu crenças irracionais não relacionadas”, escrevem os autores.

Os pesquisadores sugerem que as crenças irracionais nascem da percepção de padrão por causa da “tendência automática de dar sentido ao mundo, identificando relações significativas entre estímulos”. Mas as distorções podem acontecer, e o cérebro pode conectar pontos que realmente não existem. As pessoas são péssimas em julgar o que é aleatório e acreditam que, muitas vezes, os padrões são realmente coincidências, o que leva a conexões irracionais entre estímulos não relacionados. Por exemplo, só porque o poder social é dominado pelos ricos, isso não significa que as pessoas ricas são satanistas Illuminati, embora isso seja algo que muitas pessoas acreditam.

Felizmente, outros cientistas descobriram uma maneira de bloquear a penetração da percepção de padrão ilusório: pensamento crítico. Em uma entrevista anterior, a psicóloga Anne McLaughlin, professora da Universidade Estadual da Carolina do Norte, disse que o pensamento crítico é algo que pode ser ensinado, e se as pessoas forem treinadas corretamente, pseudociências e conspirações falsas podem ser combatidas com lógica e raciocínio. O cérebro pode tentar fazer conexões falsas, mas isso não significa que você tem que acreditar nisso.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.