Por Júlio Bernardes
Publicado no Jornal da USP
Para aumentar o número de diagnósticos da COVID-19 no Brasil, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP desenvolveram diferentes métodos, em três frentes. Um deles permite fazer testes para identificar o vírus em equipamentos disponíveis na maioria dos laboratórios do País. A técnica, que utiliza reagentes produzidos no Brasil, reduzirá o tempo de detecção da doença para quatro horas, com a mesma eficiência do teste convencional.
Além disso, os cientistas também estão desenvolvendo um método de teste rápido que utiliza anticorpos para identificar pessoas infectadas a partir de secreções produzidas na garganta.
Por fim, a equipe trabalha em um teste sorológico pelo método Elisa. A ideia é saber quem, em tese, já foi curado e está imunizado. Isso poderá facilitar o retorno gradual da população às atividades após o isolamento, que poderá ser feito após a fase mais crítica da pandemia.
PCR
O professor Edison Durigon, do ICB, que coordena a pesquisa, afirma que o diagnóstico da COVID-19 normalmente é feito por meio de testes moleculares, sendo que a técnica mais usada é a chamada PCR (Reação em Cadeia da Polimerase, na sigla em inglês) em tempo real. “Esse teste fornece resultados em um período de seis a oito horas, porém o equipamento necessário é muito caro e está disponível apenas em grandes laboratórios”, explica. “Outro problema é que os reagentes usados nos testes são todos importados, e atualmente há enormes dificuldades em adquiri-los devido à grande demanda em todo o mundo”.
Os pesquisadores do ICB desenvolveram então um teste molecular que utiliza o método PCR clássico, mas pode ser feito em equipamentos existentes na maioria dos laboratórios clínicos e de pesquisa brasileiros. “O teste fornece resultados em quatro horas e foi padronizado para ter a mesma sensibilidade e especificidade dos diagnósticos feitos com o PCR em tempo real, empregando reagentes produzidos no Brasil”, destaca o professor. “A ideia é que mais laboratórios consigam fazer os testes, popularizando os diagnósticos”. Os testes poderão ser adotados quando a padronização for concluída e publicada.
Proteínas do vírus
No Laboratório de Virologia do Departamento de Microbiologia do ICB também é pesquisado um método de teste rápido para diagnosticar a COVID-19, identificando a infecção pelo vírus por meio das secreções da garganta. “Para criar esses testes, foram produzidos em laboratório diferentes fragmentos de proteínas da superfície do vírus”, relata a professora Cristiane Guzzo, que participa do estudo.
“A partir dessas proteínas, são obtidos anticorpos que vão ser usados na montagem do teste para identificar o vírus”. A próxima etapa do estudo é inocular as proteínas em animais de laboratório para que possam produzir os anticorpos. A previsão dos pesquisadores é que o teste rápido esteja pronto para testes clínicos em cerca de 20 dias.
“O fundamental é que haja testes de boa qualidade disponíveis no mercado, para que não haja problemas com o diagnóstico da COVID-19”, enfatiza Durigon. A produção dos fragmentos do vírus foi realizada no laboratório da professora Cristiane Guzzo e as proteínas estão sendo produzidas também no laboratório do professor Chuck Farah, do Instituto de Química (IQ) da USP.
Procurando anticorpos
De acordo com Durigon, existem testes que detectam os anticorpos do vírus SARS-CoV-2, mostrando quem já teve a doença e está protegido. “Isso é muito importante, principalmente em casos de pacientes assintomáticos, porque se eles possuem anticorpos não vão pegar a doença de novo e podem retomar suas atividades normais”, aponta. “Esse tipo de teste já está disponível no mercado, sendo usado principalmente por empresas e escolas”.
O grupo de pesquisa do ICB trabalha na padronização de um teste sorológico pelo método Elisa (ensaio imunoenzimático), que também utiliza equipamentos encontrados na maior parte dos laboratórios brasileiros. “Através desse método é possível pesquisar anticorpos produzidos após a infecção pela COVID-19 e fazer uma triagem das pessoas que já estão curadas”, diz o professor. “Com o Elisa, o Ministério da Saúde e as Secretarias estaduais e municipais de saúde poderão identificar quem está imune e planejar melhor as estratégias para impedir a disseminação da doença”. Esse teste também aguarda a conclusão da padronização para ser utilizado.