Para aumentar nossa compreensão de nossos projetos genéticos, os pesquisadores reuniram um banco de dados de genes sobre os quais não sabemos quase nada.
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Embora saibamos que esses genes existem e codificam proteínas, não temos ideia de para que servem.
“Ficou claro que a pesquisa científica tende a se concentrar em proteínas bem estudadas, levando a uma preocupação de que genes mal compreendidos sejam injustificadamente negligenciados”, explicam pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular (LMB) do MRC no Reino Unido.
“Para resolver isso, desenvolvemos um ‘banco de dados Unknome’ publicamente disponível e personalizável.”
Já se passaram 20 anos desde que um rascunho da sequência do genoma humano foi lançado, contendo dezenas de milhares de genes.
Aprendemos muito desde então, com técnicas avançadas como CRISPR, mas ainda existem dezenas de milhares desses genes que permanecem misteriosos.
Existem muitas razões pelas quais esses genes até agora foram negligenciados pela ciência, explicam o biólogo molecular João Rocha e seus colegas.
Eles incluem financiamento e sistemas revisados por pares, sendo mais direcionados para apoiar pesquisas sobre genes com importância clínica já comprovada, ou genes que são mais abundantes ou mais difundidos em espécies de laboratório.
O banco de dados Unknome classifica os genes de proteínas de acordo com o pouco que se sabe sobre eles, para humanos e outras espécies comumente estudadas em laboratório.
Para demonstrar como esse banco de dados pode ser usado, os pesquisadores coletaram uma amostra de 260 de nossos genes classificados como altamente desconhecidos no banco de dados que também podem ser encontrados no genoma da mosca de laboratório, Drosophila.
Eles eliminaram sistematicamente os genes compartilhados nas moscas em desenvolvimento. Muitas das moscas não sobreviveram, demonstrando que as proteínas que cada um desses genes codifica desempenham um papel crucial na biologia animal.
“Esses genes não caracterizados não merecem ser negligenciados”, diz o biólogo molecular Sean Munro.
Ao remover a expressão do gene apenas em alguns tecidos, mas não em outros dentro das moscas, os pesquisadores conseguiram determinar algumas de suas funções. Alguns dos genes associados à fertilidade masculina, desenvolvimento e respostas ao estresse.
“Há potencial para o progresso científico ser acelerado pela identificação de situações em que as questões estão sendo inadvertidamente e injustificadamente negligenciadas”, escreve a equipe.
Rocha e seus colegas já identificaram essas questões negligenciadas no genoma humano, então agora cabe aos pesquisadores de todo o mundo ajudar a acelerar esse progresso.
“Nosso banco de dados fornece uma plataforma poderosa, versátil e eficiente para identificar e selecionar genes importantes de função desconhecida para análise, acelerando assim o fechamento da lacuna no conhecimento biológico que o unknome representa”, conclui Munroe.
Traduzido por Mateus Lynniker de ScienceAlert