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Um continente perdido e esquecido de 40 milhões de anos atrás pode ter sido redescoberto

Por Clare Watson
Publicado na ScienceAlert

Um continente de baixa altitude que existia há cerca de 40 milhões de anos e abrigava uma fauna exótica pode ter “aberto o caminho” para os mamíferos asiáticos colonizarem o sul da Europa, sugere uma nova pesquisa.

Submerso entre a Europa, África e Ásia, este continente esquecido – que os pesquisadores apelidaram de “Balcanatólia” – tornou-se um portão de entrada entre a Ásia e a Europa quando o nível do mar baixou e uma ponte de terra se formou, cerca de 34 milhões de anos atrás.

“Quando e como a primeira onda de mamíferos asiáticos chegou ao sudeste da Europa ainda é pouco compreendido”, escrevem o paleogeólogo Alexis Licht e seus colegas em seu novo estudo.

Mas o resultado foi nada menos que dramático. Cerca de 34 milhões de anos atrás, no final do período Eoceno, um grande número de mamíferos nativos desapareceu da Europa Ocidental quando novos mamíferos asiáticos surgiram, em um evento de extinção repentina agora conhecido como Grande Coupure.

Descobertas recentes de fósseis nos Bálcãs, no entanto, mudaram essa linha do tempo, apontando para uma biorregião “peculiar” que parece ter permitido que os mamíferos asiáticos colonizassem o sudeste da Europa de 5 a 10 milhões de anos antes da Grande Coupure ocorrer.

Para investigar, Licht, do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, e colegas reexaminaram as evidências de todos os sítios paleontológicos conhecidos na área, que cobre a atual península balcânica e a Anatólia, a protrusão mais ocidental da Ásia.

A idade desses sítios foi revisada com base em dados geológicos atuais, e a equipe reconstruiu as mudanças paleogeográficas que ocorreram na região, que tem uma “história complexa de submersões e reemergências episódicas”.

O que eles encontraram sugere que Balcanatólia serviu como um portão para os animais se moverem da Ásia para a Europa Ocidental, com a transformação da antiga massa de terra de continente autônomo em ponte terrestre – e subsequente invasão de mamíferos asiáticos – coincidindo com algumas “mudanças paleogeográficas dramáticas”.

Balcanatólia, 40 milhões de anos atrás, e nos dias atuais. Créditos: Alexis Licht / Grégoire Métais / CNRS.

Cerca de 50 milhões de anos atrás, Balcanatólia era um arquipélago isolado, separado dos continentes vizinhos, onde prosperava uma coleção única de animais distintos dos animais da Europa e do leste da Ásia, segundo a análise.

Então, uma combinação de queda do nível do mar, crescentes camadas de gelo da Antártida e mudanças tectônicas conectaram o continente Balcanatólia à Europa Ocidental, entre 40 e 34 milhões de anos atrás.

Isso permitiu que mamíferos asiáticos, incluindo roedores e mamíferos quadrúpedes com cascos (também conhecidos como ungulados), se aventurassem para o oeste e invadissem a Balcanatólia, mostra o registro fóssil.

Além desse registro, Licht e seus colegas também descobriram fragmentos de uma mandíbula pertencente a um animal semelhante a um rinoceronte em um novo sítio paleontológico na Turquia, datado de cerca de 38 a 35 milhões de anos atrás.

Molar superior de um mamífero asiático Brontothere. Créditos: Alexis Licht / Grégoire Métais / CNRS.

O fóssil é, sem dúvida, o mais antigo ungulado asiático descoberto na Anatólia até hoje e antecede o Grande Coupure em pelo menos 1,5 milhão de anos, sugerindo que os mamíferos asiáticos estavam a caminho da Europa por meio de Balcanatólia.

Este caminho do sul para a Europa através da Balcanatólia foi talvez mais favorável para animais aventureiros do que atravessar rotas de latitude mais alta pela Ásia Central, que na época eram estepes desérticas mais secas e frias, como também sugerem Licht e colegas.

No entanto, eles apontam em seu estudo que a “conectividade do passado entre as ilhas balcânicas individuais e a existência desta rota de dispersão ao sul permanecem debatidas”, e que a história reunida até agora “é construída apenas em fósseis de mamíferos e uma imagem mais completa de biodiversidade balcanatólica do passado continua a ser desenhada”.

Muitas das mudanças geológicas que deram origem à Balcanatólia ainda não foram totalmente compreendidas, e é importante notar que esta revisão é apenas a interpretação de uma equipe do registro fóssil.

Dito isto, o registro fóssil de mamíferos e outros vertebrados que vivem em ilhas geralmente é esparso e irregular, enquanto o rico registro fóssil terrestre de Balcanatólia “oferece uma oportunidade única para documentar a evolução e o desaparecimento das biotas insulares no tempo profundo”, concluiu a equipe.

O estudo foi publicado na Earth-Science Reviews.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.