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Um ‘escorpião do mar’ gigante pode ter atacado este trilobita há 450 milhões de anos

Por Carly Cassella
Publicado na ScienceAlert

Um trilobita mutilado, encontrado fossilizado na República Tcheca, parece que escapou por pouco de se tornar almoço há mais de 450 milhões de anos.

Tudo o que resta desse antigo artrópode marinho é a cabeça, mas os pesquisadores acreditam que as pinças de algo como um escorpião marinho gigante podem ter amputado seu olho, arranhando a concha e deixando cicatrizes no rosto.

Foram encontrados poucos trilobitas que sofreram um ferimento na cabeça e sobreviveram, mas de alguma forma este espécime em particular (Dalmanitina socialis) sobreviveu para ao menos mais uma ecdise. Ele até mesmo redesenhou um olho totalmente funcional para compensar o que havia perdido.

“O olho restaurado, embora deslocado posteriormente e orientado de forma diferente, com uma distribuição bastante irregular das lentes, ainda era um órgão funcional”, concluem os pesquisadores tchecos que descrevem a descoberta em um novo estudo.

Durante a Era Paleozoica, antes da extinção em massa que encerrou a maior parte da vida na Terra, grandes artrópodes que se assemelhavam a escorpiões, chamados de Eurypterus, eram predadores temíveis do fundo do oceano.

Conhecidos coloquialmente como “escorpiões do mar”, eles vinham em vários tamanhos, desde do tamanho da mão de um humano até o de um humano inteiro; para essas criaturas impressionantes, os trilobitas eram uma fonte fácil e abundante de alimento.

Eurypterus remipes. Créditos: H. Zell / Wikimedia Commons.

Não está claro exatamente o que atacou a trilobita mutilada, mas os pesquisadores dizem que os arranhões em sua concha parecem ter sido puxados por pinças ou garras, apontando para um possível encontro com um escorpião do mar.

Notavelmente, a trilobita claramente viveu o suficiente para curar suas feridas e regenerar um novo olho, o que torna o fóssil de especial interesse.

Molde interno da cabeça do trilobita. Créditos: Fatka et al., International Journal of Paleopathology, 2021.

Fósseis de trilobita com olhos feridos são incrivelmente raros – provavelmente porque as evidências geralmente são comidas por predadores. Pouquíssimos casos foram relatados até o momento na literatura científica, escreve a equipe.

Em 2017, por exemplo, um fóssil de trilobita encontrado na Noruega apresentava ferimentos em forma de dente na cabeça e um olho perfurado que parecia ter vindo do rostro pontiagudo de um cefalópode, cerca de 465 milhões de anos atrás.

Hoje, sabe-se que os cefalópodes modernos, como os polvos, perfuram os olhos dos caranguejos ao atacar suas presas. Mas o olho danificado do trilobita recentemente analisado na República Tcheca não mostra nenhuma evidência de ter sido perfurado.

Outra coisa poderia, portanto, tê-lo atacado, e pesquisas na mesma região descobriram fósseis de trilobitas ao lado de grandes escorpiões do mar, com pinças muito capazes de arranhar conchas e amputar olhos.

Assim, os pesquisadores acreditam que um ‘grande artrópode’, como um escorpião do mar, é o culpado mais provável do ataque dos trilobitas. O predador poderia ter sido até mesmo um pterigioide – os membros desta superfamília de Eurypterus poderiam crescer mais de dois metros de comprimento.

Os fósseis de trilobita contêm algumas das evidências mais antigas de olhos no planeta, e encontrar um que tenha se regenerado é uma raridade. Este está em uma coleção do Serviço Geológico Tcheco desde 1846, mas este nos permitiu olhar bem de perto.

Os escorpiões do mar podem ter sido sorrateiros, mas os trilobitas eram claramente resistentes.

O estudo foi publicado no International Journal of Paleopathology.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.