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Um ‘laser de buraco negro’ poderia finalmente iluminar a elusiva radiação Hawking

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Os cientistas estão cada vez mais perto de serem capazes de detectar a radiação Hawking – aquela radiação térmica indescritível que se pensa ser produzida pelo horizonte de eventos de um buraco negro. Apenas entender o conceito dessa radiação é complicado, quanto mais encontrá-la.

Uma nova proposta sugere a criação de um tipo especial de circuito quântico para atuar como um ‘laser de buraco negro’, essencialmente simulando algumas das propriedades de um buraco negro. Como em estudos anteriores, a ideia é que os especialistas possam observar e estudar a radiação Hawking sem realmente ter que olhar para quaisquer buracos negros reais.

O princípio básico é relativamente simples. Os buracos negros são objetos que distorcem tanto o espaço-tempo que nem mesmo uma onda de luz consegue escapar. Troque o espaço-tempo por algum outro material (como a água) e faça-o fluir rápido o suficiente para que as ondas que surjam sejam lentas demais para escapar, e você terá um modelo bastante rudimentar.

Muitos exemplos também podem incluir um equivalente de ‘buraco branco’ – uma espécie de buraco negro invertido onde as ondas só podem escapar, mas não podem entrar.

Nesta mais nova tentativa de projetar um desses, os pesquisadores propõem o uso de um material com uma estrutura não encontrada na natureza, projetada para que as partículas dentro dele possam se mover mais rápido do que a luz que passa.

Uma ilustração do laser de buraco negro no circuito. Créditos: Katayama, Scientific Reports, 2021.

“O elemento metamaterial torna possível para a radiação Hawking viajar para frente e para trás entre os horizontes”, disse a física Haruna Katayama da Universidade de Hiroshima, no Japão.

O objetivo é amplificar a radiação Hawking o suficiente para que ela seja medida e, para isso, Katayama também está usando o chamado efeito Josephson – um fenômeno em que é criado um fluxo contínuo de corrente que não requer tensão.

Com o uso do metamaterial e o auxílio do efeito Josephson, essa proposta promete ir além das tentativas anteriores de teorizar como seria um laser de buraco negro, mesmo que a montagem de um ainda não tenha sido feita.

Tal circuito poderia potencialmente produzir o que é conhecido como sóliton, sugere a pesquisa – uma forma de onda localizada e autorreforçada que é capaz de manter sua velocidade e formato até que o sistema seja desligado por fatores externos.

“Ao contrário dos lasers de buraco negro propostos anteriormente, nossa versão tem uma cavidade de buraco negro/buraco branco formado dentro de um único sóliton, onde a radiação Hawking é emitida fora do sóliton para que possamos analisá-la”, disse Katayama.

Em última análise, o sistema permitiria que uma correlação quântica entre duas partículas – uma dentro e outra fora do horizonte de eventos – fosse medida matematicamente, sem ter que observá-las simultaneamente.

E é assim que se pensa que a radiação Hawking é produzida, como pares de partículas emaranhadas. Sua descoberta nos aproximaria de uma teoria unificada de tudo, unindo a mecânica quântica e a relatividade geral.

Os desafios permanecem para tornar esse laser de buraco negro uma realidade, mas se os cientistas forem capazes de configurá-lo corretamente, ele pode não apenas nos permitir observar a radiação Hawking – pode nos dar as ferramentas para controlá-la também, abrindo uma série de novos possibilidades.

“No futuro, gostaríamos de desenvolver este sistema para comunicação quântica entre espaços-tempos distintos usando radiação Hawking”, disse Katayama.

A pesquisa foi publicada na Scientific Reports.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.