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Um novo evento de extinção em massa foi descoberto. E ele desencadeou a ascensão dos dinossauros

Por Michael J. Benton
Publicado no The Conversation

Enormes erupções vulcânicas há 233 milhões de anos lançaram dióxido de carbono, metano e vapor d’água na atmosfera. Essa série de explosões violentas, que ocorreu onde hoje conhecemos como costa oeste do Canadá, levou a um aquecimento global massivo.

Nossa nova pesquisa revelou que este foi um evento de extinção em massa que mudou o planeta, matando muitos dos tetrápodes dominantes e anunciando o alvorecer dos dinossauros.

A extinção em massa mais conhecida ocorreu no final do período Cretáceo, há 66 milhões de anos. Foi quando os dinossauros, pterossauros, répteis marinhos e amonites morreram.

Este evento foi causado principalmente pelo impacto de um asteroide gigante que bloqueou a luz do sol e causou um período de escuridão e congelamento, seguido por outras perturbações massivas nos oceanos e na atmosfera.

Geólogos e paleontólogos concordam com uma lista de cinco desses tipos de eventos, dos quais a extinção em massa do fim do Cretáceo foi o último. Portanto, nossa nova descoberta de uma extinção em massa até então desconhecida pode parecer inesperada.

No entanto, esse evento, denominado Episódio Pluvial Carniano (EPC), parece ter matado tantas espécies quanto o asteroide gigante. Os ecossistemas terrestres e marítimos foram profundamente alterados, à medida que o planeta ficava mais quente e seco.

No ecossistema terrestre, isso desencadeou mudanças profundas nas plantas e herbívoros. Por sua vez, com o declínio dos tetrápodes herbívoros dominantes, como rincossauros e dicinodontes, os dinossauros tiveram sua chance.

Os dinossauros se originaram cerca de 15 milhões de anos antes desse evento e esse novo estudo mostra que, como resultado do EPC, eles se expandiram rapidamente nos 10 milhões a 15 milhões de anos subsequentes e se tornaram a espécie dominante nos ecossistemas terrestres. O EPC desencadeou a “era dos dinossauros”, que durou mais 165 milhões de anos.

Não foram apenas os dinossauros que tiveram uma papel de destaque. Muitos grupos de tetrápodes modernos, como tartarugas, lagartos, crocodilos e mamíferos, datam dessa era de revolução recém-descoberta.

Uma linha do tempo de eventos de extinção em massa. Créditos: D. Bonadonna / MUSE, Trento.

Seguindo as pistas

Este evento foi notado pela primeira vez de forma independente na década de 1980. Mas pensava-se que estava restrito à Europa. Nessa época, geólogos da Alemanha, Suíça e Itália reconheceram uma grande rotatividade entre as faunas marinhas há cerca de 232 milhões de anos, chamado de evento Rheingraben.

Então, em 1986, reconheci independentemente que isso de trava uma mudança em escala global entre tetrápodes e amonites. Mas, naquela época, fazer uma datação da idade era muito mais precário do que agora e era impossível ter certeza se ambos eram o mesmo evento.

As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar quando um episódio de cerca de 1 milhão de anos de climas úmidos foi reconhecido em todo o Reino Unido e em partes da Europa pelos geólogos Mike Simms e Alastair Ruffell. Então, o geólogo Jacopo dal Corso identificou uma coincidência na época do EPC com o pico das erupções de basaltos no terreno Wrangellia, na América do Norte.

Wrangellia é um termo que os geólogos atribuem a uma placa tectônica estreita que está ligada à costa oeste do continente norte-americano, ao norte de Vancouver (Canadá) e Seattle (Estados Unidos).

Finalmente, em uma revisão da evidência de rochas com idade triássica, a assinatura do EPC foi detectada – não apenas na Europa, mas também na América do Sul, América do Norte, Austrália e Ásia. Este estava longe de ser um evento exclusivo para a Europa. Foi global.

A distribuição de basaltos que irrigou a Wrangellia no Alasca, Yukon e Colúmbia Britânica; em inglês. Créditos: Universidade da Colúmbia Britânica / EOAS.

Erupções vulcânicas

As enormes erupções do Wrangellia lançaram dióxido de carbono, metano e vapor d’água na atmosfera, levando ao aquecimento global e ao aumento das chuvas em todo o mundo. Houve até cinco “pulsos” de erupções associadas a picos de aquecimento datadas de 233 milhões de anos atrás.

As erupções levaram à chuva ácida, pois os gases vulcânicos se misturaram à água da chuva para irrigar a Terra com ácido diluído. Oceanos rasos também se acidificaram.

O forte aquecimento varreu plantas e animais dos trópicos e a chuva ácida matou plantas terrestres, enquanto a acidificação do oceano impactou todos os organismos marinhos com esqueletos carbonáticos. Isso “esvaziou” a vida na superfície dos oceanos e da terra.

A vida podia estar começando a se recuperar, mas quando as erupções cessaram, as temperaturas permaneceram altas enquanto as chuvas tropicais pararam. Isso é o que causou a subsequente secagem da terra sob a qual os dinossauros floresceram.

O mais extraordinário foi a reformulação da “fábrica” de carbonato marinho. Este é um mecanismo global pelo qual o carbonato de cálcio forma grandes espessuras de calcários e fornece material para organismos como corais e moluscos construírem suas conchas.

O EPC marcou o início para os recifes de coral modernos, bem como de muitos dos grupos modernos de plâncton, sugerindo mudanças profundas na química dos oceanos.

Antes do EPC, a principal fonte de carbonato nos oceanos vinha de ecossistemas microbianos, como montes de lama cobertos pelo calcário, nas plataformas continentais.

Mas depois do EPC, o carbonato foi impulsionado por recifes de coral e plâncton, onde novos grupos de microrganismos, como dinoflagelados, apareceram e floresceram. Essa mudança profunda nos ciclos químicos fundamentais dos oceanos marcou o início dos modernos ecossistemas marinhos.

E haverá lições importantes sobre como podemos ajudar nosso planeta a se recuperar das mudanças climáticas. Os geólogos precisam investigar os detalhes da atividade vulcânica de Wrangellia e entender como essas erupções repetidas impulsionaram o clima e mudaram os ecossistemas da Terra.

Houve uma série de extinções em massa induzidas por vulcões na história da Terra e as perturbações físicas, como aquecimento global, chuva ácida e acidificação dos oceanos, estão entre os desafios que vemos hoje.

Os paleontólogos precisarão trabalhar mais de perto com os dados de registros fósseis marinhos e continentais. Isso nos ajudará a entender como o evento se desenvolveu em termos de perda de biodiversidade, mas também a explorar como o planeta se recuperou.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.