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Uma busca pelos antigos manuais da espaçonave Voyager 1 revelou a origem de suas mensagens distorcidas

Traduzido por Julio Batista
Original de Paola Rosa-Aquino para o Business Insider

Em maio, cientistas da NASA disseram que a espaçonave Voyager 1 estava enviando dados imprecisos de seu sistema de controle de atitude [AACS]. Para encontrar uma solução, os engenheiros vasculharam manuais de décadas atrás.

A equipe da Voyager resolveu a falha misteriosa no final de agosto, escreveram funcionários da NASA em uma atualização. Acontece que a espaçonave estava transmitindo informações usando um computador inoperante que estava corrompendo os dados.

A Voyager 1, junto com sua gêmea Voyager 2, foi lançada em 1977 com uma vida útil de cinco anos para estudar Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e suas respectivas luas de perto.

Depois de quase 45 anos no espaço, ambas as espaçonaves ainda estão funcionando. Em 2012, a Voyager 1 se tornou o primeiro objeto feito pelo homem a se aventurar além da fronteira de influência do nosso Sol, conhecida como heliopausa, e entrar no espaço interestelar. Está agora a cerca de 23,8 bilhões de quilômetros da Terra e enviando para nós dados de fora do Sistema Solar.

“Ninguém pensou que duraria tanto quanto durou”, disse Suzanne Dodd, gerente de projeto da missão Voyager no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA à Insider durante o verão do hemisfério norte, antes que a equipe da Voyager encontrasse uma solução, acrescentando: “E aqui estamos”.

Redescobrindo antigos documentos de naves espaciais

A Voyager 1 foi projetada e construída no início dos anos 1970, complicando os esforços para solucionar os problemas da espaçonave.

Embora os atuais engenheiros da Voyager tenham alguma documentação – ou mídia de comando, o termo técnico para a papelada contendo detalhes sobre o projeto e os procedimentos da espaçonave – daqueles primeiros dias de missão, outros documentos importantes podem ter sido perdidos ou extraviados.

Um engenheiro trabalha em um instrumento para uma das espaçonaves Voyager da NASA, em 18 de novembro de 1976. (Créditos: NASA/JPL-Caltech)

Durante os primeiros 12 anos da missão Voyager, milhares de engenheiros trabalharam no projeto, disse Dodd.

“Quando eles se aposentaram nos anos 70 e 80, não houve um grande esforço para ter uma biblioteca de documentos do projeto. As pessoas levavam suas caixas para a garagem”, acrescentou Dodd. Nas missões modernas, a NASA mantém registros de documentação mais robustos.

Existem algumas caixas com documentos e esquemas armazenados fora do Laboratório de Propulsão a Jato, e Dodd e o restante dos manipuladores da Voyager podem solicitar acesso a esses registros. Ainda assim, pode ser um desafio.

“Obter essas informações exige que você descubra quem trabalha nessa área no projeto”, disse Dodd.

Para a recente falha de telemetria da Voyager 1, os engenheiros da missão tiveram que procurar especificamente por caixas sob o nome de engenheiros que ajudaram a projetar o sistema de controle de atitude – o que foi “um processo demorado”, disse Dodd.

Fonte do bug

O sistema de controle de atitude da espaçonave, que envia dados de telemetria de volta à NASA, indica a orientação da Voyager 1 no espaço e mantém a antena de alto ganho da espaçonave apontada para a Terra, permitindo que transmita dados para casa.

“Os dados de telemetria são basicamente um status da saúde do sistema”, disse Dodd.

Mas durante a falha deste verão do hemisfério norte, as leituras de telemetria que os manipuladores da espaçonave estavam obtendo do sistema foram distorcidas, de acordo com Dodd, o que significa que eles não sabiam se o sistema de controle de atitude estava funcionando corretamente.

Um engenheiro trabalha na construção de uma grande antena de alto ganho em forma de prato da Voyager, em 9 de julho de 1976. (Créditos: NASA/JPL-Caltech)

Dodd e sua equipe há muito tempo suspeitavam que era devido a uma peça envelhecida. “Nem tudo funciona para sempre, mesmo no espaço”, disse ela durante o verão do hemisfério norte.

Os engenheiros também pensaram que a falha da Voyager pode ser influenciada por sua localização no espaço interestelar. De acordo com Dodd, os dados da espaçonave sugerem que partículas carregadas de alta energia estão no espaço interestelar.

“É improvável que algo atinja a espaçonave, mas se isso ocorrer, pode causar mais danos à eletrônica”, disse Dodd, acrescentando: “Não podemos identificar isso como a fonte da anomalia, mas pode ser um fator.”

No final de agosto, os engenheiros da Voyager localizaram a fonte dos dados distorcidos: o sistema de controle de atitude da espaçonave estava encaminhando informações por meio de um computador inoperante. Eles acreditam que foi acionado por um comando defeituoso de outro computador de bordo.

“Estamos felizes em ter a telemetria de volta”, disse Dodd em um comunicado da NASA divulgado em agosto. Ainda assim, a equipe não sabe por que isso ocorreu em primeiro lugar.

“Faremos uma leitura de memória completa do AACS e veremos tudo o que ele está fazendo. Isso nos ajudará a tentar diagnosticar o problema que causou o problema de telemetria em primeiro lugar. Portanto, estamos cautelosamente otimistas, mas ainda temos mais investigações a fazer”, disse Dodd no comunicado.

A jornada da Voyager 1 continua

Como parte de um esforço contínuo de gerenciamento de energia que aumentou nos últimos anos, os engenheiros desligaram sistemas não técnicos a bordo das sondas Voyager, como seus aquecedores de instrumentos científicos, na esperança de mantê-los funcionando até 2030.

Uma imagem de Saturno, seus anéis e duas luas, Tétis e Dione, capturadas pela Voyager 1 em 3 de novembro de 1980. (Créditos: NASA/JPL-Caltech)

Desde a descoberta de luas e anéis desconhecidos até a primeira evidência direta da heliopausa, a missão Voyager ajudou os cientistas a entender o cosmos.

“Queremos que a missão dure o maior tempo possível, porque os dados científicos são muito valiosos”, disse Dodd.

“É realmente notável que ambas as espaçonaves ainda estejam operando e operando bem – pequenas falhas, mas operando extremamente bem e ainda enviando de volta esses dados valiosos”, disse Dodd, acrescentando: “Elas ainda estão falando conosco”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.