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Uma estrela minúscula e ‘fria’ lançou uma das mais poderosas supererupções já vistas

Traduzido por Julio Batista
Original de Mike McRae para o ScienceAlert

No que diz respeito às estrelas, SDSSJ013333 se parece com a criança quieta da escola que ninguém nota. Pequena, obscura e pacata, faz pouco para chamar a atenção. Isso é até que tenha um grande acesso de raiva.

Dias antes de 2018 chegar ao fim, a Câmera Grande-Angular Terrestre (GWAC) no Observatório Xinglong em Pequim alertou os pesquisadores para uma explosão de luz que valia a pena prestar atenção.

Depois de atingir seu pico em pouco menos de um minuto, todo o evento – uma erupção solar chamada GWAC 181229A – durou algumas horas. Mas dado de onde veio, deveríamos considerá-lo para os livros dos recordes.

Uma olhada nos catálogos de estrelas rapidamente revelou que uma SDSSJ013333 emburrada a cerca de 490 anos-luz de distância, tão escura e distante que os astrônomos tiveram dificuldade em determinar exatamente quão longe ela realmente estava. Não é uma estrela que você esperaria explodir algo tão brilhante.

SDSSJ013333 pertence a uma categoria de objetos estelares chamados de anãs ultrafrias. Normalmente, com cerca de um terço da massa de nosso próprio Sol, eles têm uma temperatura efetiva que é apenas a metade do calor da nossa estrela hospedeira e uma fornalha de queima lenta que pode durar centenas de bilhões de anos.

Mas, embora as anãs ultrafrias possam levar uma vida calma, de vez em quando seus campos magnéticos se rompem e se reconectam de maneiras que os fazem irromper com tremendas erupções de radiação e plasma.

Não estamos falando de uma pequena erupçãozinha também. Graças ao brilho de muitas dessas emissões, essas erupções só podem ser descritas como “super”.

Normalmente, as supererupções são trabalho de crianças, especialmente das anãs vermelhas que são ligeiramente mais quentes. Uma supererupção de uma anã vermelha foi capturada por uma equipe de pesquisa japonesa no ano passado, sendo cerca de 20 vezes mais poderosa do que qualquer coisa vista saindo de nosso Sol.

Mas a erupção lançada pela ultrafria SDSSJ013333 deixou um impacto que deixaria várias outras estrelas no chinelo.

Normalmente medida em uma unidade de energia chamada erg (de uma antiga palavra grega para trabalho, ergon), uma erupção típica pode produzir cerca de 10^30 ergs. Supererupções podem atingir até cerca de 10^36 ergs.

Os astrônomos estimam que a SDSSJ013333 liberou pouco mais de 10^34 ergs de energia; um trabalho insano para uma estrela de coração tão frio, e possivelmente entre os maiores já registrados para uma estrela em sua classe particular.

Em outras palavras, o clarão tornou a estrela 10.000 vezes mais brilhante, levando sua magnitude de pouco mais de 24 para um mais deslumbrante de 15. Não é algo que veríamos a olho nu, mas brilhante o suficiente para um bom telescópio capturar.

Os pesquisadores disponibilizaram seus resultados no banco de dados arXiv pré-publicado para leitura pública, onde podemos ler sua opinião sobre o paper enquanto aguarda a revisão por pares.

Por mais notável que seja o evento, é apenas no contexto de outras erupções que podemos aprender como as anãs ultrafrias – que representam cerca de 15% de todos os objetos estelares em nossa vizinhança da galáxia – se formam e se desenvolvem.

“Graças ao grande campo de visão e à alta cadência de pesquisa, o GWAC é adequado para a detecção de erupções em luz branca. Na verdade, até agora detectamos mais de 130 erupções em luz branca com uma amplitude de mais de 0,8 mag,” relata a equipe.

“Mais unidades do GWAC estão planejadas para trabalhar nos próximos dois anos, com o objetivo de aumentar a taxa de detecção de erupções estelares de alta amplitude monitorando mais de 5.000 graus quadrados simultaneamente.”

É muito espaço. Mas precisamos lançar uma rede ampla para ver o que mais está se escondendo em nossa galáxia.

Ter evidências sólidas do que essas estrelas são capazes de ejetar pode ajudar os astrônomos a entender melhor a física agitada de sua superfície.

Também tem implicações para a possibilidade de vida ao redor dessas estrelas.

Uma anã ultriafria que se tornou celebridade nos últimos anos é a TRAPPIST-1. Encontrada rodeada por uma extensa família de exoplanetas – alguns dos quais estão em uma zona que poderia torná-los banhados em água líquida – já foi especulado como um ponto crucial para futuros caçadores de alienígenas.

Isso foi até os astrônomos calcularem a frequência com que o TRAPPIST-1 poderia fritar seus habitantes de mundos minúsculos em um tsunami esterilizante de vento solar de alta energia.

Da mesma forma, se o sistema da SDSSJ013333 era o lar de um paraíso alienígena antes, são poucas as chances de encontrarmos alguma coisa de pé agora.

Esta pesquisa foi publicada em arXiv.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.