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Uma galáxia com ausência de matéria escura: será mesmo?

Foi publicado na revista Nature, no dia 29 de Março de 2018, um artigo do astrônomo Pieter van Dokkum, da universidade americana de Yale (confira a versão aberta do artigo neste link e a matéria da Universo Racionalista aqui).

Segundo os noticiários, os autores revelam uma descoberta que foge totalmente do que se espera do nosso universo: uma galáxia sem matéria escura, substância desconhecida que condensa a matéria da qual nós e as estrelas somos formados para que uma nova galáxia possa surgir.

Como meu objeto de pesquisa é justamente estrutura e dinâmica das galáxias, bati um papo com meu orientador, que é doutor na área, e estamos acompanhando a história toda.

Em um primeiro momento, ressaltamos que a matéria da NASA talvez tenha dado a entender que os resultados apontavam para a ausência de matéria escura na galáxia NGC1052-DF2, quando na verdade mostravam uma quantidade 400 vezes menor do que a esperada. Talvez fosse apenas uma situação atípica, porque assim como existem galáxias supermassivas no quesito matéria escura, poderiam existir desvios da média para o lado contrário.

Como chegaram aos resultados?

Os astrônomos responsáveis pelo artigo mediram as velocidades das estrelas em torno do centro da galáxia e, usando leis básicas da mecânica Newtoniana, encontraram o valor total da massa visível. Usando outro método que consiste em calcular a massa estelar através da luz, chegaram a um valor muito parecido, também. Isso nunca acontece. Significa que a massa total é somente a visível, enquanto uma galáxia comum tem, em média, cinco vezes mais matéria invisível (escura) do que a que pode ser observada.

Um problema estatístico

Infelizmente para os autores do artigo original e felizmente para a ciência, a mesma funciona através da autocorreção. Alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias, e uma alegação da quase inexistência de matéria escura em uma galáxia despertou o interesse de especialistas no assunto.

Três deles fizeram questão de comentar suas análises na internet pois não conseguiram reproduzir os resultados de Pieter van Dokkum. O texto mais bem detalhado é o de Sam Vaughan, da Oxford University, e tudo começou no twitter de Nicolas Martin. As técnicas de análise são sofisticadas e incluem a galáxia supostamente extraordinária nos padrões galáticos do universo. O principal problema apontado é a grande margem de erro das medidas devido à pobreza de dados coletados. O fato de apenas 10 aglomerados terem sido analisados dificulta a análise estatística e não permite afirmar o que foi alegado pela matéria da Nature. Aparentemente, a revista não fez uma análise tão rigorosa quanto deveria.