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Veja a face da ‘Caveira de Jericó’, enterrada há 9.000 anos com conchas no lugar dos olhos

Traduzido por Julio Batista
Original de Tom Metcalfe para a Live Science

Um famoso crânio humano de 9.000 anos descoberto perto da cidade bíblica de Jericó agora tem um novo rosto, graças aos esforços de uma equipe multinacional de pesquisadores.

A chamada Caveira de Jericó – uma das sete desenterradas pela arqueóloga britânica Kathleen Kenyon em 1953 e atualmente localizada no Museu Britânico em Londres – foi encontrada coberta de gesso e com conchas no lugar dos olhos, aparentemente em uma tentativa de torná-lo mais realista.

Este projeto pré-histórico foi “a primeira reconstrução facial do mundo”, disse o especialista gráfico brasileiro Cícero Moraes, o líder do projeto, à Live Science por e-mail.

Em 2016, o Museu Britânico divulgou medições precisas da Caveira de Jericó, com base em uma microtomografia computadorizada, ou micro-TC – efetivamente uma varredura de raios-X muito detalhada. As medições foram usadas para criar um modelo 3D virtual do crânio, e o modelo foi usado para fazer uma reconstrução facial aproximada inicial.

Mas a nova reconstrução facial aproximada, publicada online em 22 de dezembro na revista OrtogOnline, usa técnicas diferentes para determinar a aparência do rosto e vai além, adicionando artisticamente a cabeça e os pelos faciais.

Embora inicialmente se pensasse que o crânio era feminino, observações posteriores determinaram que pertencia a um indivíduo do sexo masculino, disse Moraes, então a nova reconstrução facial aproximada mostra o rosto de um homem de cabelos escuros na casa dos 30 ou 40 anos (com base em como uma lesão no crânio cicatrizou, os arqueólogos sugerem que ele era de “meia-idade” pelos padrões atuais quando morreu).

Uma reconstrução facial inicial foi feita a partir da anatomia do crânio em 2016, mas a nova reconstrução usa técnicas digitais avançadas. (Créditos: Cícero Moraes/Thiago Beaini/Moacir Santos)

Uma característica incomum da Caveira de Jericó do Museu Britânico é que o crânio, ou parte superior do crânio, é significativamente maior que os outros, disse Moraes.

Além disso, o crânio parece ter sido alongado artificialmente quando o homem era muito jovem, provavelmente amarrado com força; alguns dos outros crânios engessados ​​encontrados por Kenyon também mostram sinais disso, mas o motivo não é conhecido.

Caveiras de Jericó

Jericó, agora uma cidade palestina na Cisjordânia, é considerada um dos assentamentos mais antigos do mundo.

Aparece no livro bíblico de Josué como a primeira cidade cananeia atacada pelos israelitas depois que eles cruzaram o rio Jordão por volta de 1400 a.C. De acordo com a história bíblica, as muralhas de Jericó desabaram depois que Josué ordenou que os israelitas circundassem a cidade por sete dias com a Arca da Aliança, e então tocaram suas trombetas e gritaram até que a estrutura ruísse.

Mas a pesquisa arqueológica não conseguiu encontrar nenhuma evidência desse evento, e agora acredita-se que seja propaganda da Judeia, de acordo com historiadores no Eerdmans Dictionary of the Bible (Eerdmans, 2000).

A nova reconstrução facial utilizou novas técnicas desenvolvidas pelos pesquisadores e derivadas de novos estudos anatômicos e projeções estatísticas de radiografias 3D de pessoas vivas.(Créditos: Cícero Moraes/Thiago Beaini/Moacir Santos)

Os arqueólogos determinaram, no entanto, que Jericó foi continuamente habitada por cerca de 11.000 anos; e em 1953 Kenyon escavou sete crânios em um local perto da cidade antiga.

Cada um tinha sido envolto em gesso, e os espaços dentro dos crânios estavam cheios de terra. Eles também tinham conchas de búzios colocadas sobre as órbitas oculares, e alguns tinham vestígios de tinta marrom.

Kenyon especulou que os crânios podem ser retratos de alguns dos primeiros habitantes de Jericó; mas mais de 50 crânios engessados ​​do mesmo período foram encontrados em toda a região, e agora acredita-se que sejam relíquias de uma prática funerária, de acordo com um estudo por Denise Schmandt-Besserat, professora emérita de Arte e Estudos do Oriente Médio na Universidade do Texas em Austin, EUA.

O crânio é um dos sete descobertos pela arqueóloga britânica Kathleen Kenyon perto da antiga cidade de Jericó em 1953. Acredita-se que seja uma relíquia de uma prática funerária comum na época em que foi feito, cerca de 9.500 anos atrás. (Créditos: Museu Britânico)

Nova aproximação

Moraes disse que não conseguiu encontrar muitos detalhes da reconstrução facial aproximada de 2016, mas parece ter usado o que é conhecido como método de Manchester, desenvolvido desde 1977 e baseado em análises forenses.

Hoje é muito utilizado para reconstrução faciais principalmente de vítimas de crimes.

O crânio está agora no Museu Britânico em Londres, e a mais recente reconstrução facial é baseada em fotografias precisas publicadas em 2016.(Créditos: Cícero Moraes/Thiago Beaini/Moacir Santos)

A reconstrução facial aproximada mais recente, no entanto, usou uma abordagem diferente, baseada em deformação anatômica e projeções estatísticas derivadas de tomografias computadorizadas (TC) – milhares de varreduras de raios-X unidas para criar uma imagem 3D – de pessoas vivas, disse ele.

As técnicas também são utilizadas no planejamento de cirurgias plásticas e na confecção de próteses (partes artificiais do corpo), mas nenhuma delas foi utilizada no estudo de 2016, disse.

As técnicas utilizadas pelos pesquisadores também são utilizadas para planejar cirurgias plásticas e fabricar partes artificiais do corpo. (Créditos: Cícero Moraes/Thiago Beaini/Moacir Santos)

“Eu não diria que a nossa é uma atualização, é apenas uma abordagem diferente”, disse ele. Mas “há maior coerência estrutural, anatômica e estatística”.

Moraes espera fazer reconstruções faciais aproximadas digitais de outros crânios engessados ​​da região, mas até agora só foram publicadas as medidas precisas da Caveira de Jericó do Museu Britânico. “Há muito mistério em torno desse material”, disse Moraes. “Graças às novas tecnologias estamos descobrindo coisas novas sobre as peças, mas ainda há muito a ser estudado.”

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.