Traduzido por Julio Batista
Original de Jennifer Nalewicki para a Live Science
Em 1997, arqueólogos descobriram um esqueleto enterrado em posição fetal na Toca dos Coqueiros, um sítio arqueológico no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Com base no tamanho e na forma do crânio, eles identificaram os restos como femininos e batizaram o esqueleto de Zuzu. Mas essa classificação permaneceu mergulhada em controvérsia, com muitos pesquisadores afirmando que o falecido era na verdade homem.
Agora, uma nova reconstrução facial aproximada do crânio de 9.600 anos pode ajudar a acabar com esse debate.
No ano passado, pesquisadores tiraram dezenas de fotos de diferentes ângulos do crânio, que está exposto no Museu da Natureza do Paraná, Brasil. Usando a fotogrametria, eles juntaram digitalmente as 57 fotografias para criar um modelo 3D virtual do crânio “para revelar o rosto dessa figura tão misteriosa e tão importante para a história do Brasil”, escreveram os pesquisadores em seu estudo, publicado em 25 de janeiro.
“Tentar resgatar a aparência que um indivíduo teve em vida há milhares de anos é uma forma de trazê-lo para os dias atuais, aproximando-o do público”, disse o autor principal Moacir Elias Santos, um arqueólogo do Museu de Arqueologia Ciro Flamarion Cardoso em Ponta Grossa, Paraná, à Live Science por e-mail. “O maior interesse era poder vislumbrar o rosto de Zuzu, cujo esqueleto é um dos achados mais importantes da região do Parque Nacional da Serra da Capivara.”
Para informar seu trabalho, eles usaram tomografia computadorizada de doadores virtuais vivos e aplicaram essas informações para “ajustar a estrutura do crânio” incluindo marcadores de espessura de tecido, disse o coautor do estudo Cícero Moraes, um especialista em gráficos brasileiro, à Live Science por e-mail.
“[Nós] ajustamos a estrutura do crânio para transformar o crânio do doador em um volume quase igual ao crânio de Zuzu”, disse Moraes. “Quando fazemos isso, o tecido mole segue essa deformação/adaptação e resulta em uma face que é esperada, [e] compatível com Zuzu em vida.”
Os pesquisadores criaram dois resultados, ambos retratando um jovem com nariz e lábios espessos. Uma das reconstruções faciais aproximadas incluía cabelos e sobrancelhas com base nas informações fornecidas pelos doadores virtuais, e a outra apresentava Zuzu de olhos fechados e sem cabelo. Como o rosto digital estava “ligeiramente cadavérico”, os pesquisadores retraíram a mandíbula inferior para corresponder a uma lacuna que veio de alguns dentes ausentes, de acordo com o estudo.
“Embora o crânio tenha afinidade com uma população asiática, entre os indivíduos de tal ancestralidade há um grande número de diferenças estruturais, que são contornadas fechando as pálpebras”, escreveram os pesquisadores no estudo. “A imagem também foi renderizada em tons de cinza,, pois não há informações precisas sobre a cor da pele . Portanto, essa imagem seria a mais próxima do que o rosto real poderia ser.”
“O mais interessante ao olhar para o crânio de Zuzu é ter uma ideia de como ele seria em vida”, disse Santos. “É um reencontro com um dos antepassados mais antigos do nosso país.”