Todos nós estamos acostumados com as cores das estrelas. Quando olhamos para o céu e vemos uma estrela azul, nem sequer estranhamos. O mesmo acontece com estrelas alaranjadas e vermelhas. E se você olhasse para o céu essa noite e visse uma estrela verde, qual seria a sua reação?
O interessante é que, em geral, o pico de emissão do espectro das estrelas cai sobre o espectro da luz visível, a pequena janela de cores que nossos olhos conseguem interpretar. No entanto, o espectro visível também inclui as frequências correspondentes ao verde. Então por que não existem estrelas verdes?
A resposta envolve dois fatores: um biológico e outro físico. Vamos começar com o físico.
Azul é a cor mais quente
Estrelas podem ser interpretadas como um corpo negro. Sabendo disso, podemos dizer qual é a cor de uma estrela olhando somente a sua temperatura. Cada temperatura possui uma curva característica, com um pico de emissão em algum ponto do espectro eletromagnético. As temperaturas possíveis de estrelas fazem com que seus picos de emissão caiam exatamente sobre o intervalo que corresponde ao espectro de luz visível. Quanto mais quente um corpo, mais o seu pico de emissão estará situado na parte de alta frequência do espectro eletromagnético (direita).
Sendo assim, podemos averiguar que as estrelas que tem seu pico na região do vermelho são mais frias do que as estrelas que possuem seu pico na região do azul. A figura abaixo mostra algumas temperaturas com o seus respectivos picos de emissão. Estrelas com temperatura superficial de 30 000 K têm seu pico na região do azul-violeta (daí a frase “azul é a cor mais quente”). Já estrelas com 6 000 K, bem próximo da temperatura do Sol, possuem seu pico na região do verde-amarelo.
Espera aí, você disse verde-amarelo? Isso mesmo! O pico de emissão do Sol está na região do verde-amarelo. Então como não o vemos com uma coloração verde? A resposta está no formato da curva para a temperatura correspondente à do Sol. Diferente da curva de 30 000 K – que tem um pico muito pronunciado no azul – a de 6 000 K fica muito mais bem distribuída nas frequências de luz visível. Isso significa que, ainda que o Sol emita mais radiação na frequência do verde, essa “radiação a mais” é ínfima quando comparada com as demais frequências. Lembre-se: o Sol emite todas as frequências, a diferença é que algumas são emitidas com maior ou menor intensidade.
Aliás, é esse formato da curva de emissão do Sol que faz com que ele seja branco, e não amarelo como várias pessoas acreditam. Essa foi a parte física. E qual é a biológica?
Um design nada inteligente
Nossa retina possui dois tipos de células que interpretam a luz: os cones e os bastonetes. Os bastonetes são as células que detectam a intensidade luminosa, e os cones, as respectivas cores. Os cones conseguem detectar três cores, que podem ser misturadas para formar todas as outras: verde, vermelho e azul.
O problema é que nem todos os cones são estimulados de maneira igual. Olhando para o gráfico abaixo, vemos que os cones correspondentes ao verde quase se sobrepõem aos cones correspondentes ao vermelho.
O que isso significa, na prática? Isso significa que nossos olhos nunca vão ativar somente os cones verdes, o que nos permitiria enxergar estrelas com coloração verde. O único caso em que isso seria possível, seria quando uma estrela emitisse somente a frequência de onda correspondente ao verde, o que é impossível. O espectro de corpo negro do Sol nos mostra que quase todas as cores visíveis são emitidas com a mesma intensidade. Ou seja, você pode procurar o quando quiser, mas nunca encontrará uma estrela verde.