Por Paul Pattom
Publicado na Universe Today
“Nada na biologia faz sentido”, escreveu o biólogo evolutivo Theodosius Dobzhansky, “ao menos que esteja sobre a luz da evolução”. Se nós queremos descobrir a possível existência de civilizações tecnológicas evoluíram em planetas ou luas, e como elas podem ser, a teoria da evolução é o nosso melhor guia. No dia 18 de maio de 2016, o recentemente fundado METI Internacional sediou a conferencia chamada “A Inteligência do SETI: Cognição e Comunicação na Inteligência Extraterrestre”. A conferencia aconteceu em San Juan, em Porto Rico no primeiro dia da Conferencia de Desenvolvimento Espacial Internacional da Sociedade Espacial Nacional. Ela incluiu nove palestras de cientistas e estudiosos em biologia evolutiva, psicologia, ciências cognitivas e linguística.
No primeiro artigo dessa série, nós vimos que a inteligência, em várias perspectivas, é abundante no reino animal. A palestrante Anna Dornhaus, que estuda a tomada de decisão coletiva em insetos como uma pesquisa da Universidade do Arizona, mostrou que até mesmo insetos, com seus cérebros pequenos, apresentam certa sofisticação cognitiva. A inteligência, sobre várias perspectivas, é fruto da evolução.
Animais desenvolveram habilidades cognitivas que eles precisam para responder às demandas de seus ambientes e estilos de vida. Cérebros e cognição sofisticas se desenvolveram várias vezes na Terra, em várias linguagens evolutivas separadas. Mas, entre as milhares de linhagens evolutivas que surgiram na Terra em 600 milhões de anos desde que a vida inteligente apareceu, apenas uma, que levou aos seres humanos, produziu a combinação peculiar de traços cognitivos que levaram a uma sociedade tecnológica. O que isso nos mostra, é que uma civilização tecnológica não é um produto inevitável de uma longa cadeia evolutiva, mas sim um episódio peculiar de circunstancias particulares. Mas quais foram essas circunstancias, e quão improváveis elas foram?
O palestrante Geoffrey Miller é um pesquisador de professor da Universidade do Novo México. Miller acredita que ele tem uma resposta para a questão sobre quais circunstancias especiais moldaram a evolução humana. Nossos ancestrais proto-humanos habitavam a savana africana. Mas vários outros animais não precisam de cérebros “especiais” para sobreviver lá. As forças evolutivas moldando a produção de cérebros grandes, Miller indica, não pode ser graças aos desafios da sobrevivência. Mas Miller não é criacionista, ou tem o monólito alienígena da ficção científica da década de 1960, o clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço em mente. A inteligência para Miller, é fruto de do guia que nossos próprios ancestrais usavam para escolher seus parceiros.
A teoria de Miller retoma as ideias do fundador da teoria evolucionista, o naturalista britânico do século XIX, Charles Darwin. Darwin propôs que a evolução funciona atrás de um processo de seleção natural. A descendência animal varia de geração em geração, e são produzidos muitos deles para que a espécie sobreviva. Alguns morrem de fome, e alguns são comidos por seus predadores, outros são vítimas dos numerosos perigos do reino animal. Poucos sobrevivem para produzir a prole, então passando em frente os traços que permitiram sua sobrevivência. Ao longo das gerações, traços que garantiram a sobrevivência se tornam mais elaborados e úteis, e traços que não o fizeram, são descartados.
Mas Darwin estava incomodado por um sério problema em sua teoria. Ele sabia que vários animais tem trações proeminentes que não parecem contribuir para sua sobrevivência, e são até mesmo contra produtivos para ela. As cores vibrantes de vários insetos, plumagem elaborada e os canto de alguns pássaros, os enormes chifres de alce, são todos traços proeminentes de dispendiosos que não poderiam ser explicados pela teoria da seleção natural. Pavões, com as suas penas da cauda elaborados estavam em todos os lugares nos jardins ingleses, e comeram a atormenta-lo.
Finalmente, Darwin encontrou a solução. Para produzir a prole, um animal faz mais do que apenas produzir, ele precisa encontrar um parceiro para se acasalar. Todos os traços que preocupavam Darwin poderiam ser explicados se eles fossem úteis para faze-los mais atraentes e bonitos para potenciais parceiros, do que os membros rivais de seu próprio sexo. Se a pavoa gosta de plumagem elaborada, então em cada geração, elas escolherão se acasalar com machos com a mais elaborada cauda, e rejeitar o resto. Durante a competição por parceiros, as caudas dos pavões são tornarão cada vez mais complexas ao longo das gerações. Darwin chamou sua nova teoria de seleção sexual.
Vários biólogos evolucionistas subsequentes consideravam a seleção sexual como de importância limitada, e a misturaram com a da seleção natural, o que foi dito para favorecer características propícias à sobrevivência e sucesso reprodutivo. Entretanto, nas últimas décadas biólogos evolucionistas passaram a ver a seleção sexual em uma luz muito mais favorável. Geoffrey Miller propôs que o cérebro humano evoluiu através da seleção sexual. Eles supõe que os seres humanos são sapiosexuais; ou seja, eles são atraídos sexualmente pela inteligência e seus produtos. A preferência por selecionar parceiros inteligentes produziu inteligência maior, o que permitiu nossos ancestrais a se tornarem mais exigentes na escolha de companheiros mais inteligentes, produzindo um certo feedback loop, e uma explosão de inteligência.
Com isso, linguagem, musica, dança, humor, arte, literatura, e talvez até moral e ética existem porque aqueles que eram bons nisso, foram considerados mais atraentes, ou mais confiáveis e honestos, e foram portanto melhores sucedidos em proteger seus parceiros do que aqueles que não possuíam esses talentos. O cérebro humano elaborado é como a cauda de pavão elaborada. Ele existe para assegurar parceiros, não a sobrevivência. Existem alguns meios importantes nos quais os proto-humanos foram diferentes do pavão. OS machos e fêmeas são dificilmente satisfeitos e ambos tem cérebros maiores. Protohumanos, diferente dos pavões, provavelmente formaram casais monógamos. A teoria de Miller tem complexidades que o espaço não nos permitirá explorar aqui. Para mostrar que essa teoria funciona, Miller precisava desenvolver um modelo de computador.
Se Miller estiver certo, então quão provável é a evolução de uma civilização tecnológica, e qual é a probabilidade de que nós a encontraremos fora de nossa galáxia? Miller acha que a vida complexa existe em outros planetas e luas, que é provável de evoluir a reprodução através do sexo, assim como aconteceu aqui na Terra. Para organismos complexos que dependem de um largo e complicado corpo de informações genéticas, a maior parta das mutações serão neutras ou nocivas. Na seleção sexual, metade dos genes da prole vem de cada pai. Sem essa mistura de genes de outros indivíduos, linhagens assexuadas são prováveis de vacilar e serem extintas devido ao acumulo de mutações nocivas. Ao menos que criaturas sexualmente reprodutivas escolham seus parceiros puramente ao acaso, a seleção sexual é inevitável. Então, condições básicas para seleção sexual produzir um cérebro adequado para linguagem e tecnologia provavelmente existem em outros mundos com vida complexa.
Um problema, entretanto, que Anne Dornhaus apontou, é que na seleção sexual, o traço que fica mais exagerado é extremamente arbitrário. Existem várias espécies de pássaros com plumagem elaborada, mas nenhuma exatamente como a do pavão. Há várias espécies em que o cérebro e traços cognitivos importam para o sucesso do acasalamento, como o canto dos rouxinóis e de outros pássaros, mas também baleias e gibões. Bowerbirds machos constroem estruturas complicadas, chamadas bowers (tigelas), com itens encontrados, como paus e folhas e pedras e conchas, para atrair uma fêmea. Os chimpanzés se envolvem em lutas de poder complexas que envolvem a negociação, preparação, e luta para garantir o seu caminho para o topo.
Mas apesar do processo seletivo de cognição em várias espécies, nosso tipo de inteligência humana especifica, com linguagem e tecnologia, aconteceu apenas uma vez na Terra, e portanto pode ser raro no Universo. Se nossos ancestrais tivessem achado narizes grandes invés de cérebros atraentes, então agora nós talvez tivéssemos narizes enormes ao invés de radiotelescópios enormes capazes de sinalizar para outros mundos.
Miller é otimista. “É um acidente raro” ele escreve, no sentido de que as preferências para acasalamento raramente são ‘sapiosexual’, com foco tão fortemente em exibições conspícuas de inteligência geral… Por outro lado, eu acho que é provável que em qualquer biosfera, a seleção sexual acabar por tropeçando na preferência sapiosexual por um companheiro, então existiriam informações a nível humano de linguagem de algum tipo. Isso só poderia surgir em 1 de cada 100 milhões de espécies, porém, eu suspeito que em qualquer biosfera com reprodução sexuada, organismos complexos e uma grande variedade de espécies, seria bastante provável conseguir pelo menos uma linhagem no nicho sapiosexual dentro de um bilhão de anos “.
Um planeta ou lua é frequentemente cogitado como habitável se ele se encontra a uma distância razoável de uma estrela, num raio que faria possível a existência de água liquida em sua superfície. Esse raio de distância é chamado zona habitável. Já que as estrelas evoluem com o tempo, a duração da habitabilidade é limitada. Tais questões podem ser exploradas através de modelagem climática, informando o que sabemos dos climas da Terra e de outros planetas no nosso sistema solar, e sobre a evolução das estrelas.
O pensamento atual é que a duração de habitabilidade total da Terra seja de 6,3 a 7,8 bilhões de anos, e que nosso mundo continue habitável por mais 1,75 bilhões de anos. Já que a vida complexa tem existido na Terra há 600 milhões de anos, isso parece uma quantidade generosa de tempo para a vida complexa em um planeta com semelhante nicho sapiosexual de Miller. Estrelas com massa menor que o Sol são estáveis e com escalas de tempo mais longas, algumas talvez capazes de sustentar mundos com água líquida por centenas de bilhões de anos. Se as estimativas de Miller são razoáveis, então podem haver mundos e tempo suficientes para uma abundância de civilizações alienígenas sapiosexuais em nossa galáxia.
A mensagem central das palestras do METI é que, animais desenvolvem qualquer tipo de inteligência necessária para sua sobrevivência e reprodução sobre as circunstancias em que se encontram. A inteligência no estilo humano, com linguagem e tecnologia, é uma circunstância evolutiva peculiar e improvável. Mas nós não sabemos o quão improvável ela é. Dado a vastidão do tempo e números de mundos potencialmente disponíveis para rolar o dado evolutivo, as civilizações alienígenas podem ser razoavelmente abundantes, ou podem ser uma-vez-em-um-bilhão raras. Nós ainda não sabemos. Maior conhecimento da evolução da vida e inteligência aqui na Terra pode nos permitir melhorar as nossas estimativas.
Se civilizações alienígenas existem, o que a vida na Terra pode nos dizer sobre como mentes e sentidos fora de nosso planeta seriam? Eles, como nós, são criaturas orientadas pela visão, ou se apoiam em outros sentidos? Nós podemos esperar que suas mentes sejam suficientemente parecidas às nossos para que a comunicação seja possível? Estas perguntas intrigantes serão o tema da terceira e última parte desta série.