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Introdução à Filosofia Analítica da História

Este texto é uma tradução da Parte 3 do verbete Philosophy of History da Stanford Encyclopedia of Philosophy. A tradução completa foi realizada por mim com autorização dos editores da SEP e do autor do verbete e pode ser baixada nestes links: ResearchGate, Academia.edu e meu site pessoal.

3. FILOSOFIA ANGLO-AMERICANA DA HISTÓRIA

As tradições do empirismo e da filosofia anglo-americana ocasionalmente também dedicaram atenção à história. Filósofos dessa tradição evitaram as questões da filosofia especulativa da história e, em vez disso, levantaram questões sobre a lógica e a epistemologia do conhecimento histórico. Aqui, a questão norteadora é: “Quais são as características lógicas e epistemológicas do conhecimento histórico e da explicação histórica?”

O empirismo de David Hume lançou uma chave dominante para quase toda a filosofia anglo-americana subsequente e esta influência se estende à interpretação do comportamento humano e das ciências humanas. Hume escreveu uma amplamente lida história da Inglaterra (1754-1762). Sua interpretação da história foi baseada na suposição de ações, motivos e causas comuns, sem simpatia por interpretações teológicas do passado. Sua visão filosófica da história tinha como premissa que as explicações do passado podem ser baseadas na suposição de uma natureza humana fixa.

O interesse anglo-americano na filosofia da história foi renovado em meados do século XX com o surgimento da “filosofia analítica da história”. Colaboradores representativos incluem Dray (1957, 1964, 1966), Danto (1965) e Gardiner (1952, 1974). Essa abordagem envolve a aplicação dos métodos e ferramentas da filosofia analítica para os problemas especiais que surgem na busca de explicações históricas e do conhecimento histórico (Gardiner 1952). Aqui, o interesse está nas características do conhecimento histórico: como sabemos dos fatos sobre o passado, o que constitui uma boa explicação histórica, se explicações da história exigem leis gerais e se o conhecimento histórico é subdeterminado pelas provas históricas disponíveis. Os filósofos analíticos enfatizaram o estatuto empírico e científico do conhecimento histórico e tentaram compreender essa afirmação conforme as linhas do estado científico das ciências naturais (Nagel 1961).

Os filósofos na tradição analítica são profundamente céticos sobre o poder da razão não-empírica de chegar a conclusões substantivas sobre a estrutura do mundo – incluindo a história humana. O raciocínio filosófico por si só não pode ser uma fonte de conhecimento substantivo sobre o mundo natural ou sobre a sequência de eventos, ações, estados, classes, impérios, flagelos e conquistas que chamamos de “história”. Em vez disso, o conhecimento substantivo sobre o mundo pode derivar apenas da investigação empírica e da análise lógica das consequências desses achados. Assim, os filósofos analíticos da história tiveram pouco interesse nas grandes questões sobre o sentido e a estrutura da história considerados acima. Os praticantes da filosofia especulativa da história, por outro lado, estão convencidos do poder do pensamento filosófico de raciocinar por meio de uma compreensão fundamental da história e ficariam impacientes com uma defesa de uma abordagem puramente empírica e conceitual para área.

A Filosofia da história de W. H. Walsh ([1951] Walsh 1960), publicado pela primeira vez em 1951 e revisto em 1960, é um esforço bem fundamentado e de mente aberta para fornecer uma apresentação detalhada do campo que atravessa a separação entre a filosofia continental e a analítica. O livro tenta tratar de ambas as grandes questões que conduzem boa parte da filosofia da história: a natureza do conhecimento histórico e a possibilidade de adquirir conhecimento “metafísico” sobre a história. Filósofo de Oxford treinado na filosofia moderna, Walsh foi fortemente influenciado por Collingwood e estava bastante ciente da tradição idealista europeia de pensamento filosófico sobre a história, incluindo Rickert, Dilthey e Croce, tratando dessa tradição com seriedade. Ele traça a distinção entre essas tradições nas linhas da filosofia “crítica” e “especulativa” da história. O objetivo de Walsh para o livro é ambicioso. Ele espera propor um quadro no qual as principais perguntas sobre a história possam ser abordadas, incluindo as duas principais tradições. Ele propõe a ideia que o historiador se depara com uma série de eventos, ações e desenvolvimentos durante um período. Como eles ficam juntos? Walsh denomina o processo cognitivo por meio do qual o historiador encontra sentido em um conjunto de eventos históricos separados de “coligação” – “para localizar um evento histórico em um processo histórico mais amplo nos termos do qual ele faça sentido” (p. 23).

Walsh fundamentalmente aceita a premissa mais básica de Collingwood: que a história diz respeito às ações humanas conscientes. O slogan de Collingwood era que “a história é a ciência da mente” e Walsh parece aceitar grande parte dessa perspectiva. Assim, nesta abordagem, a tarefa intelectual chave do historiador é reconstruir as razões ou motivos que os sujeitos tiveram em vários pontos da história (e, talvez, as condições que os levaram a ter essas razões e motivos). Isso significa que as ferramentas para a interpretação de significados e motivos são cruciais para o historiador – assim como os filósofos hermenêuticos da tradição alemã haviam discutido.

Walsh sugere que o conteúdo filosófico da filosofia da história cai naturalmente em dois tipos diferentes de investigação, paralelos à distinção entre filosofia da natureza e filosofia da ciência. O primeiro lida com questões metafísicas sobre a realidade da história como um todo; o segundo lida com as questões epistemológicas que surgem na busca e formulação do conhecimento da história. Ele se refere a estas abordagens como os aspectos “especulativos” e “críticos” da filosofia da história. E tenta formular uma visão sobre quais são as questões-chave para cada abordagem. A filosofia especulativa da história pergunta sobre o sentido e a finalidade do processo histórico. A filosofia crítica da história é o que hoje nos referimos como filosofia “analítica” – é para a história o equivalente do que a filosofia da ciência é para a natureza.


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Thomas Conti

Thomas Conti

28 anos, mestre em economia, professor assistente no Insper, docente na Especialização em Direito e Economia (Law & Economics) da Unicamp, consultor, pesquisador, programador em R e doutorando em economia pela Unicamp. Faço hora extra como divulgador científico e defendendo políticas públicas baseadas em evidências.