Publicado na EurekAlert!
As pessoas sabem há muito tempo que o guano – o termo educado para designar o que os mamíferos voadores deixam no chão de cavernas onde vivem – é uma valiosa fonte de combustível e fertilizante, mas uma pesquisa recentemente publicada por geocientistas da Universidade do Sul da Flórida mostra que ele é também um registro confiável das mudanças climáticas.
Em um novo artigo publicado nesta semana na revista Scientific Reports, Bogdan Onac, geocientista e professor da USF, e o estudante de doutorado Daniel Cleary reportaram que os isótopos encontrados no guano dos últimos 1.200 anos podem fornecer aos cientistas informações sobre como o clima estava e está mudando.
Os cientistas examinaram o guano de uma caverna no noroeste da Romênia para produzir uma nova visão de como o clima na Europa Central e Oriental mudou desde o Período Medieval Quente, cerca de 850 EC.
O ciclo do nitrogênio em florestas temperadas é muito sensível às mudanças na quantidade de precipitação do inverno que são recebidas a cada ano. Quando os isótopos de nitrogênio mudam em resposta à variação na precipitação do inverno ao longo dos últimos 2.000 anos, essa assinatura é transferida do solo para as folhas de plantas, para os insetos, para os morcegos, e finalmente, para o guano.
“Felizmente para cientistas, a afirmação ‘você é o que você come’ também se aplica aos morcegos”, diz Onac.
Frequentemente, os cientistas examinam registros químicos em substâncias naturais para documentar como o clima mudou no passado e também para dar uma visão de como ele está mudando agora. Os cientistas perfuram núcleos de lama nos sedimentos sob os oceanos, núcleos de gelo no Ártico e na Antártida, examinam os anéis das árvores ou usam a química encontrada nas cavernas (estalagmites) como proxies climáticos – isto é, características físicas preservadas do passado que representam medições meteorológicas diretas e que permitem que os cientistas reconstruam as condições climáticas em uma fração maior da história da Terra.
O guano é rico em nitrogênio, e os cientistas sabem que o nitrogênio se move através da mudança de alimentos e dos animais, onde é devolvido ao meio ambiente. Quando os morcegos retornam para o mesmo local dentro de uma caverna, as pilhas de guano sob seu poleiro podem alcançar dimensões consideráveis. Os pesquisadores encontraram em Măgurici Cave, na Romênia, uma grande pilha de três metros de guano que está acumulada há mais de mil anos.
A análise isotópica da pilha de guano na Măgurici Cave resultou em um registro quase anual da precipitação do inverno na região. A localização desta caverna no foreland das Montanhas do Leste dos Cárpatos significa que a precipitação do inverno é modulada pela Oscilação do Atlântico Norte (NAO), embora com condições mais úmidas que influenciam a disponibilidade do nitrogênio no sistema florestal circundante. Usando registros históricos de precipitação, estabeleceu-se uma relação entre a precipitação do inverno e as fases NAO. Através deste trabalho, as fases passadas do NAO poderiam ser reconstruídas de volta para o ano 1.600 EC, diz Cleary.
O trabalho representa o primeiro estudo a fornecer um paleoregistro deste padrão de circulação atmosférica de grande escala para a Europa Central e Oriental usando guano de morcego da caverna. Os pesquisadores da USF colaboraram com a Universidade Babeş-Bolyai em Cluj, na Romênia, e a Universidade de Bremen, na Alemanha.