Você consegue entender o que essas manchas de sangue acima indicam?
Em uma análise do local de crime, especialmente em casos de crimes violentos que envolvem agressão ou homicídio, é comum encontrar sangue disperso pelo local. Essa distribuição segue padrões determinados pela origem de arremesso da gota. Essa dinâmica irá contar uma história a ser interpretada pelo perito criminal.
Para compreender o mecanismo de formação das gotas e manchas de sangue exige-se muito mais conhecimento de física e trigonometria do que de biologia ou química. Uma das primeiras características da mancha a ser analisada é seu diâmetro. Esta dimensão em um gotejamento perpendicular, ou seja, a 90° em relação ao solo, terá uma relação direta com a altura da queda (bem como a quantidade de sangue). Isso é causado pela conservação da energia mecânica, na qual quanto maior a queda, maior a energia potencial e consequentemente maior o diâmetro da gota de sangue. Contudo, devemos ter em mente que essa não é uma relação linear.
Outro detalhe que podemos perceber após o impacto e a dissipação de energia da gota é a formação de coroas na borda, em alguns momentos projeções espinhosas (acúleos). As gotas satélites são formadas pela dissipação de energia durante o impacto e tendem a se posicionarem convergentemente a mancha principal. Essas características evidenciam a velocidade do impacto e a altura.
Em casos que o trajeto foi retilíneo, é fácil identificar a direção de convergência, devido a relação direta entre a altura e o diâmetro. Apesar da gota de sangue possuir uma forma esférica durante o percurso, quando existe uma variação do ângulo, a mesma adquire uma forma ovalada no impacto. A anatomia dessa mancha possui uma divisão em duas partes, determinadas como cabeça e cauda. A cabeça é a principal parte dessa marca de sangue, com o formato oval, e a cauda possui um formato irregular que determina a direção do trajeto percorrido. A deformação da cabeça e da cauda varia de acordo com o ângulo de impacto, geralmente, quanto menor o ângulo, mais alongado é o formato. Sabendo a direção da gota de sangue, podemos reconstruir a trajetória bidimensional de sua origem.
Para determinar o ângulo de origem, aplica-se as propriedades de trigonometria do triângulo retangular. A dimensão do comprimento da cabeça é equivalente à hipotenusa e a largura é equivalente ao cateto, sendo assim, o ângulo é o arco seno da largura pelo comprimento da mancha. Conhecendo a distância da mancha do ponto de origem da visão bidimensional e o ângulo de impacto da gota é possível calcular a origem tridimensional. Esse ponto de origem é a multiplicação entre a distância da mancha pela tangente do ângulo de impacto.
A velocidade de projeção do sangue contra a parede ou o chão também é refletida em seu padrão morfológico, podendo indicar qual mecanismo projetou tais manchas. Quanto maior a velocidade, maior será a energia mecânica que afetará a tensão superficial do sangue, diminuindo o diâmetro das manchas.
As Manchas de projeção de baixa velocidade possuem uma velocidade de até 1,5 m/s e não tendo manchas com diâmetro maiores do que 3 milímetros. Esses pingos de sangue são originados de artérias lesionadas que gotejam sucessivamente ou mesmo de um instrumento coberto de sangue sendo carregado.
As Manchas de projeção de média velocidade estão na velocidade entre 1,5 e 10 m/s com diâmetros de até 1 mm. Costumam ser originadas por objetos perfurocortantes ou impactos consecutivos de objetos contundentes atingindo a mesma região.
Dificilmente gotas de sangue causadas por instrumentos contundentes terão uma alta velocidade, mesmo que estejam acelerados, existindo uma grande diferença entre as armas de fogo. Por isso, acima de 30 m/s são classificadas como Manchas de projeção de alta velocidade e formam borrifas de sangue, pequenas gotículas dispersadas na superfície bem características. Elas são causadas exatamente pela perfuração de projéteis de arma de fogo no corpo ou por explosões.
Apesar de ser uma área bem explorada e de grande potencial, a hematologia reconstrutora é importante para entender a dinâmica dos eventos ocorridos. Porém, é preciso ter muita cautela quando acusar um suspeito através dessas técnicas.
Referências
- Adam, C. D. (2012). Fundamental studies of bloodstain formation and characteristics. Forensic Science International 219, 76-87.
- Filho, C. R. D. & Francez, P. A. C. (2016). Introdução a Biologia Forense. Millennium editora.
- James, S. H. & Nordby, J. J. (2009). Forensic Science: An Introducton to scientific and investigative techniques. CRC Press.