Por Beatriz Gato Rivera
Publicado no El País
Para começar a responder sua pergunta, devo lhe dizer que, em relação à entropia, os seres humanos não têm nenhuma característica física ou biológica diferente de outros seres vivos, sejam eles bactérias, plantas ou animais. Portanto, devemos estender sua pergunta a todos eles e nos perguntar se a entropia poderia ser contrária à existência de seres vivos em geral, o que, sim, é algo que já foi levantado anteriormente.
A primeira coisa que devemos fazer é entender o conceito chave da sua pergunta. A entropia de um sistema pode ser vista como uma medida da desordem dos seus componentes (por exemplo, de suas moléculas, etc). A segunda lei da termodinâmica diz que todos os processos que ocorrem no universo são realizados de uma maneira que sempre aumenta a desordem e, portanto, a entropia globalmente, mas não necessariamente localmente, isto é, em um pequeno espaço e/ou em um pequeno intervalo de tempo. Ou seja, as transformações e trocas de energia acontecem para que, a longo prazo (dentro de um tempo razoável), a entropia total do sistema e seu ambiente sempre aumente. Fique com esse conceito porque ele é a chave para responder à sua pergunta.
Essa segunda lei da termodinâmica pode parecer contraditória à existência de organismos vivos, porque eles são extremamente organizados. E é por isso que vem o dilema de saber se sua existência está contrariando esse princípio da termodinâmica. Mas a resposta é não, não há contradição.
E a explicação é que todos os organismos vivos, sejam eles bactérias, plantas ou animais, extraem energia de seus arredores, por exemplo, obtêm energia através da combustão de matéria orgânica, para aumentar e manter sua complexa organização. Por essa razão, a entropia diminui nos seres vivos, mas esse grau de ordem de seus componentes, que diminui na entropia, continua a aumentar a entropia em torno dela.
Então, em resumo: todas as formas de vida, mais os produtos residuais de seus metabolismos, têm um aumento líquido na entropia. Além disso, para sustentar a vida, você precisa transferir energia para o ser vivo. Se deixar de o fazer, o organismo morre em breve e tende sempre para a destruição da ordem que tinha, ou seja, para a desordem ou aumento da entropia.