Por Jessica Hamzelou
Publicado na New Scientist
Um novo e mortal coronavírus chegou a aproximadamente 13 países. Na segunda-feira, 27 de janeiro, existiam 2.794 casos confirmados do vírus, enquanto dezenas de milhares de pessoas já estavam sendo mantidas sob supervisão médica em todo o mundo. 259 pessoas morreram com o vírus, de acordo com o último relatório.
Estimativas preveem um aumento no número de mortes. O vírus pode se espalhar antes que os sintomas apareçam, disse o ministro da saúde da China, Ma Xiaowei, no domingo, o que significa que será ainda mais difícil impedir a transmissão entre as pessoas.
Existem casos confirmados do vírus não estão apenas em toda a Ásia, mas nos EUA, na Austrália e na Europa. Até agora, todos os casos fora da China parecem ocorrer em pessoas que viajaram da província de Hubei, onde o surto começou, ou na área circundante. Mas é provável que os pesquisadores ainda descubram nos próximos dias e semanas se o vírus começará a se espalhar ainda mais nesses países.
Casos confirmados foram relatados na China continental, Hong Kong, Macau, Tailândia, EUA, Austrália, Japão, Malásia, Cingapura, Taiwan, França, Coreia do Sul, Vietnã, Canadá e Nepal. Até agora, todas as mortes registradas ocorreram na província de Hubei.
Surto crescente
A escala do surto dependerá da rapidez e facilidade com que o vírus é transmitido entre as pessoas. Utilizando dados coletados até 18 de janeiro, parece que, em média, cada pessoa infectada pelo vírus o transmite para 1,5 a 3,5 outras pessoas, de acordo com uma análise de Natsuko Imai e seus colegas do Imperial College London.
Utilizando estimativas semelhantes, Robin Thompson, da Universidade de Oxford, prevê que há uma chance em três de uma pessoa que levar o vírus para o Reino Unido transmiti-lo a outras pessoas no país. Essa estimativa é baseada em dados coletados desde o início do surto. Thompson espera que, à medida que os países adotem medidas para controlar a propagação do vírus, as chances de isso acontecer se tornem menos prováveis.
Mas ainda há muito que não sabemos sobre o vírus, e alguns pesquisadores sugerem que ele pode se espalhar mais rapidamente do que o estimado. Um estudo, com base nos dados coletados entre 10 e 21 de janeiro, estima que cada pessoa com o vírus pode transmiti-lo a entre 3 e 5 outras pessoas. O trabalho, de Shi Zhao, da Universidade Chinesa de Hong Kong e seus colegas, sugere que o vírus é muito mais contagioso do que se pensava inicialmente.
A estimativa de Thompson foi calculada com base no pressuposto de que o vírus não é contagioso até que os sintomas apareçam – e isso não parece mais ser o caso. “Se o vírus é capaz de se espalhar antes que os sintomas apareçam, isso certamente poderia explicar por que o vírus está se espalhando de forma mais rápida do que a SARS”, diz Thompson.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA alertam que, embora apenas cinco casos tenham sido relatados nos EUA até agora, é provável que a disseminação do vírus de pessoa para pessoa no país “ocorra até certo ponto“.
Lições da SARS
Foram feitas comparações entre a pneumonia causada pelo novo vírus e a SARS (síndrome respiratória aguda grave), que infectou mais de 8000 pessoas durante um surto global iniciado em 2003. Os vírus são da mesma família e podem causar febre e pneumonia.
Até agora, o novo vírus parece ter uma menor taxa de mortalidade. Com base no número de casos e mortes notificados, a taxa parece estar em torno de 2,8%, em comparação com uma taxa de 9,6% da SARS. Mas é muito cedo para ter certeza de quão perigoso é o vírus. Ainda estamos nos primeiros dias do surto, diz Thompson.
O vírus está se espalhando mais rapidamente que a SARS. “A SARS levou vários meses para causar mil casos”, diz Thompson. “Isso causou [quase] 3000 casos em três semanas.”
O surto de SARS terminou em 2004 – não houve casos relatados desde então. As agências de saúde controlaram o vírus isolando as pessoas com o vírus e examinando os passageiros de viagens aéreas. Essas medidas serão ainda mais difíceis com um vírus que pode se espalhar antes que os sintomas apareçam.
Também há sempre uma chance do vírus sofrer mutação e tornar-se ainda mais contagioso ou mortal. No entanto, ainda não há evidências de que o vírus tenha sofrido mutações entre as pessoas e a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse em uma entrevista coletiva na semana passada que o vírus parece estável. Então, devemos ficar preocupados?
O CDC descreve o surto como uma “ameaça muito grave à saúde pública”. “Estou bastante preocupado com a situação atual”, diz Thompson.
Retardando a propagação
Enquanto isso, as autoridades de saúde da China adotaram medidas sem precedentes na tentativa de controlar a propagação do vírus. Wuhan, onde o surto começou, foi isolado – o transporte público e o aeroporto estão fechados e o uso de veículos particulares está impedido. Os serviços de imigração na cidade foram suspensos em Wuhan. Várias outras cidades também foram isoladas, afetando dezenas de milhões de residentes.
As autoridades chinesas também prolongaram o feriado do Ano Novo Lunar. O feriado público terminaria em 30 de janeiro, mas foi prorrogado até 2 de fevereiro, e as escolas e universidades continuam fechadas até novo aviso. Uma lista crescente de países está examinando passageiros aéreos da China. A Mongólia fechou suas fronteiras com a China e o governo da Malásia disse que não emitirá vistos para pessoas das regiões afetadas.
O governo chinês também proibiu temporariamente a venda de animais silvestres em mercados e restaurantes. Embora as origens do vírus ainda não sejam claras, acredita-se que o vírus tenha sido transmitido de morcegos para pessoas, possivelmente por cobras ou visons. Todos esses animais estavam à venda no mercado de frutos do mar Huanan em Wuhan, onde foram relatados os primeiros casos do vírus.
A Sociedade de Conservação da Vida Selvagem (WCS) pediu que a proibição se torne permanente. “Os mercados de animais vivos, mal regulados e misturados ao comércio ilegal de animais silvestres, oferecem uma oportunidade única para que os vírus se espalhem dos hospedeiros para a população humana”, disse Christof Walzer no WCS em comunicado.