Por Katherine J. Wu
Publicado na Smithsonian Magazine
Quando os cientistas se deparam restos com humanos fossilizados, eles sabem que geralmente é uma relação sem reciprocidade: depois de décadas ou séculos no subsolo, os ossos perdem diversos detalhes e a “humanidade” de suas expressões. Ainda assim, graças à reconstrução facial, os pesquisadores agora estão reavaliando os restos mortais de dois dos primeiros habitantes de Edimburgo, Escócia – e, pela primeira vez em séculos, suas faces estão de volta à tona.
Os dois fósseis pertencem a um homem e uma mulher cujos esqueletos foram encontrados embaixo da Catedral de Santo Egídio, que servia como cemitério desde o início do século XII, quando a cidade estava se formando no reinado de David I da Escócia, relatou Brian Ferguson para o jornal Scotsman. Embora nenhum dos indivíduos sejam descobertas recentes da ciência, seus rostos – revelados através de uma colaboração entre o conselho da cidade de Edimburgo e o Centro de Anatomia e Identificação Humana da Universidade de Dundee, este último em parceria com muitas outras instituições voltadas a trabalhos semelhantes – só nos foram apresentados recentemente.
“Ser capaz de examinar fisicamente os restos mortais tem sido fascinante e proporcionou uma ótima visão da vida de nossos […] antepassados”, diz Karen Fleming, especialista em arte forense e identificação facial que trabalhou na reconstrução facial da mulher. (Anteriormente, Fleming elaborou uma reconstrução 3D em cera de uma druida desdentada da Idade do Ferro.)
Desde que os arqueólogos estudaram pela primeira vez a Catedral de Santo Egídio, na década de 1980, foram descobertas mais de 110 pessoas em cinco cemitérios que datam entre os séculos XII e XVI. À medida que a catedral se expandia ao longo das décadas, também aumentava sua capacidade para sepultar cadáveres. Adultos e crianças passavam a jazir na catedral, que acomodava as classes altas em seu interior e os plebeus do lado de fora, segundo Ferguson.
Entre os restos mais antigos estão os de um homem do século XII, entre 30 e 40 anos, com cerca de um metro e meio de altura, disse a artista forense Lucrezia Rodella à Ferguson. O crânio do homem estava praticamente intacto, faltando apenas alguns dentes, o que tornava bastante fácil reconstruir seu rosto do zero. Rodella deu a ele olhos castanhos, cabelos castanhos e um nariz longo e ligeiramente torto. Havia, no entanto, um problema: a mandíbula inferior do homem ausente, que o artista inteligentemente cobriu com barba.
A segunda pessoa, uma mulher de classe alta, marca a outra extremidade da linha do tempo do cemitério da catedral com uma data de morte no século XVI. Ela tinha mais ou menos a mesma idade de seu antecessor no momento de sua morte, mas parece ter sofrido de hanseníase, uma doença desfigurante que provavelmente deixou marcas em sua pele, tecidos e ossos. Para refletir isso, Fleming adicionou uma lesão na pele abaixo do olho direito da mulher, que pode ter sido cegada pela infecção.
De acordo com a Biblioteca Nacional da Escócia, a hanseníase assolou a região de Edimburgo por vários séculos durante a Idade Média, levando à fundação de “hospitais e casas de leprosos” destinados a separar os infectados do resto da população. Embora as circunstâncias exatas da morte dessa mulher permaneçam incertas, ela foi uma das pelo menos cinco pessoas na catedral que sucumbiram à infecção bacteriana, escreveram arqueólogos em uma publicação de 2006.